do Dr. Antonio Joaquim de 
Araujo. 
V. _A casa do Coração_. Impressa sobre um fundo lithographado, com 
o retrato de Anthero, e distribuida no Saráo da Liga das Artes 
Graphicas, no Porto, em honra do illustre morto. 
 
ORDEM PARA UMA EDIÇÃO DEFINITIVA DAS OBRAS 
POETICAS COMPLETAS DE ANTHERO 
I. _Raios de extincta Luz_ (1859 a 1863).
II. _Primaveras 
romanticas_ (1863 a 1865).
III. _Odes modernas_ (1865 a 1871).
IV. _Sonetos completos_ (1860 a 1884). 
I 
PALAVRAS ALADAS 
PALAVRAS ALADAS 
Raios de extincta luz, eccos perdidos
De voz que se sumiu no espaço 
absorta--
Meus cantos voarão de edade em edade,
Como folhas que 
ao longe o vento espalha. 
Não sabe a folha já mirrada e secca,
Que um sôpro do tufão levou 
revolta,
Que outro sopro talvez desfaça em breve--
Não sabe a triste 
o ramo onde nascera,
A seiva que a nutriu, quando inda bella,
O 
tronco que adornou com verde galla,
E onde entre irmãs folgou por 
tarde amena?
Soltos do tronco, sem calor, sem vida,
Filhos orphãos 
que um seio não aquece,
Um seio maternal ebrio de affectos,
Meus
cantos voarão de edade em edade,
Como folhas que ao longe o vento 
espalha. 
Mas se alguem, vendo a folha abandonada,
Lembrar e vir na mente o 
tempo antigo
Em que bella, vestindo pompa e gallas,
Brilhou rica 
de seiva e luz e vida;
Se na mente sonhar a pura essencia
Que 
animara esse pó ahi revolto;
Se corpo der á sombra fugitiva,
E a voz 
unir ao ecco, e o foco ao raio;
Se alguem souber do canto o sentir 
intimo,
Oh, esse ha de entender a vida, a crença
D'essa alma que 
animara outr'ora o canto. 
Se alguem tiver no peito a urna mystica
Onde o Amor se recolhe, esse 
hade amar-me;
Se livre, por tyrannos não comprado,
Pulsar um 
coração, esse commigo
Hade a aurora saudar do _novo dia_;
Se 
uma alma recordar a eterna patria
Que lhe dera o Senhor, do céo 
saudosa
Commigo a Deus n'um hymno hade elevar-se. 
Aos mais será mysterio o canto e a lyra,
Á Liberdade, a Amor e a 
Deus votada:
E já, soltos do tronco onde medraram,
Meus cantos 
voarão de edade em edade,
Como folhas que ao longe o vento 
espalha. 
Coimbra, Novembro, 1860. 
II 
LAÇO D'AMOR 
A poesia _As Estrellas_ appareceu pela primeira vez publicada na 
segunda parte da _Beatrice_ (p. 27 a 31), mas sem titulo, e com a 
epigraphe _Excelsior_. O poeta leu-m'a em 1861 com o titulo _As 
Estrellas_, como uma das suas melhores Odes. No manuscripto que 
possuo tem a data:--_Figueira, Setembro_--1860; não apresenta 
variantes apreciaveis da edição do 1863, por isso a não reproduzimos. 
_T. B._
LAÇO D'AMOR 
_Ao amigo Santos Valente enviando-lhe para o seu Album a poesia AS 
ESTRELLAS_ 
Que heide dar de melhor? Ai, n'estes tempos
De pobres affeições, de 
tibias crenças,
--Fonte que os sóes do estio tem seccado--
Aonde ha 
fé tam viva, que trasborde,
Enchendo um peito n'outro peito amigo?
Que esperanças cá da terra ha hi tam firmes,
Tam ricas de futuro, 
que dois sêres
Possam firmar-se n'ellas sem receio
E abandonar-se 
todo ao seu arrimo,
Qual braço de mulher em braço de homem?
E 
quem pode encontrar-se em egual via,
E ir, com norte egual, seguir 
seu rumo
Quando tantos caminhos vão cruzando
N'estes tempos o 
mundo do espirito?
Ah, n'este sec'lo, amigo, solitario
Cada qual 
segue triste a sua estrada,
Caminheiro de um dia, e silencioso,
Contando, como o avaro, os tristes restos
Das suas illusões, das suas 
crenças,
A si pergunta o que ficou de tudo;
Olha as bandas 
longiquas do horizonte
E de novo interroga, em desalento,
Se o 
futuro lhe guarda alguma esp'rança,
Se o abysmo é o termo da 
jornada?! 
Se lá de longe em longe alguma tenda,
Se uma fonte que ensombra 
alta palmeira.
Lhe alveja no deserto; se inda um pouco
Lhe repousa 
a cabeça afadigada,
Não faz, crente no Deus que o tem guiado,
A 
oração da noite, a acção de graças
E, antes que cerre as palpebras, 
medita... 
No repouso só busca o esquecimento:
Dorme o somno agitado de 
uma noite
Sob a tenda que o acaso lhe depara;
De manhã, sem levar 
uma saudade,
Sem as deixar tambem, eil-o seguindo
Do fatal 
peregrinar a longa via. 
Que lhe importa o passado ou o futuro?
P'ra dôr que soffre em si tudo 
é presente,
Aqui, ali, em toda a parte o punge...
Quem lhe dera 
esquecer, não recordar-se...
Orações? são incenso cujo aroma
É de lagrimas... e as d'elle se hão 
seccado!
Orgulhoso na dôr, da dôr o orgulho
Fal-o erguer solitario e 
silencioso,
Como se ergue o granito no deserto
Ermo, nú... se 
medita... e só comsigo. 
Assim vae cada qual seguindo o rumo
Que o accaso ou o fado lhe 
depara:
Quem se pode encontrar? que laço estreito
Ha que os aperte? 
Idéa ou sentimento 
Aonde em crença egual juntos 
communguem? 
........................................ 
Com tudo Deus existe! e nós, seus filhos, 
--Ingratos--se n'uma hora o olvidámos, 
Dentro temos a voz de eterno brado! 
Quem pode renegar seu pae? Nós somos 
Como esse Adão occulto no arvoredo 
Que não quer responder a _quem_ o chama: 
Porém se a voz do pae clamou tres vezes, 
Não pode resistir--«Eis-me presente.»-- 
Dissidentes no mais, Deus nos reune:
No impio, ou crente, em    
    
		
	
	
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