Formoza Alegrete,
Que depois de erguida a meza,
Ficavas 
co'as velhas Aias
De mágicos filtros prêza; 
Quando eu a teus pés contava,
Mentirozo historiador,
Ora a do 
Caixão de vidro,
Ora a das Cidras do amor; 
Quando os mesmos tenros annos
A tua Filha contar,
Todos os dias 
virei
Meu officio exercitar, 
E em tanto, a pezar do tempo,
Que a fronte me vai gelando,
Com a 
rouca Lyra ás costas
Pelo Parnazo trepando: 
Vou sentar-me entre os Loireiros,
Que réga Castalia fria;
Onde 
revôam em bandos
Os genios da Poezia; 
E co'a testa descuberta
A' viração bemfeitora,
Traçarei mais dignos 
versos
Do que estes, que ouvis agora; 
Com tempo os irei fazendo;
O Deos também me fez ver,
Que sobre 
este mesmo assumpto
Tenho muito que escrever. 
_Na occazião em que o A. hia ver o Varatojo_. 
Meu Amigo, duro Amigo,
Fatal, rígido Banqueiro,
Motivo dos 
meus pezares,
Herdeiro do meu dinheiro;
Em taes termos me deixaste,
Que sou deste rancho o nôjo;
E co'as 
lagrimas nos olhos
Parto para o Varatojo; 
Por ti filho da pobreza,
Irei ser naquelle mato,
Qual foi São 
Sebastião,
Não na vida, mas no fato; 
Vai tu seguindo a fortuna,
E leva a bandeira alçada,
De tarde na 
laranginha,
A' noite na Arrenegada; 
Até que voltando a roda,
Mande teu fado inimigo,
Que deixes 
crescer as barbas,
E venhas viver comigo: 
Vem, e traze o teu baralho,
Ministro dos meus destroços;
Farei do 
vicio virtude,
Apontando a Padres nossos; 
Vem viver entre altas brenhas;
Vem curtir as minhas dores;
Traze o 
pranto dos Parentes,
Traze as pragas dos Crédores. 
Não falla vão Agoureiro,
De cujas palavras rias;
Meus trabalhos me 
fizerão
Mestre nestas profecias. 
Não te fies em ventura;
Quem joga, tem o meu fim;
Outrem te dará 
os gostos,
Que tu me tens dado a mim. 
_Resposta a huma Carta, que em boa Poezia citava o A. por huns 
Versos, que tinha promettido_. 
A tua polida Carta,
Que honrou hum Poeta razo,
Escrita em pura 
linguagem,
E assignada no Parnazo; 
Da mais injusta ambição
Traz testemunhos fieis;
Possues grossos 
thezoiros,
E citas-me por dez reis? 
Quem do doce Anacreonte
Bebeo o estilo divino,
Quer prostituir 
seus olhos
Co'as Trovas do Tolentino?
Pago, em fim, divida louca;
Mas quem quer pontualidade,
Cuide 
tambem em pagar
As dividas da Amizade; 
Sabes que intento imprimir;
E porque o Povo não fuja,
Sabio 
Amigo, emenda, risca,
Põe sabão na roupa suja; 
Não te vendo falso íncenso;
Es Juiz da Confraria;
Oxalá que altos 
negocios
Se tratassem em Poezia; 
A Paz, a fugida Paz,
Voltára seu alvo cóllo;
E dera brandos ouvidos
A' branda Lyra de Apollo; 
Reziste humana cabeça
A' mais discreta razão;
Mas ao poder da 
harmonia
Não reziste o coração: 
Faze, pois, o que eu te peço;
Que inda que ha vótos diversos,
Se lhe 
pões a tua lima,
Quem morderá nos meus Versos? 
Dá-lhe, depois, teus louvores;
Comprará toda Lisboa,
Se huma vez 
te ouvir dizer =
Que comprem, que a Obra he boa; 
Farta-me a bolsa; e se queres
Ver tambem minha alma farta,
Manda 
riquezas de Athenas
Embrulhadas n'outra Carta. 
_Offerecendo hum Perum em caza, aonde todos os Domingos davão ao 
A. este prato_. 
Senhora, tambem hum dia
Entrarei co'a frente erguida;
Não serei na 
vossa meza
Dependente toda a vida; 
Nem sempre abatido pejo
Dirá nesta cara feia
Quanto doe a hum 
peito altivo
Matar fome em caza alheia; 
Airozo, gordo Perum,
He meu soberbo prezente;
Traz inda as 
pennas molhadas
Co'pranto da minha gente;
No Santo Dia esperavão,
Quebrando antigo jejum,
Cravar 
inexpertos dentes
Neste primeiro Perum; 
A russa, magra Jozefa,[3]
Ergueo queixume sentido;
Custou-lhe 
mais esta auzencia,
Que a do defunto Marido. 
[Nota de rodapé 3: Creada.] 
O loiro, alvar galleguinho
Chegou aos olhos seu trapo;
Tinha vistas 
sobre a carne,
E muitas mais sobre o papo. 
Seu almôço requerendo
Em luzindo a madrugada,
Na esquerda, 
grossa fatia
D'ambas as partes barrada; 
Na dextra, com branda cana
O seu pupîlo guiava;
Em tenras, 
públicas malvas,
Para si o apascentava; 
Quando lhe mandei trazer-vos
O bom companheiro seu,
Pedindo-me côxos mezes,
Me disse, que o trouxesse eu. 
Eu o trago; a offerta he pura,
Mas a tenção a envenena;
Traz 
escondida huma uzura,
Maior, que a da meia sena.[4] 
[Nota de rodapé 4: Partido de jogo.] 
Com hum sorrizo acceitai
O atraiçoado convite;
Vem a morrer 
huma vez,
Porque muitas resuscite. 
Curai todos os Domingos
A minha doença interna;
Sobre a meza 
milagroza
Seja esta ave, huma ave eterna; 
De outra, que finge a Poezia,
Trocai em verdade a pêta;
E seja hum 
negro Perum
A Fenis deste Poeta; 
Na ondada, pia toalha,
Co'a benção da vossa mão
Seus frios, 
despidos ossos,
De carne se cubriráõ;
Consenti, que este ouco peito
Ao prodígio se consagre;
E que 
dentro em si colloque
A mór parte do milagre; 
Quanto ao Padre Prégador,[5]
Meu voto he não convidallo;
Porque 
ha de comer o assumpto,
Muito melhor que prégallo. 
[Nota de rodapé 5: Capellão da Caza.] 
A huma Preta, que pertendia que a obsequiassem. 
Domingas, debalde queres,
Nesse canto da Cozinha,
Vencer a 
invencivel teima
Da rebelde carapinha; 
Em vão te arripia a frente,
De que zomba o Deos de Amor,
Alvo 
côto de pomada,
Furtado do Toucador; 
Debalde tufado laço
De atadeira fitta Ingleza
Te assombra a lêveda 
pôpa,
Rissada por natureza. 
Debalde altêas as ancas,
Esguias, e enganadoras,
Co'as velhas 
algibeirinhas,
Que vão deixando as Senhoras, 
Amor, fingindo dotar-te,
Te poz, com traidora mão,
Junto dos 
dentes de neve,
Faces tintas de carvão; 
Inda que ancião pezado,
Desprézo teus vãos intentos;
Debaixo de 
murchas cans
Nutro altivos pensamentos. 
Vejo a quebrada madeixa
Já tornada em gêlo frio;
Tudo o tempo me 
levou,
Mas não me    
    
		
	
	
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