cavalleiro,
Pela noite sem luar?
Diz o vento viajeiro,
Ao lado d'elle a ventar...
Não responde o cavalleiro,
Que vae 
absorto a scismar.
--Onde vaes tu, torna o vento,
N'esse doido 
galopar?
Vaes bater a algum convento?
Eu ensino-te a rezar.
E a 
lua surge, um momento,
A lua, convento do Ar.
--Vaes levar uma 
mensagem?
Dá-m'a que eu vou-t'a entregar:
Irás em meia viagem
E eu já de volta hei-de estar.
E o cavalleiro, á passagem,
Faz as 
arvores vergar.
--Vaes escalar um mosteiro?
Eu ajudo-t'o a escalar:
Não ha no mundo pedreiro
Que a mim se possa egualar!
Não 
responde o cavalleiro
E o vento torna a fallar:
--Dize, dize! vaes 
p'ra guerra?
Monta em mim, vou-te levar:
Não ha cavallo na Terra
Que tenha tão bom andar...
E os trovões rolam na serra
Como 
vagas a arrolar!
--E as guerras has-de ganhal-as,
Que por ti hei-de 
velar:
Ponho-me á frente das balas
Para a força lhes tirar!
E as 
arvores formam alas
Para os guerreiros passar.
--Vaes guiar as 
caravellas
Por sobre as agoas do mar?
Guiarei as tuas velas
Á 
feição hei-de assoprar.
E os astros vêm ás janellas
E a lua vem 
espreitar...
--Onde vaes na galopada,
Á tua infancia, ao teu lar?
Conheço a tua pousada:
Já lá tenho ido ficar.
E vae longe a 
trovoada,
Vae de todo a alliviar.
--Vaes ver tua velha tia,
Na roca 
de oiro a fiar?
Loiro linho que ella fia,
Ajudei-lh'o eu a seccar!
E 
o luar é a Virgem Maria...
Que lindo vae o luar!
--Vaes ver a tua
mãesinha?
Coitada! vi-a expirar:
Tinha a alma tão levezinha,
Que 
voou sem eu lhe tocar!...
E o cavalleiro caminha,
Caminha sem se 
importar!
--Vaes ver tua irmã? Ao peito
Traz um menino a criar:
Ai com que bom, lindo geito
Ella o sabe acalentar!
E o vento 
embala no peito
Uma nuvem, p'ra imitar!
--Onde vaes tu? Aonde, 
aonde?
Phantasma! vaes-te cazar?
Eu sei da filha d'um conde
Que 
por ti vive a penar...
E o phantasma não responde,
Sempre, sempre, 
sempre a andar!
--Vaes á cata da Ventura
Que anda os homens a 
tentar?
(Ai d'aquelle que a procura
Que eu nunca a pude encontrar...)
N'isto, pára a criatura,
Faz seu cavallo estacar:
--Vento, sim! 
Espera, espera!
Que estrada devo tomar?
(É um menino, é uma 
chymera
E todo lhe ri o olhar...)
E o vento, com voz austera,
Dor, 
querendo disfarçar:
--Toma todas as estradas
Todas, áquem e 
além-mar:
Serão inuteis jornadas,
Nunca lá has-de chegar...
Palavras foram facadas
Que é vel-o, todo a sangrar...
E seus 
cabellos trigueiros
Começam de branquiar,
E olham-se os dois 
cavalleiros...
Quedam-se ambos a scismar.
Brilha o Oriente entre os 
pinheiros,
Ouvem-se os gallos cantar...
--Adeus, adeus! Nasce a 
aurora,
Adeus! vamos trabalhar!
Adeus, adeus! vou-me embora:
Chamaram-me as velas, no mar...
E o vento vae por hi fóra,
No seu 
cavallo, a ventar... 
Pariz, 1891. 
*Purinha* 
O Espirito, a Nuvem, a Sombra, a Chymera,
Que (aonde ainda não sei) 
neste mundo me espera
Aquella que, um dia, mais leve que a bruma,
Toda cheia de véus, como uma Espuma,
O Sr. Padre me dará p'ra 
mim
E a seus pés me dirá, toda corada: Sim!
Ha-de ser alta como a 
Torre de David,
Magrinha como um choupo onde se enlaça a vide
E seu cabello em cachos, cachos d'uvas,
E negro como a capa das 
viuvas...
(Á maneira o trará das virgens de Belem
Que a Nossa 
Senhora ficava tão bem!)
E será uma espada a sua mão,
E branca
como a neve do Marão,
E seus dedos serão como punhaes,
Fuzos de 
prata onde fiarei meus ais!
E os seus seios serão como dois ninhos,
E seus sonhos serão os passarinhos,
E será sua bocca uma romã,
Seus olhos duas Estrellinhas da Manhã!
Seu corpo ligeiro, tão leve, 
tão leve,
Como um sonho, como a neve,
Que hei-de suppor estar a 
ver, ao vel-a,
Cabrinhas montezas da Serra da Estrella...
E ha-de ser 
natural como as hervas dos montes
E as rolas das serras e as agoas 
das fontes...
E ha-de ser boa, excepcional, quazi divina.
Mais pura, 
mais simples, que moça e menina.
Deus, pela voz dos rouxinoes 
ha-de gabal-a
E os rios ao passar hão-de cantal-a.
Seu virgem 
coração ha-de ser tão branquinho,
Que não ha neste, mundo a que 
egualal-o: o linho
Que, em roca de crystal, fiava a minha Avó
Parecerá de crepe, e a neve... far-me-á dó,
Mais a farinha do moleiro 
e a violeta,
E a lua para mim será como uma preta! 
Mas em que sitio, aonde? aonde? é que me espera
Esta Torre, esta 
Lua, esta Chymera?
Fui ter com minha fada e disse-lhe: «Madrinha!
Onde haverá na Terra assim uma Rainha?»
E a minha fada, com 
sua vara de encantar,
Um reino me apontou, lá baixo, ao pé do mar... 
Meninas, lindas meninas!
Qual de vós é o meu ideal?
Meninas, 
lindas meninas
Do Reino de Portugal! 
E no dia do meu recebimento!
Manhã cedo, com luar ainda no 
firmamento,
Quando ainda no céu não bole uma aza,
A minha 
Noiva sairá de caza
Mail-a sua mãe, mail-os seus irmãos.
E ha-de 
sorrir, e hão-de tremer-lhe as mãos...
E a sua ama ha-de seguil-a até á 
porta,
E ficará, coitada! como morta!
E ha-de ser triste vel-a, ao 
longe, ainda... olhando,
Com o avental seus olhos enxugando...
E 
hão-de cercal-a sete madrinhas,
Que hão-de ser sete virgens 
pobrezinhas,
Todas contentes por estreiar vestido novo!
E, ao vel-as, 
suas mães sorrirão d'entre o povo...
E o povo da freguezia
Esperará 
mais eu, no adro de Santa Iria.
E hão-de mirar-me com seu ar curiozo,
E hão-de cercar-me, n'um silencio respeitozo.
E eu hei-de lhes 
fallar das colheitas, da chuva,
E dir-me-ão que «já vae    
    
		
	
	
	Continue reading on your phone by scaning this QR Code
 
	 	
	
	
	    Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the 
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.
	    
	    
