não ha hoje systematisador que a não 
adopte como a mais segura das chaves para a coordenação das ideias. 
Emquanto á applicação d'este principio á educação diz Spencer: 
«Que na educação se deve proceder do simples para o composto é uma 
verdade sobre a qual em certa medida todos se fundam. O espirito 
desenvolve-se. Como todas as coisas que se desenvolvem, elle progride 
do homogeneo para o heterogeneo; e como um systema normal de 
educação é a contraposição objectiva d'essa marcha subjectiva, deve 
conter a mesma progressão. Esta formula assim interpretada tem um 
alcance muito maior do que á primeira vista parece; porque o seu 
principio implica não sómente que temos de proceder do simples para o 
composto no ensino de cada um dos ramos da sciencia, mas que outro 
tanto devemos fazer com relação ao conhecimento total. Como o 
espirito não começa por dispôr senão d'um pequeno numero de 
faculdades activas, e que as faculdades desenvolvidas mais tarde 
entram successivamente em acção até chegarem a funccionar todas 
simultaneamente, segue-se que o ensino não deve abraçar primeiro 
senão um pequeno numero d'objectos, successivamente accrescentados 
até que se comprehendam todos. Não é sómente na especialidade que a 
educação deve proceder do simples para o composto, é tambem no 
conjuncto.» 
Em seguida Spencer accrescenta, de accordo com todos os pedagogos 
modernos, que a educação da creança deve concordar no modo 
adoptado e na ordem seguida com a educação da humanidade
considerada historicamente. A genese da sciencia no individuo não 
póde seguir uma marcha differente da genese da sciencia na raça. E 
n'este ponto Spencer invoca o nome de Comte e curva-se 
respeitosamente deante d'elle, porque a ordem positivista dos estudos 
corresponde exactamente á evolução dos conhecimentos na 
humanidade, a qual principiou por investigar os factos cosmologicos e 
inorganicos mui longo tempo antes de attender ás leis biographicas e á 
vida historica da especie. 
Vejamos agora á luz d'estes principios como os pedagogos de vossa 
alteza regularam a distribuição dos conhecimentos que foram 
incumbidos de ministrar-lhe. 
Sua alteza--diz a informação que analysamos--_começou pelo estudo 
aprofundado da philosophia_. 
Esta simples proposição inicial basta pelo seu profundo alcance 
pathologico para sobre ella se diagnosticar a inepcia verdadeiramente 
tragica que presidiu á educação intellectual de vossa alteza. 
Principiar pela philosophia!! 
Mas a philosophia é precisamente a ultima das coisas que se ensinaria a 
um homem, se a philosophia fosse coisa que se impuzesse a alguem 
pelo dogmatismo dos mestres. 
O que é uma philosophia senão um systema de leis, deduzidas pelo 
espirito de cada um da confrontação das causas e dos effeitos dos 
phenomenos physicos e dos phenomenos moraes, e destinadas a 
fazer-nos prever, á mais longa distancia da nossa comprehensão pessoal, 
o destino do homem no gremio da sociedade e no seio da natureza? 
Como é pois que alguem emprehende crear um philosopho de um 
menino de instrucção primaria, fazendo-o systematisar pelas altas e 
subtis correlações de causa e effeito um conjuncto de phenomenos, que 
elle nem sequer conhece na sua funccionalidade concreta, quanto mais 
na abstracção psychologica de fim e de origem?
O principio fundamental de todo o systema de educação e de ensino 
é--como já vimos--que, sempre e invariavelmente, se proceda dos 
factos particulares para as leis geraes e das leis geraes para as leis de 
applicação. 
Como é então que a vossa alteza ensinaram leis de applicação sem o 
conhecimento previo das leis geraes e sem o conhecimento anterior dos 
factos particulares? 
Que especie de philosophia é esta que vossa alteza aprendeu, tão 
extranhamente e tão miraculosamente como poderia ter aprendido a 
leitura sem o conhecimento das letras ou a arithmetica sem a noção dos 
numeros?... 
É a instauratio magna de Baccon? É o scepticismo systematico de 
Descartes? É o metaphysismo de Hobbes e de Leibnitz? É o deismo de 
Locke ou o de Voltaire? É o sensualismo de Spinosa ou o de Condillac? 
É o scepticismo de Berkeley? É o materialismo de Holbach ou de La 
Mettrie? É o encyclopedismo de Condorcet? É o sentimentalismo de 
Rousseau? É o idealismo de Kant e de Hégel? É o pessimismo de 
Hartmann e de Schopenhauer? É o eclectismo do snr Cousin? É o 
revolucionismo de Proudhon? É o objectivismo de Stuart Mill e de 
Herbert Spencer? É o evolucionismo de Darwin? É o positivismo de 
Comte ou de Littré? 
A informação que tão opportunamente baixou da aula de vossa alteza á 
redacção do Diario de Portugal arranca o nosso espirito perplexo a esta 
cruel duvida. 
Diz-nos esse papel precioso que a philosophia que vossa alteza 
aprendeu é a philosophia racional e moral. 
Ora, como vossa alteza talvez sabe, todo o termo affirmativo implica a 
negação de um termo contrario. Assim quem diz uma philosophia 
objectiva ou uma philosophia materialista, dá a perceber d'esse modo 
que ha uma philosophia subjectiva e uma philosophia espiritualista, 
mas que    
    
		
	
	
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