A Illustre Casa de Ramires, by 
Eça de Queiroz 
 
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Title: A Illustre Casa de Ramires 
Author: Eça de Queiroz 
Release Date: October 22, 2007 [EBook #23145] 
Language: Portuguese 
Character set encoding: ISO-8859-1 
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ILLUSTRE CASA DE RAMIRES *** 
 
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Nacional de Portugal).) 
 
Eça de Queiroz
A Illustre Casa de Ramires 
PORTO 
LIVRARIA CHARDRON De Lello & Irmão, editores 1900 
 
Pertence no Brazil o direito de propriedade d'esta obra ao cidadão 
Francisco Alves, livreiro editor no Rio de Janeiro, que, para a garantia 
que lhe offerece a lei n.^o 496 de 1 d'Agosto de 1898, fez o competente 
deposito na Bibliotheca nacional, segundo a determinação do art. 13.^o 
da mesma Lei. 
* * * * * 
Porto--Imprensa Moderna 
 
A ILLUSTRE CASA DE RAMIRES 
 
Obras do mesmo auctor: 
*Revista de Portugal*. 4 grossos volumes 12$000 *As Minas de 
Salomão*, 1 volume 600 *Os Maias*. 2 grossos volumes 2$000 *O 
Crime do Padre Amaro*. Terceira edição inteiramente refundida, 
recomposta, e differente na fórma e na acção da edição primitiva, 1 
grosso volume 1$200 *O Primo Bazilio*. Terceira edição, 1 grosso 
volume. 1$000 *A Reliquia*, 1 grosso volume 1$000 *O Mandarim*. 
Quarta edição, 1 volume 500 *Correspondencia de Fradique Mendes*, 
1 volume 600 
No prelo: 
*A Cidade e as Serras.*
A ILLUSTRE CASA DE RAMIRES 
 
I 
Desde as quatro horas da tarde, no calor e silencio do domingo de 
Junho, o Fidalgo da Torre, em chinellos, com uma quinzena de linho 
envergada sobre a camisa de chita côr de rosa, trabalhava. Gonçalo 
Mendes Ramires (que n'aquella sua velha aldêa de Santa Ireneia, e na 
villa visinha, a aceada e vistosa Villa-Clara, e mesmo na cidade, em 
Oliveira, todos conheciam pelo «Fidalgo da Torre») trabalhava n'uma 
Novella Historica, A Torre de D. Ramires, destinada ao primeiro 
numero dos *Annaes de Litteratura e de Historia*, Revista nova, 
fundada por José Lucio Castanheiro, seu antigo camarada de Coimbra, 
nos tempos do Cenaculo Patriotico, em casa das Severinas. 
A livraria, clara e larga, escaiolada d'azul, com pesadas estantes de pau 
preto onde repousavam, no pó e na gravidade das lombadas de carneira, 
grossos folios de convento e de fôro, respirava para o pomar por duas 
janellas, uma de peitoril e poiaes de pedra almofadados de velludo, 
outra mais rasgada, de varanda, frescamente perfumada pela madresilva 
que se enroscava nas grades. Deante d'essa varanda, na claridade forte, 
pousava a mesa--mesa immensa de pés torneados, coberta com uma 
colcha desbotada de damasco vermelho, e atravancada n'essa tarde 
pelos rijos volumes da Historia Genealogica, todo o Vocabulario de 
Bluteau, tomos soltos do Panorama, e ao canto, em pilha, as obras de 
Walter Scott sustentando um copo cheio de cravos amarellos. E d'ahi, 
da sua cadeira de couro, Gonçalo Mendes Ramires, pensativo deante 
das tiras de papel almaço, roçando pela testa a rama da penna de pato, 
avistava sempre a inspiradora da sua Novella,--a Torre, a antiquissima 
Torre, quadrada e negra sobre os limoeiros do pomar que em redor 
crescera, com uma pouca d'hera no cunhal rachado, as fundas frestas 
gradeadas de ferro, as ameias e a miradoira bem cortadas no azul de 
Junho, robusta sobrevivencia do Paço acastellado, da fallada Honra de 
Santa Ireneia, solar dos Mendes Ramires desde os meiados do seculo 
X.
Gonçalo Mendes Ramires (como confessava esse severo genealogista, 
o morgado de Cidadelhe) era certamente o mais genuino e antigo 
fidalgo de Portugal. Raras familias, mesmo coevas, poderiam traçar a 
sua ascendencia, por linha varonil e sempre pura, até aos vagos 
Senhores que entre Douro e Minho mantinham castello e terra murada 
quando os barões francos desceram, com pendão e caldeira, na hoste do 
Borguinhão. E os Ramires entroncavam limpidamente a sua casa, por 
linha pura e sempre varonil, no filho do Conde Nuno Mendes, aquelle 
agigantado Ordonho Mendes, senhor de Treixedo e de Santa Ireneia, 
que casou em 967 com Dona Elduara, Condessa de Carrion, filha de 
Bermudo o Gottoso, Rei de Leão. 
Mais antigo na Hespanha que o Condado Portucalense, rijamente, 
como elle, crescera e se afamára o Solar de Santa Ireneia--resistente 
como elle ás fortunas e aos tempos. E depois, em cada lance forte da 
Historia de Portugal, sempre um Mendes Ramires avultou 
grandiosamente pelo heroismo, pela lealdade, pelos nobres espiritos. 
Um dos mais esforçados da linhagem, Lourenço, por alcunha    
    
		
	
	
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