A Lenda da Meia-Noite

Manuel Joaquim Pinheiro Chagas
Lenda da Meia-Noite, by Manuel
Joaquim Pinheiro Chagas

Project Gutenberg's A Lenda da Meia-Noite, by Manuel Joaquim
Pinheiro Chagas This eBook is for the use of anyone anywhere at no
cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give
it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License
included with this eBook or online at www.gutenberg.org
Title: A Lenda da Meia-Noite
Author: Manuel Joaquim Pinheiro Chagas
Release Date: November 7, 2007 [EBook #23400]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A LENDA
DA MEIA-NOITE ***

Produced by Ricardo F. Diogo, Rita Farinha and the Online Distributed
Proofreading Team at http://www.pgdp.net

*Nota de editor:* Devido à quantidade de erros tipográficos existentes
neste texto, foram tomadas várias decisões quanto à versão final. Em
caso de dúvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final
deste livro encontrará a lista de erros corrigidos.

Rita Farinha (Nov. 2007)

COLLECÇÃO ANTONIO MARIA PEREIRA
M. PINHEIRO CHAGAS
A LENDA DA MEIA-NOITE
2.^a edição
LISBOA Parceria A. M. PEREIRA--Livraria editora Rua Augusta, 50,
52 e 54 1906

LISBOA Officinas typographica e de encadernação MOVIDAS A
VAPOR Rua dos Correeiros, 70 e 72, 1.^o 1906

A LENDA DA MEIA-NOITE
N'um dos sitios mais pittorescos da Beira-Baixa, n'essa montanha
vestida de verdura, onde se recosta Alpedrinha, e que domina o
verdejante valle do Fundão, ergue-se uma casa ampla e antiga, de cuja
varanda, extensa varanda de madeira, em cujos beiraes vem as
andorinhas fazer os seus ninhos, se descortina a extensa paisagem, onde
alvejam Val de Prazeres e outras villas e aldeias que matizam, com as
suas casas brancas, o verde do arvoredo, e que tem como panno de
fundo a imponente massa da serra da Estrella, coroada com as suas
neves eternas.
A casa não tem formosuras architectonicas, nem aspecto de palacio; é
apenas um edificio vasto, cercado de dependencias rusticas, tendo
defronte do portão as cavallariças, casas de habitação dos criados, etc.,
que, desenrolando se em semi circulo, fecham um terreiro que dá ao
edificio campestre uma especie de pateo de entrada. A parte mais
caracteristica da residencia é a extensa varanda de madeira, tão usada

na provincia, onde nas tardes de estio se respira a viração da serra, onde
nas manhãs de inverno se toma alegremente a restea do sol.
Fica isolada a habitação que a largos traços descrevemos. Pegada com a
fachada principal está o muro, onde se abre o portão da quinta. Esta é
assombreada pelo magnifico arvoredo, que viça, com incrivel vigor,
n'esse torrão privilegiado conhecido na provincia pelo nome de cova da
Beira. Para um lado a pouca distancia fica Alpedrinha, a pittoresca villa
com as suas casas penduradas entre verduras da encosta da montanha,
para outro lado a estrada desce até ao Fundão. Por toda a parte verdura,
arvores, aguas, o ar purissimo das serras, os rumores mysteriosos das
solidões. É encantadora a situação d'aquelle formoso eremiterio.
No outono e no inverno a paisagem toma uns tons mais carregados e
lugubres. A montanha assume um certo ar de grandeza. Nos soutos
espessos dos castanheiros passa o furacão silvando com furia; a
trovoada vae-se repercutindo de echo em echo pelas concavidades dos
valles, e os relampagos illuminam, com a sua luz sinistra, o arvoredo
que se estorce nos braços doidos do vendaval. Nos amplos salões
d'esses edificios isolados ouvem-se rumores sinistros, e sons
mysteriosos, e o vento, fazendo ranger os pilares da varanda, entôa a
musica triste das lendas populares.
É exactamente no outono que nós conduzimos o leitor á casa da
Fragosa, como por lá se chama ao sitio em que ella fica. Os viscondes
da Fragosa, que alli moram, tinham convidado alguns amigos seus para
irem caçar nas suas terras, de fórma que estavam reunidas bastantes
pessoas no grande salão da residencia, junto da brazeira, no momento
em que convidamos o leitor para entrar tambem e aproveitar o calor
benefico do lume.
É já noite; a tarde estivera sobre-maneira ventosa e fria, de fórma que
os convidados, reunidos na varanda, para assistirem a um d'esses
esplendidos occasos do sol, que são tão frequentes no outono, tiveram
que retirar e fechar-se em casa, deixando o vento gemer lá fóra,
estorcendo os ramos do arvoredo. Accendeu-se a brazeira, e,
esquecendo-se o frio e o vento, entrou-se n'uma palestra tão animada,
como se se estivesse n'uma sala de Lisboa, a dois passos do Theatro

Italiano, e sentindo-se, a rodarem nas ruas, as carruagens da cidade.
O salão era vasto e simples, mobilado á antiga. Nas paredes alguns
velhos quadros sombrios; pesadas cadeiras, de pés torneados, forradas
de coiro lavrado, dispostas em circulo, em torno de uma mesa de pau
santo, ornava apenas um canto da sala immensa. N'esse canto, onde se
agrupavam a familia
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 66
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.