A Paranoia, by Julio de Mattos 
 
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Title: A Paranoia 
Author: Julio de Mattos 
Release Date: December 28, 2004 [eBook #14503] 
Language: Portugese 
Character set encoding: ISO-8859-1 
***START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK A 
PARANOIA*** 
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A PARANOIA 
Julio de Mattos
ENSAIO PATHOGENICO SOBRE OS DELIRIOS 
SYSTEMATISADOS 
...Ci iroviamo proprio faccia a faccia col nudo querito della pura 
pazzia. 
EUGENIO TANZI 
Lisboa Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão 5, Largo de Camões, 
6 
1898 
 
A MEMORIA AMIGA DO PROFESSOR SOUSA MARTINS 
 
PREFACIO 
Ao passo que na sua maioria as doenças hoje estudadas pelos alienistas 
pertencem no fundo á pathologia interna, e só pelo predominio, mais 
apparente ás vezes do que real, dos seus symptomas psychicos se 
apropriaram a designação de mentaes, os delirios systematisados, esses, 
pela ausencia de caracteristicas lesões, pela falta de privativas causas 
determinantes e pela carencia de symptomas funccionaes 
objectivamente apreciaveis, constituem a verdadeira loucura, a 
psychose por excellencia, n'uma palavra, o proprio e irreductivel 
dominio da psychiatria. 
Isto é dizer que a observação clinica não póde, ella só, determinar a 
génese d'estes delirios, pois que o confronto dos dados psychicos com 
os somaticos e etiologicos é, no caso sujeito, impraticavel. 
Foi, todavia, pelo exclusivo exame do hypocondriaco, do perseguido, 
do ambicioso, que os alienistas buscaram até ha pouco surprehender a 
pathogenia dos delirios essenciaes. D'aqui o natural insuccesso dos seus 
trabalhos, melhor do que nunca evidenciado nos ultimos debates das
sociedades psychiatricas de Paris e de Berlim, em que se não fez, por 
confissão dos proprios oradores, mais do que obscurecer e confundir o 
problema posto. 
Por outro caminho,--introduzindo no controvertido thema a criterio da 
evolução, seguiram, felizmente, na Italia contemporanea eminentes 
pshychiatras. 
Inquiridos clinicamente os delirios essenciaes nos seus symptomas e na 
sua marcha, uma coisa resta ainda fazer para os interpretar: o estudo do 
delirante, considerado, não em si mesmo, como individuo, ou nos seus 
ascendentes immediatos, como membro de uma certa familia, mas 
anthropologicamente na sua vasta ancestralidade, como representante 
de uma especie em plena evolução. 
Na sua marcha normal não segue o Espirito ao acaso, mas 
progressivamente por linhas de ideação desde muito entrevistas, senão 
inteiramente definidas; quem nos affirma que na sua marcha anormal 
elle não segue regressivamente pelas mesmas prefixas e inflexiveis 
linhas ideativas? 
Se a dissolução da memoria se apagam primeiro os factos recentes e só 
depois os remotos, primeiro os nomes e só por ultimo os adjectivos e os 
verbos; se na dissociação da motricidade se perdem em primeiro logar 
os actos conscientes e só por fim os habituaes e instinctivos; se na 
desaggregação affectiva são os primeiros a fazer naufragio os 
sentimentos altruistas e só em derradeiro logar se extinguem os egoistas, 
é possivel e provavel mesmo que na esphera propriamente conceptiva a 
marcha pathologica se realise, ao menos em certos casos, n'um sentido 
tambem regressivo. Ora, segundo a escóla italiana, isto se dá, com 
effeito, nos delirios systematisados essenciaes, manifestação. 
 
PRIMEIRA PARTE 
Historia dos delirios systematisados
I--PHASE INICIAL 
De Areteu a Esquirol--Confusão dos delirios systematisados com a 
melancolia--A monomania intellectual e as suas fórmas depressiva e 
expansiva. 
Se conheceram os delirios systematisados, não deixaram d'isso 
documento os escriptores que precederam a nossa era. É sómente a 
datar do primeiro seculo, em Areteu e Celio Aureliano, que 
encontramos incontestaveis e inequivocas referencias aos perseguidos. 
Occupando-se dos melancolicos, escrevia, com effeito, o primeiro 
d'estes medicos: «Muitos receiam que lhes propinem venenos; os seus 
sentidos adquirem um redobramento de finura e de penetração que os 
torna suspeitosos e de uma habilidade extrema em verem por toda a 
parte disposições hostis»[1]. Pelo seu lado, Celio Aureliano, fallando 
dos mesmos doentes, affirmava que muitos «experimentam uma 
desconfiança continua, um permanente receio de imaginarias 
armadilhas»[2]. 
[1] Areteu,De Melancholia, apud Trelat, Recherches historiques sur la 
folie, pag. 10 
[2] Vid. Trelat, Obr. cit., pag. 38. 
A confusão que n'estas passagens se nota entre perseguidos e 
melancolicos, subsistirá, como veremos, até muito perto de nós e 
merece explicar-se desde já. 
Definindo a melancolia «animi angor in una cogitatione defixus», 
Areteu caracterisava esta doença por duas ordens diversas de factos a 
que dava igual valor: de um lado, o phenomeno emotivo, consistindo 
n'um estado de angustia animi angor, do outro, o facto intellectual de 
uma concepção, delirante absorvendo e fixando o espirito (in una 
cogitatione defixus). Pouco a pouco,    
    
		
	
	
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