Obras poéticas | Page 8

Nicolau Tolentino
papelinhos;?Nem poupes no cadafalso?As gargantas dos Sobrinhos;
Em lhe vendo huma de seis,?Arma-lhe os la?os viscozos;?Antes que lhe caia a xina?Na ceira dos laparozos;
Imita ondados cabellos?Co'rubro lápis na m?o;?Estas pinturas d?o xina,?As da Poezia, n?o;
Se em roda de loiras Ninfas?Gyr?o em torno teus ais,?Em quanto lhe deres Versos,?Acharás sempre Vestais;
Fallo como exprimentado;?Fallo com peito sincero,?Póde huuma vara de fitta,?Mais que a Ilíada de Homéro;
No sonóro bandolim?Fortuna as armas te deo;?N?o ha Dama, que rezista?A' moda do Melibêo;
Toca-lhe mil contradan?as;?Mas se n?o tiverem Dom,?Entre ellas n?o sevandiges?O Fidalgo Cotilhom;
Nestas coizas he que eu creio;?Poezia he mal fadada;?Assenta, amigo Luiz,?Que nunca servio de nada;
Poucas Damas a conhecem;?Se a pedem, e se a festej?o,?Gost?o do que n?o entendem,?Pedem o que n?o dezej?o;
Inda que por moda querem,?Que lhes repit?o Versinhos,?Tem por modas de mais gosto?Convuls?es, e Jozézinhos;
Huma Venus me pedio,?Por quem inda eu hoje peno,?Que lhe fizesse hum Soneto,?Inda que fosse pequeno;
Dinheiro, invisto dinheiro,?Só em ti he que eu me fundo;?Tens o Direito da for?a,?és o Tyranno do Mundo;
Amigo, escolhe hum Paralta,?Corpo esbelto, perna teza,?O chapeo tocando as nuvens,?As fivellas á Malteza;
Ornem-lhe loiros canudos,?Pendentes com igualdade,?Tenras faces, onde mor?o?A Sa?de, e a Mocidade;
Chegue á bocca rubicunda?Cheirozo len?o anilado;?Dê bilhetinho discreto,?De huma Novela furtado;
P?e da outra parte hum Ginja,?Fivella de oiro no pé,?Bom vestido de lemiste,?Boa meia grudifé;
Com óculos no nariz,?Mas com a penna na m?o,?Assignando vinte letras?Para Londres, e Amsterd?o;
E dize-me, qual assentas,?Que será o mais querido??Apósto, que as Damas todas?Cuid?o que o Velho he Cupido.
Amigo, tenho acabado?O meu comprido Serm?o;?Préguei-te as altas verdades,?Que trago no cora??o;
Abre m?o das Poezias,?Que nenhum prestimo tem;?E cuida em sólidos meios?De ganhar algum vintem;
Se dizes, que contra os Versos,?Em Verso huma Carta ordeno,?E que aqui me contradigo,?Praticando o que condemno;
A teu for?ozo argumento?Respondo com Fr. Thomaz;?Faze o que o Prégador diz,?N?o fa?as o que elle faz.
CARTA.
Pedindo-se ao Author huma Gloza.
Menino, dizer finezas,?Só o proprio Pertendente;?Amor n?o póde imitar-se,?Só o pinta quem o sente;
Se adora alguma Nerina,?Se he para ella a tal Gloza,?Que v?o fazer os meus Versos,?Onde está a sua proza?
Além disso, essa figura,?Faces tenras, e córadas,?Fall?o mais discretamente,?Que mil Cantigas glozadas;
Len?o nas pontas bordado,?Cipó, tízicas fivellas,?Sobre hum corpo assim talhado,?Se eu gósto, que far?o ellas?
Versos s?o mui fracas armas?Para vencer cora??es;?He clara a letra redonda,?Leia a vida de Cam?es;
Sua divina Poezia?Teve mui curtos poderes;?Tratar?o-no mal os homens,?E inda peior as mulheres;
Pois entra de amor na estrada,?Siga nella outro farol;?Embuce-se a huma esquina,?Soffra chuva, soffra Sol;
Erga alli o Altar do Amor;?Queime alli humilde incenso;?Suba ao alto do capote?Branco, alcoviteiro lenso;
Que importa que os ?apateiros?Dem assobio insultante,?Se os negocios v?o marchando?Com passadas de Gigante?
