POPPÉA. 
Poderoso senhor, por cujo amor só vivo! Porque sempre pensativo 
foges para longe de mim, e me deixas entregue a crueis angustias? Pois 
que, não será possivel que esta minha affeição te dê alguns momentos 
de alegria? 
NÉRO. 
É justamente o teu amor que me affasta de ti algumas vezes, Poppéa, 
nada mais. Soffri longo tempo, venci muitas difficuldades antes de 
conquistar teu coração; agora devo esforçar-me por conserva-lo; bem 
sabes que ate á custa do proprio throno quero que sejas sempre minha. 
POPPÉA. 
E quem poderá tirar-me de teu poder se não tu mesmo? A tua vontade, 
um gesto teu dão a lei em Roma. Em troca do meu amor deste-me o teu; 
podes tirar-m'o, é certo, mas eu não sobrevivirei a tamanha perda. 
NÉRO. 
Quem poderá separar-me de ti? Nem o proprio céo! Entretanto 
appareceu entre o povo criminosa agitação, ainda não acalmada: ousão 
censurar as minhas affeições, e vejo-me obrigado a prevenir... 
POPPÉA. 
E que te importa a grita do povo? 
NÉRO. 
Espero mostrar em breve o caso que della faço; mas não quero deixar 
erguida uma só cabeça dessa hydra furiosa; rolará, pelo chão a ultima 
em que Roma basêa sua esperança, e ao mesmo tempo cahirá abatida, 
muda, despedaçada, esta plebe orgulhosa. Roma ainda não me conhece, 
arrancar-lhe-hei do coração seus antigos e loucos prejuizos de liberdade.
Octavia é a ultima descendente dos Claudios, seu nome está na boca de 
todos, chorão a sua sorte porque me odeião, não porque a amem: no 
coração do povo não ha lugar para o amor; mas a plebe insolente 
recorda-se saudosa da fraqueza do reinado de Claudio, inepto, e suspira 
pela licença de que hoje não póde gozar. 
POPPÉA. 
É certo; Roma não sabe conservar-se calada; mas o que poderão fazer 
hoje os Romanos mais do que murmurar; porventura os temes? 
NÉRO. 
Escolhi mal o lugar para exilio de Octavia; é ameno de mais, e pouco 
prudente seria conserva-la alli. Está nas vizinhanças da Campania o 
exercito, onde ainda se conserva memoria de Aggripina. No coração 
dos soldados agita-se ainda o espirito de revolta; perfidos, fingem-se 
doidos pela sorte da filha de Claudio; criminosa esperança ainda está 
enraizada em seus peitos. Fiz mal em escolher para seu degredo tal 
lugar, e maior imprudencia seria conserva-la alli. 
POPPÉA. 
Porque motivo esta mulher merece tanta solicitude? Porque não a 
envias para os confins do teu vasto imperio? Qual será o degredo mais 
seguro? Qual a praia deserta e remota que mais longe de ti conservará 
esta mulher que ousa gabar-se de te têr dado o throno? 
NÉRO. 
Para que eu possa tirar-lhe a força e o poder de ser-me nociva nenhum 
lugar é mais proprio do que Roma, e em Roma o meu palacio. 
POPPÉA. 
Que ouço? Octavia volta para Roma? 
NÉRO.
Deixa-me explicar-te o motivo... 
POPPÉA. 
O que será de mim?... Ella... 
NÉRO. 
Escuta-me!... 
POPPÉA. 
Entendo... adevinho tudo... serei em breve repellida, expulsa... 
NÉRO. 
Escuta-me!... Não é para teu mal que Octavia volta a Roma; será antes 
em seu damno esse regresso. 
POPPÉA. 
Talvez o seja para o teu. No emtanto ouve: Octavia e eu não pudemos 
viver juntas, nem um só momento, nem no mesmo palacio, nem na 
mesma cidade. Volte pois, a Roma a mulher que elevou Néro ao throno 
do mundo; volte para d'ahi expelli-lo. É por tua causa que me afflijo e 
não por mim; eu estou prompta a voltar para junto do meu fiel Othon; 
amou-me tanto!... deve amar-me ainda; e podesse eu recompensar tão 
constante affeição! Mas, não, no coração de Poppéa não cabem dois 
amores, nem quer ella um coração partido, não quer partilhar com uma 
odiada rival o teu amor. Não me seduzio o esplendor do throno, mas tu 
sómente. Ah! ainda me seduz; o amor que tanta ventura me dava, não 
era o do poderoso senhor do mundo, mais sim o do meu querido Néro; 
se me tirares agora uma parte dessa affeição, se eu não reinar como 
unica soberana, então nada quererei, cederei tudo. Ah! misera, que não 
possa eu arrancar de meu coração a tua imagem tão facilmente como o 
fazes commigo! 
NÉRO.
Eu te amo, Poppéa, bem o sabes; prova-o tudo quanto por ti tenho feito 
e o que ainda tenciono fazer; mas tu... 
POPPÉA. 
O que queres que eu faça? Poderei viver vendo a teu lado essa mulher 
que odeio? Poderei deixar de pensar em ti? Oh! indigna! que não póde, 
não sabe, não quer amar a Néro e ousa fingir que o ama! 
NÉRO. 
Tranquillisa-te, põe de parte os receios e os zelos; mas respeita por 
algum tempo ainda a minha vontade. É necessario que Octavia volte 
agora a Roma; já moveu os primeiros passos; amanhã aqui deve chegar. 
Assim o exigem o teu socego e o meu; tal é a minha vontade e não 
estou habituado    
    
		
	
	
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