Miniaturas Romanticas

Sebastião de Magalhães Lima
Romanticas, by Sebastião de
Magalhães Lima

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Title: Miniaturas Romanticas
Author: Sebastião de Magalhães Lima
Release Date: May 22, 2007 [EBook #21567]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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MINIATURAS ROMANTICAS ***

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dos municipios da ria)

MAGALHÃES LIMA

* * * * *
*MINIATURAS ROMANTICAS*
Martyrio d'um Anjo.--Amour et Champagne.--Um drama intimo.--A
Fatalidade e o destino.--Cambiantes da comedia humana.--Estrellas e
Nuvens--Á Beira-Mar.--Um dia de noivado.
COIMBRA Imprensa da Universidade 1871
MINIATURAS ROMANTICAS
*MINIATURAS ROMANTICAS*
POR
MAGALHÃES LIMA
Ce livre............................ Tremble et palpite abrité sous vos pieds.
VICTOR HUGO.
COIMBRA
Imprensa da Universidade
1871
A
MEU PAE

DUAS PALAVRAS
*Miniaturas romanticas*--é um livrinho modesto e despretencioso. O
seu auctor não aspira aos louros d'uma gloria certa e immorredoura.
Tem desejos; estuda para isso; e tanto lhe basta.

O auctor.

*MARTYRIO D'UM ANJO*

MARTYRIO D'UM ANJO
Despontara risonho o dia 23 de maio de 1856. Era profundo o anil do
céu. Nem uma nuvem sequer toldava o puro azul do firmamento, nem
um sôpro de desgosto vinha embaciar o prisma da felicidade humana.
Tudo era bulicio, vida, amor!...
A natureza, revestida das magnificentes pompas da primavera,
desentranhava-se em flores e fructos, revelando mais e mais a grandeza
e omnipotencia do Creador, que avulta tanto no mais humilde insecto,
como no mais esplendido organismo.
Folgava a toutinegra no raminho frondente, dizendo-se ternos amores
com o emplumado rouxinol, cujo canto mavioso repercutia em echos
longinquos o idyllio melancolico da creação.
Impellida doudejava a mariposa de flor em flor, e a brisa, tepida,
ciciava de mansinho ao perpassar por sobre a solitaria florinha.
Em delirantes extasis, suspirava a pudibunda donzella, sorvendo grata a
vida num casto e puro anceio.
O amante, sem desfitar os olhos da fugitiva lympha, mudo contemplava,
gentil, o retrato da sua amada.
E ao pobre faminto, para quem a ventura fôra meteóro fugaz, no
horisonte medonho da humana desdita, sorriu a furto um raio de
esperança no seu espirito angustiado por cruciante dôr.
Sublime era o quadro, beatifica a visão!

E qual seria o ente, cuja alma fosse aleitada por uma centelha divina,
que não sentisse arrobar-se-lhe a existencia ao contemplar tão sublime
maravilha, tão rara formosura!!...
Que Raphael seria capaz de reproduzir na tela esta estrophe melodiosa
e suavissima do Senhor, a que os homens deram o nome
de--primavera!!...
* * * * *
Mollemente reclinada em flacida alfombra, Leonor, parecera, comtudo,
indifferente ás doçuras d'este panorama, e ao brilho da sua divina
poesia. Em que scismava aquelle anjo de pudor?... Que fatal
magnetismo a arrastara ali?
Ninguem o poderá dizer. Ao certo só sabemos que a sua alma, cheia de
sublime poesia, procurara instinctivamente aquella solidão, como que
agrilhoada pela necessidade innata de fugir ao mundo e aos seus
encantos.
Leonor chegara do Brasil havia poucos mezes. Cecilia, sua mãe,
vendo-se viuva, com este unico thesouro das suas entranhas, para logo
tractara de alugar casa em Bemfica, não só por ser esse o logar da sua
naturalidade, senão tambem pelo desejo de satisfazer ás reiteradas
instancias de sua filha, que desde muito aborrecia a cidade. Ali viviam
aquelles dois anjos uma vida beatifica, alentados pela mutua esperança,
e identificados pelos poderosos laços do amor.
Leonor, no dia em que a encontrámos, completara vinte annos: tinha,
portanto, attingido essa idade sublime e mysteriosa, mórmente para a
mulher, que, elegiaca por condição, sente o vacuo da sua existencia,
arrojando-se loucamente ás ondas do amor, talvez, pela natural
fragilidade da sua natureza.
Quem sabe, se n'isto divagaria a nossa poetiza, no momento em que a
encontrámos no seu pittoresco jardim?
Uns vislumbres de saudade, de tristeza e melancolia animavam seu

rosto naturalmente pallido.--Aquelles olhos pretos e rasgados,
enturvecidos por uma nevoa de languidez, provavam bem quantos e
quão perigosos seriam os pensamentos que se lhe agitavam na mente.
Sua mãe viera pé ante pé, curiosa, sem duvida, por penetrar no
recondito d'aquelle coração. Leonor presentiu-a, e sorriu-se. Cecilia
pousou seus castos labios na angelica fronte da filha, e nella depositou,
com maternal carinho, o nectar que dimanava de seu extremoso peito.
Depois, tomando entre as suas as mãos d'aquella pomba, disse:
--Então que tens tu, minha querida filha? Tão triste e solitaria no dia de
teus annos! Ora anda: falla francamente a tua mãe.
--Oh! minha querida mãe, quanto lhe sou devedora! Como havia de eu
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