Cem vezes na mesma tarde?Pize esbelto a feliz rua;?Alheias cadeias de a?o,?Relogio de hollanda crua;
Vá por aqui, que por Versos?Dá em v?o loucas passadas;?S?o divertimento inutil,?S?o as historias das Fadas;
Inda que para cantallos?Lhe désse Gar??o a Lyra,?Como h?o de crer-lhe verdades?Na linguagem da mentira?
Seja acérrimo chor?o;?Pranto entendem raparigas;?Fa?a em lagrimas seu fundo,?E n?o o faca em Cantigas;
Palêe co'estes remedios,?Pois n?o tem o verdadeiro;?He elle (aqui em segredo)?O mílagrozo dinheiro;
Mas se teima em pedir Versos,?E conselhos n?o supporta,?Ent?o perd?e, meu Menino,?Póde bater a outra porta.
CARTA.
_Agradecendo alguns pratos, que despertár?o a vontade de comer_.
Senhor, a dada Perdiz,?Acerejada, e fresquinha,?Veio emendar os estragos?Da enjoativa gallinha;
Esta ave he sempre odioza?A melancólicos dentes;?Faz lembrar ultimos caldos?De já perdidos doentes;
He, além disto, hum cruzado?Fugido do mialheiro;?Este meu mortal fastio?Custou rios de dinheiro;
Mas da vossa lauta meza?Bocados medicinais?For?o t?o bem applicados,?Que me curár?o de mais;
Venceo vosso cozinheiro?O tal fastio cruel;?Meu estomago já pede?Me?as com Fr. Manoel;
Mas, Senhor, vossa piedade?Vai ser-vos hum dom fatal;?Quizestes fazer hum bem,?Que redunda em vosso mal;
Fizestes nascer a fome,?E a fome pede manten?a;?Se a deixais entregue a mim,?Póde morrer á nascen?a;
A vossa filha amparai;?N?o he de peitos honrados?P?r as suas Creaturas?Na Roda dos Engeitados.
Em soando as duas horas,?Sabei que esta cara minha?Tem longos, ávidos olhos,?Fitos na vossa Cozinha;
Eu n?o vou, porque inda fraco,?Indo arrostar ar delgado,?Antes de matar a fome,?Morreria constipado.
CARTA
Sobre o mesmo Assumpto.
Senhor, assim que eu largar?A baetal fatiota minha,?Vou beijar as pias lágeas?Da vossa farta Cozinha;
N?o foi attento Hespanhol,[10]?Receitando amarga quina,?Quem venceo meu mal co'as armas?Da fallivel Medicina;
[Nota de rodapé 10: Medico.]
Vós sabeis tra?ar receitas?Mais gratas, e mais felizes:?Curár?o-me oppostos males?Bem applicadas Perdizes;
Humas o appetite abrír?o,?Outras socêgo lhe d?o;?Sarár?o as duas chagas?Co'pêllo do mesmo c?o:
Dizem linguas inimigas,?Que esta doen?a he ficticia;?E os Práticos do meu pulso?A capitúl?o malicia.
Que em meu capote abafadas?Estas goellas felizes,?Em vez de cozerem lynfas,?Est?o armando ás Perdizes;
Senhor, n?o devo atalhar?Este conjurado assédio;?Porque era, provar doen?a,?Ingratid?o ao remédio;
Só digo, que n?o ganhais,?Dando ouvido ás vozes suas;?Aqui dais-me huma Perdiz,?E se lá vou, tiro duas.
CARTA.
Bom Sobral, o que eu te disse?He, a meu pezar, verdade;?Sonóros, amenos versos,?S?o obra da Mocidade;
Mandaste que em Crescentini;?Louvando a doce harmonia,?O que o Mundo diz em proza,?Eu lho enfeitasse em Poezia;
Que invocando as brandas Muzas,?Encostada ao peito a Lyra;?Cante os ternos sentimentos,?Que elle nas almas inspira;
M??o Sobral, tu ignoras?Da inerte velhice
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