obsediantes, impulsos 
cegos e irresistiveis, tudo entra no quadro da monomania--o mais 
amplo, diz Esquirol, de toda a classificação. 
De sorte que, se os antigos, desviando a palavra melancolia do 
significado que Areteu lhe dera, chamaram a um só grupo delirios do 
caracter diverso e lançaram assim na sciencia uma grande confusão, 
Esquirol não fez senão augmental-a pela creação das monomanias. 
Como quer que seja, o immenso e, por innumeros titulos, justificado 
prestigio d'este observador fez correr a palavra e a doutrina. Sem 
duvida, objecções foram bem cedo erguidas contra ambas por Falret, 
Delasiauve e outros, que negaram a existencia de delirios 
circumscriptos a uma só idéa, affirmados na palavra, ou pozeram em 
relevo a solidariedade das funcções mentaes, contradictada pela 
doutrina. «Todas as faculdades, escrevia Falret em 1819, participam em 
maior ou menor grau das desordens intellectuaes; de resto, sempre que 
uma idéa falsa invade a intelligencia, o seu poder contagioso exerce-se 
sobre as outras, de sorte que sob um delirio preponderante véem-se 
estabelecer delirios secundarios e derivados que não tardam a invadir 
todo o intendimento»[1]. Pelo seu lado, Delasiauve escrevia em 1829: 
«Póde acaso limitar-se o circulo d'acção em que uma idéa dominante
deve exercer ou realmente exerce a sua influencia?» E mais tarde ainda: 
«O delirio dos monomanos não é nunca tão circumscripto como se 
pretendeu; a verdadeira monomania é rarissima!»[2] Todavia, a criticas 
d'esta ordem redarguiam Esquirol e os seus discipulos que nem a 
palavra monomania significava unidade de delirio, nem a doutrina 
necessariamente implicava que a lesão de uma faculdade não podesse 
fazer-se sentir sobre as outras; para elles, a monomania designava uma 
lesão parcial e preponderante, mas não unica e independente, das 
faculdades. 
[1] Falret, Des maladies mentales 
[2] Delasiauve, Les Pseudomonomanies 
«Tem-se negado, escrevia Esquirol, a existencia dos monomaniacos, 
dizendo-se que os alienados não deliram nunca sobre um só objecto, 
mas que sempre n'elles há perturbações da sensibilidade e da vontade. 
Mas, se assim não fosse, os monomaniacos não seriam loucos.»[1] Pelo 
seu lado, Marcé escrevia: «Nunca os que crêem na existencia das 
monomanias pensaram em negar a solidariedade das faculdades 
intellectuaes no monomaniaco. Reconhecendo que o delirio é raras 
vezes limitado a um só ponto, crêem, no emtanto, dever conservar as 
monomanias a titulo de grupo distincto.»[2] 
[1] Esquirol,Des maladies mentales, tom. II, pag. 4. 
[2] Marcé, Traité pratique des maladies mentales,pag. 351. 
Voltemos, porém, ao nosso restricto assumpto. 
A monomania intellectual de Esquirol, caracterisada por um delirio 
limitado de natureza alegre ou triste, não é senão a melancolia dos 
antigos medicos. Para aquelle, como para estes, era a extensão dos 
conceitos falsos o criterio para classificar as loucuras em que ha 
compromisso da intelligencia: de um lado, a mania, manifestando-se 
por um delirio geral e dispersivo, do outro, a monomania, 
symptomatisada por um delirio parcial e fixo.
Se a estas duas especies accrescentarmos a idiotia e a demencia, 
entrevistas por Pinel, mas só definidas por Esquirol, a estupidez 
descripta por Georget, e a paralysia geral, estudada por Calmeil, 
encontramo-nos em face da classificação das psychoses que até ao 
meiado do nosso seculo a França inteira adoptou. Ora, dentro d'esta 
classificação, não teem logar distincto e proprio, como se vê, os delirios 
systematisados: o de perseguições é descripto como uma variedade 
lypemaniaca, e o de grandezas é confundido com as manifestações 
symptomaticas de outras doenças mentaes. 
 
II--PHASE ANALYTICA 
De Lasègue a J Falret e de Griesinger a Snell e Sander--O delirio de 
perseguições; a megalomania; o delirio dos perseguidores; a 
Verrücktheit secundaria; a Verrücktheit originaria--Começo de 
interpretação pathogenica. 
Foi Lasègue em 1852 quem primeiro destacou do cahos da melancolia 
o delirio de perseguições para eleval-o á dignidade de «especie 
pathologica entre as alienações mentaes». 
No seu memoravel trabalho sobre este assumpto, o eminente alienista 
começa por notar que as idéas de perseguição apparecem como 
episodio symptomatico e a titulo de phenomeno incidente no 
alcoolismo, nas loucuras provocadas por certas substancias narcoticas 
e em muitos delirios parciaes; na doença, porém, que elle descreve pela 
primeira vez essas idéas não são um syndroma fortuito, mas um facto 
constante e essencial, um phenomeno preponderante e fixo. A nova 
psychose tem, de resto, como titulos á autonomia nosographica, 
symptomas especiaes e uma evolução caracteristica. 
Estudando a marcha do delirio de perseguições, Lasègue reconhece-lhe 
dois periodos: um, de incubação, consistindo n'um mal-estar indefinido 
e vago, mas absorvente e inquietante, em que o doente se suspeita 
victima de hostilidades cuja origem não sabe ainda determinar; outro, 
de estado, em que o delirio definitivamente se installa e systematisa.
Ao principio o doente não exprime a idéa de uma perseguição senão 
com uma certa reserva, hesitantemente, tentando ainda provar a si 
mesmo que ella é absurda; mais tarde, porém, a duvida esbate-se e o 
systema delirante apparece definitivamente formado. A duração do 
primeiro d'estes periodos é essencialmente variavel: tão rapida em 
alguns    
    
		
	
	
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