Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terramoto de 1755 | Page 2

Cristóvão Aires
n?o podendo o proprio dono do ch?o edificar, podesse qualquer outro edificador comprallo �� Inspec??o, a qual entregava o dinheiro da compra ao dono do ch?o.
?Ouvi que fora o projecto de se n?o consentir, em ras?o dos terremotos, que as casas da cidade nova tivessem mais do que lojas e dois andares; mas que em atten??o ��s representa?oens dos edificantes, que n?o podi?o ter interesse algum em edificar casas de t?o poucos andares, veio o Governo a consentir que se edificassem de tres e agoas furtadas; e ent?o se principiou a edificar segundo o prospecto que dera Eugenio dos Santos, consistindo em 1.^o andar de sacadas, 2.^o e 3.^o, e agoas furtadas de janelas de peito; �� excep??o das casas da Pra?a do Rocio, as quaes tem, n?o sei porque, no 1.^o andar janellas alternadas de sacada e de peito; o que faz com que esta pra?a perca huma grande parte da bellesa que podia ter. As agoas dos telhados er?o recebidas em meios canaes praticados no cimo das paredes, e conduzidas �� rua por canaes praticados nestas, o que dava hum ar de nobreza ��s frontarias, n?o se vendo as biqueiras; e muito commodo aos viandantes. Este risco veio depois a alterar-se no successivo reinado, n?o s�� praticando-se 4.^{os} e 5.^{os} andares sem sacadas, ou com sacadas em todos elles, mas deixando-se cair por biqueiras as agoas �� rua; e para mais depravado gosto, estabelecer?o varandas, e sobre varandas nos 4.^{os} e 5.^{os} andares, cuja enxelharia he lavrada a maneira de telha e pintada da mesma c?r. Parece impossivel que tal reedifica??o viesse �� lembran?a dos habitantes de huma Cidade sujeita a terremotos, e que tinha soffrido os effeitos do de 1755. He verdade que as casas construidas de madeira do 1.^o andar para cima, crescendo depois as paredes de pedra e cal, como accessorias, s?o hum abrigo aos desastres que podem resultar de hum terramoto, para as pessoas que se acharem dentro dellas, e n?o tiverem o desacordo de sahir para a rua; mas desgra?ados dos que se acharem nas ruas, se o abalo derrubar as paredes; porque a enxelharia dos 4.^{os} e 5.^{os} andares n?o deixar�� nenhum vivo.
Ao primeiro risco da cidade baixa, e ruas principaes ajuntou o architecto os necessarios e utilissimos passeios; e n?o sei porque fatalidade deixa de os haver na maior parte das ruas de Lisboa que os podem admittir; comtudo n?o lhe louvo a bordadura dos colonellos, que alem da despeza, e extravagante configura??o, occup?o hum lugar nos passeios tirado aos viandantes, devendo s�� existir nas esquinas, para impedir que os carros e carroagens passem, ao voltar, por cima dos pavimentos. Mas o que he imperdoavel nesta nova reedifica??o, he que todas as ruas n?o tenh?o canos, e todas as casas, cloacas, para o despejo das primeiras immundicias; he verdade que o dito architecto deo o risco dos canos que se ach?o em algumas ruas da cidade nova; mas t?o dispendiosas pela pedra lavrada que nelles se empregou, que julgo ser esta a causa de os n?o haver nas mais ruas; e t?o defeituosas na sua configura??o que n?o preenchem, ou preenchem mui mal os fins para que s?o destinados. Primeiramente por terem pavimentos chatos subindo as paredes lateraes em angulos rectos, nos quaes se depoem as immundicias; e em segundo lugar por darem entrada ��s agoas da mar��, diffundindo-se nas casas hum fedor tal, que as torna quasi inhabitaveis, o que tudo se pode emendar em aquelles que de novo se fizerem: 1.^o construindo-se de tijolo, por ser mais barato, e em forma eliptica para se n?o estagnarem as immundicias; 2.^o ficando suas desembocaduras superiores ��s agoas das enchentes do Tejo; 3.^o encanando-se-lhes as agoas dos telhados, ruas e cosinhas, para os conservar sempre lavados; providencias que se devem igualmente estender a toda a cidade velha, e sem as quaes a fedorenta cidade de Lisboa, ser�� sempre hum manancial de molestias, a vergonha da na??o, e hum objecto ascaroso pelos mont?es de immundicias accumuladas nas ruas, por effeito do descuido inveterado de se n?o varrerem, e se n?o tirarem com a devida regularidade, n?o obstante as rendas que ha destinadas para isso?.
�� um interessante quadro de Lisboa do seculo XVIII, antes do terremoto. Quem o quizer conhecer completo leia o livro de Ratton.
Seguem-se considera??es que por extensas n?o transcrevemos, mas que, com o trecho que deixamos reproduzidos, servir?o para confrontar as ideias do tempo e o que Ratton indica como realisado, attribuindo-o ao executor Eugenio dos Santos, com o que na importante memoria inedita, que adeante publicamos, Manuel da Maya apresenta como plano dos diversos servi?os a executar, revindicando para este engenheiro a legitima gloria de as haver preconizado e indicado aos poderes publicos.
Continuando, diz Jacome Ratton:--?Succedeo a Eugenio dos Santos hum architecto allem?o (ali��s hungaro) chamado Carlos Mardel, o qual
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