sol, sem o cansa?o do andar, imaginava-se passeando; n?o conhecia da floresta, da fresca verdura da primavera, sen?o o ramo de faia, que uma vez o filho do visinho tinha colhido para elle. Suspendia por cima da cabe?a o ramo verdejante, e, suppondo-se debaixo das arvores abrigadas do sol, sonhava com o doce canto dos passarinhos. Um dia o filho do visinho trouxe-lhe flores do campo, e por acaso entre ellas appareceu uma que tinha ainda raizes; o pequerrucho plantou-a n'um vaso, e pol-o á janella, junto da cama. A flor plantada por m?o aben?oada, cresceu, tornou-se grande, e todos os annos dava novas flores. Era o seu jardimzinho, o seu unico thesouro n'este mundo; regava-a, tratava-a, adorava-a; fazia-lhe aproveitar os raios do sol até ao ultimo. A flor apparecia-lhe em sonhos, porque era para elle que floria, que espalhava o seu aroma e ostentava as suas c?res; quando se sentiu morrer foi para ella que se voltou.
?Faz hoje um anno que esse pequerrucho habita no paraiso; a sua querida flor, esquecida á janella desde ent?o, murchou, estiolou-se e atiraram-n'a à rua finalmente. E comtudo esta flor quasi secca é o thesouro do nosso ramilhete. Deu mais prazer e alegria do que todos os canteiros d'um jardim realengo.?
?Como sabes tu isso?? perguntou a crean?a, que o anjo levava para o céo.
--Sei-o, respondeu o anjo, porque era eu o pequenino doente que andava em moletas; como n?o havia de eu reconhecer a minha flor bem amada!?
A crean?a abriu os olhos, e viu a radiosa figura do anjo quando entravam no céo onde tudo era alegria e felicidade. Deus pegou nas flores, levou-as ao cora??o, mas a que elle beijou foi a florinha silvestre, despresada e murcha: a flor adquiriu voz immediatamente, poz-se a cantar com as almas que rodeiam o Creador, umas junto d'elle, outras ao longe, formando circulos que v?o augmentando successivamente, multiplicando-se até ao infinito, povoados de seres inteiramente felizes, cantando todos harmoniosamente--desde a crean?a aben?oada até á humilde florinha do campo, levantada do lodo, d'entre os tristes despojos da rua sombria e tortuosa.
*Ppresente por presente*
Um grande fidalgo, que se tinha perdido n'uma floresta, foi dar de noite á choupana d'um pobre carvoeiro. Como este ainda n?o tinha chegado, foi a mulher que recebeu o importante personagem. Acolheu-o o melhor que p?de, desculpando-se da miseravel hospitalidade que lhe ia dar, porque eram batatas cosidas a unica cousa que lhe poderia offerecer; cama n?o a tinha, por conseguinte dormiria sobre a palha. Mas o estrangeiro estava morto de fome e de fadiga; as batatas souberam-lhe mais do que fais?es, e dormiu melhor em cima da palha do que n'um leito de principes. Ao outro dia pela manh? disse isto mesmo á pobre mulher, gratificando-a ao despedir-se com uma moeda de ouro. Mas, como o desconhecido lhe tinha dito que a guardasse como uma pequena lembran?a, a boa camponeza julgou que seria uma medalha, e sentiu que n?o tivesse um buraquito para a trazer ao pesco?o. Quando o carvoeiro chegou a casa, contou-lhe logo o que lhe tinha acontecido, mostrando-lhe a moeda preciosa. O carvoeiro examinou os cunhos e o valor da moeda d'ouro, e disse para a mulher:
?Esse forasteiro era nada mais nada menos do que o nosso principe!
E o bom do homem n?o podia conter-se de alegria, por sua alteza ter achado as suas batatas melhores do que fais?es.
?é necessário confessar, disse elle com um ar triumphante, que n?o ha talvez no mundo um terreno mais favoravel do que este para a cultura das batatas; hei de lhe levar um cesto d'ellas, já que as acha t?o boas.
E partiu immediatamente para o palacio com uma provis?o de batatas escolhidas.
Os lacaios e as sentinellas ao principio n?o o queriam deixar entrar; mas insistiu energicamente, dizendo que n?o vinha pedir nada, e que pelo contrario vinha trazer alguma cousa.
Foi, pois, introduzido na sala da audiencia.
?Meu senhor, disse elle ao principe: Vossa alteza dignou-se recentemente pedir hospitalidade a minha mulher, e dar-lhe uma pe?a de ouro, em troca d'uma enxerga miseravel e d'um prato de batatas cosidas. Era pagar demasiadamente, apesar de serdes um principe muito rico e poderoso. Eis o motivo porque eu venho trazer ainda a vossa alteza um cestito das batatas, que vos souberam melhor do que os vossos fais?es. Dignae-vos acceital-as, e, se nos fizerdes de novo a honra de ser nosso hospede, lá as encontrareis sempre ao vosso dispor.?
A honrada simplicidade do camponez agradou ao principe, e, como estava n'um momento de bom humor, fez-lhe doa??o de uma quinta com trinta geiras de terra.
Ora o carvoeiro tinha um irm?o muito rico, mas invejoso e avarento, que, sabendo da fortuna do irm?o mais novo, disse comsigo: ?Porque n?o me ha de succeder a mim outro tanto? O principe gosta do meu cavallo, pelo qual lhe pedi sessenta libras,

Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.