outras flores. 
Ah soccorre, Amor, soccorre
Ao mais grato empenho meu!
Vôa 
sobre os Astros, vôa,
Traze-me as tintas do Ceo. 
Mas não se esmoreça logo;
Busquemos hum pouco mais;
Nos 
mares talvez se encontrem
Cores que sejão iguaes.
Porém não, que 
em parallelo
Da minha Ninfa adorada
Perolas não valem nada,
Não valem nada os coraes. 
Ah soccorre, Amor, soccorre
Ao mais grato empenho meu!
Vôa
sobre os Astros, vôa,
Traze-me as tintas do Ceo. 
Só no Ceo achar se podem
Taes bellezas, como aquellas,
Que 
Marilia tem nos olhos,
E que tem nas faces bellas.
Mas ás faces 
graciosas,
Aos negros olhos, que matão,
Não imitão, não retratão
Nem Auroras, nem Estrellas. 
Ah soccorre, Amor, soccorre
Ao mais grato empenho meu!
Vôa 
sobre os Astros, vôa,
Traz-me as tintas do Ceo. 
Entremos, Amor, entremos,
Entremos na mesma Esfera.
Venha 
Pallas, Venha Juno,
Venha a Deosa de Cithera.
Porém não, que se 
Marilia
No certame antigo entrasse,
Bem que a Paris não peitasse,
A todas as tres vencera. 
Vai-te, Amor, em vão soccorres
Ao mais grato empenho meu:
Para 
formar-lhe o retrato
Não bastão tintas do Ceo. 
LYRA VIII. 
Marilia, de que te queixas?
De que te roube Dirceo
O sincero 
coração?
Não te deo tambem o seu?
E tu, Marilia, primeiro
Não 
lhe lançaste o grilhão? 
Todos amão: só Marilia
Desta Lei da Natureza
Queria ter izenção? 
Em torno das castas pombas
Não rulão ternos pombinhos?
E rulão, 
Marilia, em vão?
Não se afagão c'os biquinhos?
E a provas de mais 
ternura
Não os arrasta a paixão? 
Todos amão: só Marilia
Desta Lei da Natureza
Queria, ter izenção? 
Já viste, minha Marilia,
Avezinhas, que não fação
Os seus ninhos 
no verão?
Aquellas com quem se enlação
Não vão cantar-lhe 
defronte
Do molle pouzo em que estão?
Todos amão: só Marilia
Desta Lei da Natureza
Queria ter izenção? 
Se os peixes, Marilia, gerão
Nos bravos mares, e rios,
Tudo effeitos 
de Amor são.
Amão os brutos impios,
A serpente venenosa,
A 
Onça, o Tigre, o Leão. 
Todos amão: só Marilia
Desta Lei da Natureza
Queria ter izenção? 
As grandes Deosas do Ceo,
Sentem a setta tyranna
Da amorosa 
inclinação.
Diana, com ser Diana,
Não se abrasa, não suspira
Pelo 
amor de Endymão? 
Todos amão: só Marilia
Desta Lei da Natureza
Queria ter izençao? 
Desiste, Marilia bella,
De huma queixa sustentada
Só na altiva 
opinião.
Esta chamma he inspirada
Pelo Ceo; pois nella assenta
A 
nossa conservação. 
Todos amão: só Marilia
Desta Lei da Natureza
Não deve ter 
izenção. 
LYRA IX. 
Eu sou, gentil Marilia, eu sou captivo,
Porém não me venceo a mão 
armada 
De ferro, e de furor:
Huma alma sobre todas elevada
Não cede a 
outra força que não seja 
Á tenra mão de Amor. 
Arrastem pois os outros muito embora
Cadêas nas bigornas 
trabalhadas 
Com pezados martellos:
Eu tenho as minhas mãos ao carro atadas
Com duros ferros não, com fios d'ouro,
Que são os teus cabellos. 
Occulto nos teus meigos vivos olhos
Cupido a tudo faz tyranna 
guerra: 
Sacode a setta ardente;
E sendo despedida cá da terra,
As nuvens 
rompe, chega ao alto Impirio, 
E chega ainda quente. 
As abelhas nas azas suspendidas
Tirão, Marilia, os succos saborosos 
Das orvalhadas flores:
Pendentes dos teus beiços graciosos
Ambrosias chupão, chupão mil feitiços 
Nunca fartos Amores. 
O vento quando parte em largas fitas
As folhas, que menêa com 
brandura; 
A fonte crystallina,
Que sobre as pedras cáe de immensa altura;
Não fórma hum som tão doce, como fórma 
A tua voz divina. 
Em torno dos teus peitos, que palpitão;
Exalão mil suspiros 
desvelados 
Enchames de desejos;
Se encontrão os teus olhos descuidados,
Por 
mais que se atropelem, voão, chegão, 
E dão furtivos beijos. 
O Cisne, quando corta o manso lago,
Erguendo as brancas azas, e o 
pescoço; 
A Náo que ao longe passa,
Quando o vento lhe infuna o panno grosso;
O teu garbo não tem, minha Marilia, 
Não tem a tua graça. 
Estimem pois os mais a liberdade:
Eu prézo o captiveiro: sim, nem 
chamo 
Á mão de Amor impia:
Honro a virtude, e os teus dotes amo:
Tambem o grande Achilles veste a saia 
Tambem Alcides fia. 
LYRA X. 
Se existe hum peito,
Que izento viva
Da chamma activa,
Que 
accende Amor. 
Ah! não habite
Neste montado;
Fuja apressado
Do vil traidor. 
Corra, que o Impio
Aqui se esconde:
Não sei aonde;
Mas sei o 
que vi. 
Traz novas settas,
Arco robusto;
Tremi de susto;
Em vão fugi. 
Eu vou mostrar-vos,
Tristes mortaes,
Quantos signaes
O Impio 
tem. 
Oh! como he justo,
Que todo o humano
Hum tal tyranno
Conheça 
bem! 
No corpo ainda
Menino existe:
Mas quem resiste
Ao braço seu? 
Ao negro Inferno
Levou a guerra:
Vencêo a terra,
Vencêo o Ceo. 
Já mais se cobrem
Seus membros bellos;
E os seus cabellos
Que 
lindos são!
Vendados olhos,
Que tudo alcanção,
E já mais lanção
A setta em 
vão. 
As suas faces
São côr da neve;
E a bocca breve
Só rizos tem. 
Mas, ah! respira
Negros venenos,
Que nem ao menos
Os olhos 
vem. 
Aljava grande
Dependurada,
Sempre atacada
De bons farpões. 
Fere com estas
Agudas lanças,
Pombinhas mansas,
Bravos leões. 
Se a setta falta
Tem outra prompta,
Que a dura ponta
Já mais 
torcêo. 
Ninguem resiste
Aos golpes della:
Marilia bella
Foi quem lha 
dêo. 
Ah! não sustente
Dura peleija,
O que deseja
Ser vencedor. 
Fuja, e não olhe,
Que só fugindo
De hum rosto lindo,
Se vence 
Amor. 
LYRA XI. 
Naõ toques, minha Musa, não, não toques 
Na sonorosa Lyra,
Que ás almas, como a minha, namoradas 
Doces Canções inspira:
Assopra no clarim, que apenas sôa 
Enche de assombro a terra;
Naquelle, a cujo som cantou Homero, 
Cantou Virgilio a Guerra. 
Busquemos, ó Musa,
Empreza maior;
Deixemos as ternas
Fadigas 
de Amor.
Eu    
    
		
	
	
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