Vejo os lobos comer
As ovelhas degoladas,
As vaccas mortas 
montadas
E os cordeiros gemer. 
CXLI. 
Naõ deve a terra tremer
Mas fundir se sem tardança,
Pois os que 
tem a governança
Os naõ querem defender. 
CXLII. 
Vejo o mundo em perigo,
Vejo gentes contra gentes;
Ja a terra naõ 
dá sementes,
Senaõ favacas por trigo. 
CXLIII. 
Ja naõ nenhum amigo,
Nenhum tem o ventre são,
Somos ja vento 
soão,
Que naõ tem nenhum abrigo. 
CXLIV. 
Vejo quarenta e um anno
Pelo correr do cometa,
Pelo ferir do 
planeta
Que domostraser grão damno. 
CXLV. 
Vejo um grande Rei humano
Alevantar sua bandeira,
Vejo como 
por peneira
A Grifa morrer no cano. 
CXLVI. 
Vejo o lobo faminto
Concertado c'os rafeiros:
Os pastores, e 
ovelheiros
Saõ de um consentimento.
CXLVII. 
Acho cá no instrumento,
Que virá um contador
Tomar conta ao 
pastor
E pagará um por cento. 
CXLVIII. 
Revolvi o meu canhenho
Sobre este forte barão,
Naõ lhe acho 
nenhum senão;
Dizer delle muito tenho. 
CXLIX. 
Vejo um alto engenho
Em uma roda tryunfante,
Vejo subir um 
Infante
No alto de todo o lenho. 
CL. 
Vejo erguer um grão Rei
Todo bem aventurado,
E será tão 
prosperado,
Que defenderá a grei. 
CLI. 
Este guardará a Lei
De todas as heregias,
Derrubará as fantezias,
Dos que guardão, o que não sei. 
CLII. 
Vejo sahir um fronteiro
Do Reino detrás da serra,
Desejoso de por 
guerra
Esforçado cavalleiro. 
CLIII. 
Este será o primeiro,
Que porá o seu pendão
Na cabeça do Dragão,
Derruba lo há por inteiro. 
CLIV.
Acho, que depois virá
Ás ovelhas um pastor
Mui manso, e bom 
guardador,
Que o fato reformará. 
CLV. 
Este pastor lhe dará
A comer herva mui sã,
E de suas ovelhas, e lã
Ao mesmo Deos vestirá. 
CLVI. 
Todos terão um amor,
Gentios como pagãos,
Os Judeos serão 
Christãos,
Sem jamais haver error. 
CLVII. 
Servirão um so Senhor
Jesu Christo, que nomeio,
Todos crerão, que 
ja veio
O Ungido Salvador. 
CLVIII. 
Tudo quanto aqui se diz,
Olhem bem as Profecias
De Daniel, e 
Jeremias,
Ponderem nas de raiz. 
CLIX. 
Acharão, que nestes dias
Serão grandes novidades,
Novas leis, e 
variedades,
Mil contendas, e porfias. 
TROVAS NUNCA IMPRESSAS. 
II. PARTE. 
SEGUNDO CORPO DE TROVAS DO BANDARRA. 
 
Estas Trovas naõ vem no antecedente Exemplar impresso, mas consta 
por antiga memoria muito authentica serem do mesmo Bandarra: forão
extrahidas de uma copia, que o Cardial Nuno da Cunha deu ao P. Fr. 
Francisco de Almeida. Provincial, que foi da Ordem dos Heremitas de 
Santo Agostinho, Provisor do Priorado do Crato, da Casa dos Condes 
de Avintes, e tio do Cardial D. Thomas de Almeida, primeiro 
Patriarcha de Lisboa. 
I. 
Levanteime muito cedo,
Puz me na minha tripeça,
E lá de lonje 
começa
Um bramido, que poem medo. 
II. 
Vão todos como forçados,
Passão serras, e mais montes.
Secão se 
rios e fontes,
Tudo por nossos pecados. 
III. 
Furo co'a minha sovéla
Meto seda meto fio:
Quando far a neve, e 
frio,
Naõ há quem possa soffrê la. 
IV. 
Vejo a terra dezerta,
E parades levantadas:
Vou dando quatro 
pancadas
Na sola, quando se aperta. 
V. 
Vejo a guerra na paz,
E muitos morrer no fosso:
Foje o cavallo, e o 
mosso
Depois que o soldado jaz. 
VI. 
Entre montes muito altos
Há uma casa sagrada:
Ja naõ quero ver 
mais nada,
E vou batendo os meus saltos. 
VII.
Arranha me o gato? sape:
Olho outra vez da ladeira,
Deita se o 
cordão á geira,
Não acho poronde escape. 
VIII. 
Com o trinchete aparo a sola
Furando com bróca a vira:
Isto he que 
meu gosto aspira
Pois vejo o jogo da bola. 
IX. 
Estão muitos páos armados
Que lá de longe se vem;
A quem naõ 
parecer bem,
Perca o officio, e meta os gados. 
X. 
Com o cerol encero o linho;
Puxo com torquez o couro;
Gasta se 
todo o thesouro
Pera abrir novo caminho. 
XI. 
Quando falho aos meus fregueses
Ficão descalços com magoa:
Naõ 
saõ os reaes pera a agua
Que se botarão nas rezes. 
XII. 
Vejo posta toda a gente
Trabalhando, sem comer:
Vejo os mortos a 
correr,
E os vivos jazer somente. 
XIII. 
Trabalha todo o sandeo,
E tambem o nobre serve;
Na certã a carne 
ferve
Pera Mouro, e Judeo. 
XIV. 
O pobre morrendo á mingua;
Outros tem a arca cheia;
Chove na 
praça, e na areia,
Como agua de seringa.
XV. 
Vou botando o meu remendo
Em quanto o Senhor se veste,
Uma 
terra assas agreste.
Estou entre serras vendo. 
XVI. 
Nove letras tem o nome
Duas saõ da mesma casta:
Olhe qualquer 
como o gasta
Pera naõ morrer de fome. 
XVII. 
Na era de dous, e tres
Depois e tres conta mais
Haverá couzas 
fataes,
Vistas em nenhuma vez. 
XVIII. 
Haverá tantos trabalhos,
Gritos, surras barregadas,
Porem ja sinto as 
pizadas
Lá pera a banda dos malhos. 
XIX. 
O povo suspira, e brama
Debaixo do seu chapeo;
Naõ se enxerga 
mais que o Ceo
Quando a neve se derrama. 
XX. 
Vejo por entre dous cabos
O couro que vou cozendo;
Ja após outros 
vou vendo
Muitos mareantes bravos. 
XXI. 
Ja na carreira primeira
Entra a bandeira Real,
Ah! Portugal! 
Portugal!
Ja lá vai tua canceira. 
XXII.
Dará a serpe tal Brado
Do ninho que jaz, e tem
Quando vir que 
outrem lhe vem
Tirar da vinha o cajado. 
XXIII. 
Deixa os filhos mui depressa,
E outrem lhos guarda, e cria;
Vai 
caminhando sem guia,
Larga a corrôa da cabeça. 
XXIV. 
Subo me a o meu eirado,
Já naõ sinto matinada,
Fica a terra 
socegada
O Encuberto declarado. 
XXV. 
Abre se a porta do Templo,
Entra o cordeiro fiel,
Veste da    
    
		
	
	
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