Novelas do Minho, by Camilo 
Castelo Branco 
 
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Title: Novelas do Minho 
Author: Camilo Castelo Branco 
Release Date: May 9, 2007 [EBook #21406] 
Language: Portuguese 
Character set encoding: ISO-8859-1 
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DO MINHO *** 
 
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OBRAS DE CAMILLO CASTELLO BRANCO
Novellas do Minho 
Volume I 
SEGUNDA EDIÇÃO 
LISBOA Parceria ANTONIO MARIA PEREIRA 
LIVRARIA-EDITORA Rua Augusta, 50, 52 e 54 1903 
 
OBRAS DE CAMILLO CASTELLO BRANCO 
EDIÇÃO POPULAR 
XVII 
NOVELLAS DO MINHO 
 
VOLUMES PUBLICADOS 
I--Coisas espantosas. II--As tres irmans. III--A engeitada. IV--Doze 
casamentos felizes. V--O esqueleto. VI--O bem e o mal. VII--O senhor 
do Paço de Ninães. VIII--Anathema. IX--A mulher fatal. X--Cavar em 
ruinas XI } } Correspondencia epistolar. XII } XIII--Divindade de 
Jesus. XIV--A doida do Candal. XV--Duas horas de leitura. 
XVI--Fanny. XVII } XVIII } Novellas do Minho. XIX } 
 
CAMILLO CASTELLO BRANCO 
NOVELLAS DO MINHO 
SEGUNDA EDIÇÃO 
LISBOA Parceria ANTONIO MARIA PEREIRA LIVRARIA 
EDITORA Rua Augusta, 50, 52 e 54 1903
LISBOA Officinas Typographica e de Encadernação Movidas a vapor 
Rua dos Correeiros, 70 e 72, 1.^o 1903 
 
I 
GRACEJOS QUE MATAM 
Isto de querer ter graça e de fazer rir os outros anda por boa gente no 
dia de hoje. 
Theatro de Manoel de Figueiredo. Censores do theatro, T. VI, pag. 36 
 
Ao Dr. Thomaz de Carvalho 
 
*GRACEJOS QUE MATAM* 
Ordinariamente, chamam-se á franceza--espirituosos--uns sugeitos 
dotados de genio motejador, applaudidos com a gargalhada, e 
aborrecidos áquelles mesmos que os applaudem. São os caricaturistas 
da graciosidade. 
O «espirituoso», á moderna, abrange os variados officios que, antes da 
nacionalisação d'aquelle extrangeirismo, pertenciam parcialmente aos 
seguintes personagens, uns de caza, outros importados: 
Chocarreiro--tregeiteador--arlequim--palhaço--proxinella--polichinello-
- 
--maninêllo--truão--jogral--goliardo--histrião--farcista--farçola--végete-
- --bobo--pierrot--momo--bufão--folião, etc. 
Esta riqueza de synonimia denota que o bobo medieval bracejou na 
peninsula iberica vergonteas e enxertias em tanta copia que foi preciso 
dar nome ás especies.
Ora, o «espirituoso» tem de todas. A antiga jogralidade, que era mestér 
vil, acendrada nos secretos crizoes do progresso social, chegou a nós 
afidalgada em «espirito», e com o fôro maior de faculdade poderosa, 
caustica, implacavel. 
Ainda assim o estreme espirito portuguez, por mais que o afiem e 
agucem, é sempre rombo e lerdo: não se emancipa da velha escola das 
farças: é chalaça. 
Ha poucos mezes, falleceu em Lisboa um «espirituoso» que andou 
trinta ou quarenta annos a passear a sua reputação entre o Chiado e o 
Rocio. As gazetas, ao mesmo passo que nos inculcavam o defunto 
como pessoa que vivêra aventurosamente uns setenta annos tingidos 
com primoroso pincel, descontavam n'estes defeitos a sua immensa 
graça, e reproduziram nova edição melhorada das suas anecdotas. 
Averiguado o «espirito» do homem em coisas burlescas de que fez 
mercancia na feira politica, liquida-se, quando muito, um folião que 
desbragava a penna e desembestava asselvajadamente o insulto. Por 
este, que não deixou nome sobre-vivente para vinte quatro horas--nem 
o terá aqui--orça a maioria dos jograes que tenho visto, nos ultimos 
trinta annos, esburgar o osso da facção que lhes alquilla o engenho 
detrahidor, e acabarem antes da geração que os galardoou com a moeda 
falsa das rizadas. 
O satyrico de sala e botequim é mais funesto e menos trivial que o 
politico; mais funesto por que vulnéra melindres--coisa que o callôso 
peito da politica não tem nem finge; menos trivial, porque o chiste de 
Sterne, de Byron, de Voltaire, do padre Isla, de Heine e Boerne não 
apégou aqui, nem se adelgaça á feição da nossa indole, bem accentuada 
nas chocarrices plebeas de Gil Vicente e Antonio José. 
É mais funesto, repito; por que me occorre hoje, regressando das 
Caldas de Vizella, uma historia funestissima de que só eu posso 
lembrar me. Duas chalaças terçadas entre dois amigos, cavaram 
sepulturas de vidas e honras. Se as novellas podessem ensinar alguma 
coisa, corrigindo aleijões da alma, eu pediria aos gracejadores que 
lessem isto; e, nas occasiões em que a lingua lhes descabe na bocca,
engrossada pela opilação da dicacidade, a refreassem com os dentes. 
* * * * * 
Era em 1851. 
Apresso me a declarar que, no tocante a nomes e localidades, desfigurei 
tudo, salvo generalidades vagas e o logar em que principia a narrativa. 
O que menos monta na exactidão da historia é o que ahi se illide. 
Nomear pessoas e terras seria denunciar inutilmente um crime. O 
criminoso está diante do Juiz inappellavel,    
    
		
	
	
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