O Livro de Cesário Verde

Cesario Verde
The Project Gutenberg EBook of O Livro de Cesario Verde, by Cesario
Verde
Copyright laws are changing all over the world. Be sure to check the
copyright laws for your country before downloading or redistributing
this or any other Project Gutenberg eBook.
This header should be the first thing seen when viewing this Project
Gutenberg file. Please do not remove it. Do not change or edit the
header without written permission.
Please read the "legal small print," and other information about the
eBook and Project Gutenberg at the bottom of this file. Included is
important information about your specific rights and restrictions in how
the file may be used. You can also find out about how to make a
donation to Project Gutenberg, and how to get involved.
**Welcome To The World of Free Plain Vanilla Electronic Texts**
**eBooks Readable By Both Humans and By Computers, Since
1971**
*****These eBooks Were Prepared By Thousands of
Volunteers!*****
Title: O Livro de Cesario Verde
Author: Cesario Verde
Release Date: August, 2005 [EBook #8698]
[Yes, we are more than
one year ahead of schedule]
[This file was first posted on August 2,
2003]
Edition: 10
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1

0. START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK O LIVRO DE
CESARIO VERDE ***
Produced João Miguel Neves from images of the National Digital
Library project from the National Library of Portugal.
O LIVRO DE CESARIO VERDE
Prefácio
A JORGE VERDE
Aqui deponho em suas mãos e debaixo dos seus lábios o livro do seu
irmão. A minha «obra» terminou no dia em que elle saiu da nossa doce
amizade para a nossa terrível amargura: morri, meu querido
Jorge--deixe-me chamar assim ao irmão do meu querido
Cesario;--morri para as alegrias do trabalho, para as esperanças dos
enganos doces! O desmoronamento fez-se, a um tempo, no espírito e no
coração! Dos restos do passado deixe-me offerecer-lhe a dedicação
extremada: peça-me o sacrifício; e, quando no decorrer da vida, se
lembrar de nós, tenha este pensamento consolador:--A grande alma de
meu irmão soube impôr-se a um coração endurecido; e tenha este outro
pensamento: --Mas não estava de todo endurecido o coração que soube
amal-a.
Adeus, meu querido Jorge!
S.P.
20 de julho de 1886.
Encontrámo-nos pela primeira vez no Curso Superior de Lettras. Foi
em 1873. Cesario Verde marticulara-se no Curso em homenagem ás
Lettras, como se as Lettras lá estivessem--no Curso. Eu matriculara-me,
com a esperança de habilitar-me um dia á conquista de uma cadeira
disponivel. Encontrámo-nos e ficámos amigos--para a vida e para a
morte.
Para a vida e para a morte.

Tenho de fallar de mim, se eu pretendo fallar de Cesario Verde. Elle
não teve, desde aquelle dia--ha treze annos--maior amigo do que eu fui;
e sobre esta mesa onde eu estou escrevendo, ás 10 horas da noite d'este
formidavel dia glacial--20 de Julho de 1886, dia do seu enterro,--sobre
esta mesa onde eu estou escrevendo tenho estas palavras suas de ha
poucos dias:--«E como se dê o caso de tu seres o mais dedicado dos
meus amigos...» Tenho aqui essas palavras: ellas constituem a
justificação dos meus soluços de ha poucas horas, alli, no cemiterio
visinho onde elle dorme--o Cesario!--a sua primeira noite redimida...
Eu fui, pois, a luctar nas grandes batalhas da Desgraça, n'aquelle anno
para mim terrivel de 1874. Fui-me, a dezenas de leguas de Lisboa. Elle
ficou. E no dia em que eu medi forças com as avançadas do meu
destino, a inquietação invadiu o espirito e o coração de Cesario Verde,
por modo que já eu assoberbara com o meu desprezo a desventura
pertinaz e ainda elle não vingára libertar-se do peso de seus cuidados e
afflições. Durante annos escreveu-me centenares de
paginas--commentarios sobre os meus infortunios, conselhos do seu
espirito lucidissimo, sobresaltos do seu coração fraternal. Um dia,
trocámos estas palavras:--«Como tu tens tempo, meu amigo, para
soffrer tanto!»--«Como tu tens tempo, meu amigo, para me acompanhar
no soffrimento!».
É indispensavel ter conhecido intimamente Cesario Verde para
conhecel-o um pouco. Os que apenas lhe ouviram a phrase rapida,
imperiosa, dogmatica, mal podem imaginar o fundo de tolerancia
espectante d'aquelle bello e poderoso espirito. Elle tinha o furor da
discussão--a toda a hora. Eu careço de preparar-me durante horas para a
simples comprehensão. As exigencias do meu caro polemista
irritavam-me. Eu respondia ao acaso; mas acontecia por vezes que o
sorriso ligeiramente ironico do perseguidor expandia-se n'um bom e
largo sorriso de convencido; e então--meu querido amigo! meu santo
poeta!--elle saudava com um enthusiasmo de creança amoravel o que
elle chamava o meu triumpho! Não hesitava em confessar-se vencido; e
congratulava-se commigo--porque eu o vencera inconscientemente. A
generosa alma chamava áquillo a minha superioridade!

Os campos, a verdura dos prados e dos montes; a liberdade do homem
em meio da natureza livre: os seus sonhos amados; as suas realidades
amadas! Quando
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 19
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.