vem! A actriz que tanto comprimento
E a quem, á noite 
na plateia, attraio
Os olhos lizos como polimento!
Com seu rostinho 
estreito, friorento,
Caminha agora para o seu ensaio. 
E aos outros eu admiro os dorsos, os costados
Como lajões. Os bons 
trabalhadores!
Os filhos das lezirias, dos montados;
Os das 
planicies, altos, aprumados;
Os das montanhas, baixos, trepadores! 
Mas fina de feições, o queixo hostil, distincto,
Furtiva a tiritar em 
suas pelles,
Espanta-me a actrizita que hoje pinto,
N'este dezembro 
energico, succinto,
E n'estes sitios suburbanos, reles! 
Como animaes communs, que uma picada esquente,
Elles, bovinos, 
masculos, ossudos,
Encaram-n'a sanguinea, brutamente:
E ella 
vacilla, hesita impaciente
Sobre as botinhas de tacões agudos. 
Porém, desempenhando o seu papel na peça,
Sem que inda o publico 
a passagem abra,
O demonico arrisca-se, atravessa
Covas, entulhos, 
lamaçaes, depressa,
Com seus pésinhos rapidos, de cabra! 
NOITES GELIDAS 
MERINA 
Rosto comprido, airosa, angelical, macia,
Por vezes, a allemã que eu 
sigo e que me agrada,
Mais alva que o luar de inverno que me esfria,
Nas ruas a que o gaz dá noites de ballada;
Sob os abafos bons que
o Norte escolheria,
Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,
Recorda-me a elegancia, a graça, a galhardia
De uma ovelhinha 
branca, ingenua e delicada. 
SARDENTA 
Tu, n'esse corpo completo,
Ó lactea virgem doirada,
Tens o 
lymphatico aspecto
D'uma camelia melada. 
FLORES VELHAS 
Fui hontem visitar o jardimzinho agreste,
Aonde tanta vez a luz nos 
beijou,
E em tudo vi sorrir o amor que tu me deste,
Soberba como 
um sol, serena como um vôo. 
Em tudo scintillava o limpido poema
Com osculos rimado ás luzes 
dos planetas;
A abelha inda zumbia em torno da alfazema;
E 
ondulava o matiz das leves borboletas. 
Em tudo eu pude ver ainda a tua imagem,
A imagem que inspirava os 
castos madrugaes;
E as virações, o rio, os astros, a pasizagem,
Traziam-me á memoria idyllios immortaes. 
Diziam-me que tu, no florido passado,
Detinhas sobre mim, ao pé 
d'aquellas rosas,
Aquelle teu olhar moroso e delicado,
Que fala de 
languor e d'emoções mimosas; 
E, ó pallida Clarisse, ó alma ardente e pura,
Que não me desgostou 
nem uma vez sequer,
Eu não sabia haurir do calix da ventura
O 
nectar que nos vem dos mimos da mulher. 
Falou-me tudo, tudo, em tons commovedores,
Do nosso amor, que 
uniu as almas de dois entes;
As falas quasi irmãs do vento com as 
flores
E a molle exhalação das varzeas rescendentes. 
Inda pensei ouvir aquellas coisas mansas
No ninho de affeições
creado para ti,
Por entre o riso claro, e as vozes das creanças,
E as 
nuvens que esbocei, e os sonhos que nutri. 
Lembrei-me muito, muito, ó symbolo das santas,
Do tempo em que 
eu soltava as notas inspiradas,
E sob aquelle ceo e sobre aquellas 
plantas
Bebemos o elixir das tardes perfumadas. 
E nosso bom romance escripto n'um desterro,
Com beijos sem ruido 
em noites sem luar,
Fizeram-m'o reler, mais tristes que um enterro,
Os goivos, a baunilha e as rosas de toucar. 
Mas tu agora nunca, ah! nunca mais te sentas
Nos bancos de tijolo em 
musgo atapetados,
E eu não beijarei, ás horas somnolentas,
Os 
dedos de marfim, polidos e delgados... 
Eu, por não ter sabido amar os movimentos
Da estrophe mais ideal 
das harmonias mudas,
Eu sinto as decepções e os grandes desalentos
E tenho um riso mau como o sorrir de Judas. 
E tudo emfim passou, passou como uma penna,
Que o mar leva no 
dorso exposto aos vendavaes,
E aquella doce vida, aquella vida 
amena,
Ah! nunca mais virá, meu lyrio, nunca mais! 
Ó minha boa amiga, ó minha meiga amante!
Quando hontem eu pisei, 
bem magro e bem curvado,
A areia em que rangia a saia roçagante,
Que foi na minha vida o ceo aurirosado, 
Eu tinha tão impresso o cunho da saudade,
Que as ondas que formei 
das suas illusões
Fizeram-me enganar na minha soledade
E as azas 
ir abrindo ás minhas impressões. 
Soltei com devoção lembranças inda escravas,
No espaço construi 
phantasticos castellos,
No tanque debrucei-me em que te debruçavas,
E onde o luar parava os raios amarellos.
Cuidei até sentir, mais doce que uma prece,
Suster a minha fé, n'um 
veo consolador,
O teu divino olhar que as pedras amollece,
E ha 
muito que me prendeu nos carceres do amor. 
Os teus pequenos pés, aquelles pés suaves,
Julguei-os esconder por 
entre as minhas mãos,
E imaginei ouvir ao conversar das aves
As 
celicas canções dos anjos aos teus irmãos. 
NOITE FECHADA 
(L.) 
Lembras-te tu do sabbado passado,
Do passeio que démos, devagar,
Entre um saudoso gaz amarellado
E as caricias leitosas do luar? 
Bem me lembro das altas ruasinhas,
Que ambos nós percorremos de 
mãos dadas:
Ás janellas palravam as visinhas;
Tinham lividas luzes 
as fachadas. 
Não me esqueço das cousas que disseste,
Ante um pesado templo 
com recortes;
E os cemiterios ricos, e o cypreste
Que vive de 
gorduras e de mortes! 
Nós saíramos proximo ao sol-posto,
Mas seguiamos cheios de 
demoras;
Não me esqueceu ainda o meu desgosto
Nem o sino 
rachado que deu horas. 
Tenho ainda gravado no sentido,
Porque tu caminhavas com prazer,
Cara rapada, gordo e presumido,
O padre que parou para te ver. 
Como uma mitra a cúpula da egreja
Cobria parte do ventoso largo;
E essa bocca viçosa de cereja,
Torcia risos com sabor amargo. 
A lua dava tremulas brancuras,
Eu ia cada    
    
		
	
	
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