offrece?
A terna, ausente Amada me apparece,
Em Ceo de Amores 
eclipsando as Graças. 
Ante a doce Visão, com que me enlaças,
(Já murcho, estéril já) meu 
ser florece;
Mas súbito Fantasma eis desvanece
Chusma de 
encantos, que em teu sonho abraças. 
Croado de Cypreste o Desengano,
O meu nada me agoira... ó dor! 
mais forte
Do que em seu gráo supremo o esforço humano!
Chorai, Piedade, e Amor, tão triste sorte,
Chorai: longe de Anália 
expira Elmano;
Os que a Ternura unio desune a Morte. 
+SONETO VI.+ 
Dura Filosofia audaz forceja
Por dar-me essencia nova ao 
pensamento;
De bronze diz que forre o soffrimento,
E em brazas, 
como em flores, manso esteja: 
Diz, que, ó Leis de Zenôn [21], por vós me reja;
Que sabe do alto 
Systema alto Portento:
«Os orgãos vivem, morre o sentimento,
«E 
mudo, e frio, o coração caleja.» 
Mas ah! Mais sabio que Zenôn o Eterno,
Fonte ás lágrimds deo, deo 
fonte ao riso:
Co'a Lei das sensações meu ser govérno. 
Se eu folgasse entre o mal que em mim diviso,
Na mente ousára unir 
o horror do Inférno
Aos Sóes, de que se esmalta o Paraiso. 
[21] Discipulo de Crates, e Fundador do Estoicismso, ou Seita dos 
Estóicos. Quando o Homem crê visinhar com o seu Nada, (o Nada 
Universal) as sombras, em que o envolvem, o abafão as suas paixões, 
se rarefazem, e esvaecem aos lumes da Justiça, e do Desengano: ou já 
lhe bróte sobrenaturalmente n'alma este fenómeno, ou já porque, 
evaporado o amor proprio, attente mais nos outros que em si. Eu, talvez 
nesse estado, ou não longe delle, confesso ingenuamente, que, pela 
suavidade, e apuro do métro (nas composições lavradas com mais 
desvélo, e mais gosto) pelas flores, pelos esmaltes Poéticos de que as 
ameniza, e formosêa, (em especial as Báchicas) Belmiro está mui 
sobranceiro aos Engenhos vulgares. A Razão me pede, que lhe honre o 
mêrito; e o Coração, que lhe releve a, talvez, injustiça, com que 
trabalhou remover-me de hum gráo, havido da Voz pública. 
+SONETO VII.+ 
Agora que a seu lôbrego Retiro
Como que a baça Morte me 
encaminha,
E o coração, que as ancias lhe adivinha,
Débil se ensaia
no final suspiro: 
Musa de Elmano, e Musa de Belmiro,
Una-se a gloria sua á gloria 
minha:
Meu nome aguarentou com voz mesquinha,
Eu justo ao seu 
não fui, e a sê-lo aspiro. 
Nem tu me esquecerás, Gastão cadente [22],
Lustroso apar do mim, 
quando de chófre
Igneas canções brotei, c'um Deos na mente. 
Abri, Verdade, abri teu áureo cófre:
Isto Elmano extrahio co'a mão 
tremente
No sério ponto que illusões não sóffre. 
[22] Se a locução, a fantasia, e o rhythmo caracterizão a mente Poética, 
aponto D. Gastão Coutinho como dorade com estes thesoiros do 
Espirito. Não sôa, como devêra, (e altamente) o louvor de Thomas 
Antonio dos Santos, e Silva nos meus talvez ultimos versos, porque em 
outros, de monção mais Febéa, e já divulgados, lhe teci elogios, em que 
a fraterna amizade, que de muito nos liga, nada proferio avêsso á 
justiça, e ao tom circunspecto do Discernimento. 
+SONETO VIII.+ 
Não mais, ó Tejo meu, formoso, e brando,
Á márgem, fértil de gentis 
verdores,
Terás d'alta Ulysséa hum dos Cantores,
[23] Suspiros no 
áureo metro modulando. 
Rindo não mais verá, não mais brincando
Por entre as Nynfas, e por 
entre as Flores
O Côro divinal dos nús Amores,
Dos Zéfyros azues 
o affavel Bando. 
Co'a fronte já sem myrto, e já sem loiro,
O arrebata de rôjo a mão da 
Sórte
Ao Clima salutar, e á márgem de oiro. 
Ei-lo em Fragas de horror, sem luz, sem nórte;
Sôa daqui, dalli piado 
Agoiro:
Sois vós, Desterro etérno, Ermos da Mórte! 
[23] _Carmina Pastoris Siculi modulabor avenâ._
Virgil. Eclog. 10. 
+SONETO IX.+ 
Nestóreos Dias, que sonhava Elmano,
Brilhantes de almos gostos, de 
aurea Sorte,
Pomposa Fantasia, audaz Transporte,
As azas cerceai 
do Orgulho insano. 
Plano de hum Numen contradiz meu plano,
E quer que se esvaeça, e 
quer que abórte:
Eis, eis palpita, precursor da Mórte,
No túmido 
aneurisma o Desengano. 
A Deos, ó Génios que Ulysséa admira:
(Cantor, que honrastes, 
honrareis, Cantores)
Versos, prantos lhe dai, que Elmano expira. 
Deixai-lhe a cinza em paz, fataes Amores;
E vós, do extincto Vate a 
Campa, e Lyra,
[24] Virtudes, que exaltou, cobri de flores. 
[24] Beneficencia, e Piedade, celebradas no Epicedio ao Marquez 
d'Angeja. 
_Ao Senhor Nuno Alvares Pereira Moniz._ 
+SONETO X.+ 
Co'a mente juvenil, sublime, alada
Sabes da térrea Mansão, Mansão 
profana;
Introduzes, Moniz, a idéa ufana
Lá na de Sóes sem conto 
Estancia ornada. 
Já, de Lysia cantando a Historia honrada,
Sôas qual Grega Musa, ou 
qual Romana;
Já, medrando nos Céos a força humana,
Teu Metro 
creador faz Ente o Nada. 
Nove Deosas louçãas, tres Deosas nuas
Te abrem thesoiros: cada qual 
te admira
No verso graças mil, que fôrão suas. 
Assás luzio teu Estro: a mais aspira;
E estranho não será que
substituas
A tuba de Marão de Flacco á Lyra. 
Quero (se meus dias findarem) deixar huma prova do muito em que 
tive, do muito que merecem os talentos de hum dos meus mais caros 
Amigos. 
_Ao súbito desastre de hum Poeta amado    
    
		
	
	
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