A estrada da noite | Page 2

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Era mó rbido. De um modo indireto, aliás, a fita
ajudara a apressar o fim do seu casamento. Mas ainda não a jogara fora.
Muitos objetos de sua coleção particular do grotesc o e do bizarro eram presentes
enviados pelos fãs. Na realidade era raro ele próprio comprar alguma coisa para a coleção. Mas
quando Danny Wooten, seu assistente particular, dis se que havia um fantasma à venda na
internet e perguntou se ele não queria comprar, Jude não pensou duas vezes. Era como sair para
almoçar, ver o prato do dia e decidir que queria aquilo sem dar sequer uma olhada no cardápio.
Certos impulsos não exigiam reflexão.
A sala de Danny ocupava um anexo relativamente novo da propriedade de Jude. Saía da
ponta nordeste da casa de fazenda de 110 anos. Com controle climático, móveis de escritório e
carpete cor de café com leite, a sala era friamente impessoal, não tinha nada a ver com o resto da
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* Fita de vídeo que mostra uma cena real de assassinato. (N. do T.)

casa. Seria como uma sala de espera de dentista, não fosse pelos cartazes de shows de rock em
molduras de aço inox. Num deles a pessoa via um jar ro abarrotado de globos oculares olhando
fixamente para ela, com um emaranhado de nervos san grentos saindo de trás deles. Era o pôster
da turnê de Todos os olhares sobre você.
Assim que o anexo ficou pronto, Jude se arrependeu de ter mandado construí-lo. Não
queria dirigir 45 minutos de Piecliff até uma sala alugada em Poughkeepsie para tratar de seus
negócios, mas provavelmente isso teria sido melhor do que ter Danny Wooten dentro de casa.
Danny e o trabalho de Danny tinham ficado próximos demais. Quando Jude estava na cozinha,
podia ouvir os telefones tocando no escritório, às vezes ambas as linhas disparando ao mesmo
tempo, e achava o som enlouquecedor. Há anos não gr avava um disco, quase não tinha
trabalhado desde que Jerome e Dizzy haviam morrido (e a banda com eles), mas os telefones
continuavam tocando sem parar. Ele se sentia sufoca do pelo contínuo desfile de gente
disputando seu tempo e pelo interminável acúmulo de demandas legais e profissionais, acordos e
contratos, promoções e apresentações, o trabalho da Judas Coyne Ltda. nunca pronto, sempre
em curso. Quando estava em casa, Jude queria ser ele próprio, não uma marca registrada.
De forma geral, Danny não se metia no restante da c asa. Fossem quais fossem seus
defeitos, respeitava o espaço privativo de Jude. Mas sempre que ele dava uma incerta no
escritório — algo que Jude fazia, sem grande satisfação, quatro ou cinco vezes por dia — Danny
o abordava imediatamente. Passar pelo escritório er a o caminho mais rápido para chegar até o
celeiro e o canil. Poderia evitar o assistente saindo pela porta da frente e circundando a casa, mas
ele se recusava a se mover furtivamente ao redor da própria casa só para evitar Danny Wooten.
Além disso, não parecia possível que
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