não provar a 
necessidade d'essas fórmas; e isto, mesmo que ellas sejam legitimas, só 
pode ser resultado de um maduro exame ou de uma polemica sincera. 
Antes d'isso os velhos eruditos, vendo offendida a inviolabilidade de 
um tropel de preceitos que julgavam imprescriptiveis, só darão ao 
genio nascente o sorriso do desprezo; e os mancebos poetas, a quem o 
sentimento incerto das opiniões contemporaneas dirige por estradas que
muitas vezes não conhecem, farão que as suas poesias corram 
brevemente parelhas com os desvarios que tem ultimamente manchado 
a mais bella das artes na França e na Inglaterra. 
Um curso de litteratura remediaria os clamnos que devemos temer, e 
serviria ao mesmo tempo de dar impulso ás letras. Em Portugal ainda 
ha homens cheios de vasta erudição, de philosophia e de genio. 
Tyrannias mais ou menos longas, mais ou menos crueis, os teem 
conservado na obscuridade de que devem saír, agora que se não receia 
a instrucção, agora que os resguarda a egide da lei. Nós não 
desejariamos, porém, que uma tal obra fosse puramente orgão d'esta ou 
d'aquella eschola; d'este ou d'aquelle partido. Convem que os principios 
oppostos sejam examinados de boa fé e sem acrimonia: a intolerancia 
em idéas politicas ou religiosas é odiosa; em materias scientificas é 
ridicula. Se coubesse nas nossas diminutas forças um trabalho de tanta 
magnitude, nós começariamos por discutir qual é o objecto da poesia, e 
d'esta questão nos parece que já se tirariam importantes resultados, e 
que as duas caracteristicas--o icastico e o ideal--que distinguem as 
tendencias do antigo e do novo systema, surgiriam d'ella para nos 
servirem depois na resolução de varios problemas que se nos 
apresentariam na serie das nossas indagações. O exame das differentes 
theorias sobre o bello e o sublime, e as consequencias, objecto 
immediato a que nos conduziriam os primeiros raciocinios, dariam em 
resultado os principios necessarios e universaes de todas as poeticas, e 
consequentemente aquelles sobre que deveriamos emittir uma opinião 
absoluta e exclusiva: no resto respeitariamos as opiniões de cada povo, 
de cada epocha, em tudo aquillo em que ellas se não oppusessem aos 
principios geraes. Indagando a historia da poesia nos diversos tempos e 
nações, vê-la-íamos depois da queda da bella litteratura greco-latina, 
surgindo do norte com um sublime de melancholia e mesmo de 
ferocidade, proprio dos povos que a inventaram: veriamos esta poesia 
fundida com os restos da romana, e posteriormente com a arabe, 
produzir as diversas especies do romantico, d'essa poesia variada e 
verdadeiramente nacional, na França e nas duas peninsulas, e termo 
medio entre a bella symetria classica e o sublime gigantesco do 
septentrião: achariamos essa originalidade nascente da litteratura da 
meia-edade destruida quasi no resurgimento das letras, e substituida por
theorias antigas, que, conservando sempre o mesmo nome, foram sendo 
enxertadas em idéas, em preceitos modernos: encontrariamos, 
finalmente, o espirito de liberdade e de nacionalidade da actual 
litteratura. O quadro das novas opiniões nas suas variedades todas, as 
vantagens ou damnos resultantes de cada uma comparada com os 
elementos universaes da arte, nos poria em estado de formar um corpo 
de doutrina que determinasse as proporções essenciaes da futura poesia 
portuguesa, completando ao mesmo tempo uma serie de juizos 
imparciaes sobre as producções das differentes eras e das differentes 
escholas, em relação ao seu genio particular, e á philosophia geral das 
letras. 
Todos sabem que os antigos dividiam a eloquencia em tres generos, 
que muitas vezes se confundem: um destinado ao elogio ou á invectiva; 
outro a fazer condemnar ou a absolver, a invocar a lei a favor do 
innocente, a invocá-la contra o criminoso; outro, emfim, destinado a 
ventilar os grandes interesses das nações nos congressos ou na tribuna 
popular. Foi a estas três classes que elles reduziram a oratoria, divisão 
que ainda hoje se conserva e que, apesar da sua arbitrariedade, nós 
respeitaremos em nossas reflexões. Em Portugal, onde a representação 
nacional não existia, onde os tribunaes eram fechados ás defesas oraes 
e aos juizos publicos, e a arte de defender e accusar consistia 
geralmente em conhecer os meios de oppor entre si a nossa ora 
mesquinha, ora contradictoria, ora obscura legislação, e numa dialectica 
as mais das vezes pueril, tanto o genero deliberativo como o judiciario 
não tinham quasi applicação: ficava sómente a eloquencia dos 
panegyricos para o orador profano, e uma mistura de todos os tres 
generos para o orador sagrado; mas em nenhuma das duas classes 
temos de que nos gloriar neste seculo. Por uma parte elogios de 
encommenda ou feitos com miras de interesse pessoal não podiam sair 
da bocca do orador acompanhados das inspirações do enthusiasmo; e 
sem convicção e persuasão propria não se póde convencer nem 
persuadir os outros: por outro lado a eloquencia sagrada nunca pôde 
preencher inteiramente o fim da arte, uma vez que não divague do seu 
objecto--a moral religiosa. O fim    
    
		
	
	
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