flexibilidade e 
equilibrio, cabendo evidentemente aos engenheiros que trabalharam na 
obra da reedificação essa iniciativa. Ao engenheiro Carlos Mardel, que 
tão largo quinhão teve nesses trabalhos, sobretudo depois da morte do 
engenheiro Eugenio dos Santos e Carvalho[4], é attribuida essa 
innovação[5]; mas não ha, que nos conste, documento que o prove. Na 
importante dissertação inedita de Manuel da Maya, que adeante 
publicamos, relativa aos trabalhos para a reedificação de Lisboa, ha
referencia a edificios de madeira e aos de pedra e cal, e se fala do 
«horror em [~q] se achava o publico contra edificios [~q] não fossem 
de simples madeira», o que parece evidente não se referir á adopção das 
gaiolas de madeira para a edificação; mas ás barracas de madeira que se 
tinham construido. Seria dessa preferencia pelas construcções de 
madeira, principalmente empregadas para resistir aos embates do mar, 
nas praias, que teria vindo originariamente, entre nós, a ideia da 
armação de madeira p.^a as nossas edificações, independentemente do 
que se passava noutros paises? E porque não? Temos geralmente 
tendencia para desluzirmos as nossas iniciativas proprias, querendo 
attribuir a sua paternidade a estrangeiros; mas em cerebros portugueses 
tambem germinam ideias novas, como o prova o nonio, o aerostato de 
Bartholomeu de Gusmão, e tantas outras. Mas tambem pode ser que 
fosse realmente á experiencia por Carlos Mardel adquirida na Hollanda 
que se devesse a innovação. 
Carlos Mardel, natural da Hungria, como diz a tradição, ou de origem 
francesa, como suspeita o Sr. Sousa Viterbo[6], deixou o seu nome 
ligado aos trabalhos da reconstituição da cidade, como o ligou tambem 
a outras importantes obras publicas e particulares; pois que, alem de 
architecto das Aguas Livres, dos paços reaes e das tres ordens militares, 
e de varias obras religiosas, como veremos, foi medidor das fortalezas 
da barra, fallecendo no posto de coronel de infantaria com exercicio de 
engenheiro. Entre as obras notaveis que traçou estão as da 
reconstrucção do Real Collegio de S. Paulo de Coimbra em 1752. 
[Figura: Carlos Mardel] 
Em novembro de 1755 foi o engenheiro Carlos Mardel encarregado 
pelo Cardeal Patriarcha de Lisboa de ver o estado em que estava a 
Igreja de S. Bento depois do terremoto, sobre o que elle informou que 
«achou toda a igreja em muito bom estado, sem ter recebido damno 
algum e em excellente estado de servir; porem a sacristia he a peyor e 
incapaz de servir, e em lugar della achei hum grande refeitorio e casa 
de profundis diante do Refeitorio, ambas escusadas para os Padres do 
dito Mosteiro, as quaes são misticas ao lado da Epistola da Capella mór; 
e abrindo-se porta para a Igreja no mesmo lado, temos tudo o que for
mister para accommodar a Patriarchal, e ainda com mais abundancia do 
que aonde estava antes».--Em vista disso passaram para aquella igreja 
os officios da Patriarchal. 
Succedeu porem que sendo a informação de Carlos Mardel de 17 de 
novembro, no dia 19 desse mesmo mez ia o capitão engenheiro 
Eugenio dos Santos e Carvalho informar o Patriarcha de que, embora 
concordasse com o parecer do seu collega quanto á segurança do corpo 
e cruzeiro da referida Igreja, «se lhe fazia suspeitosa uma parede da 
Capella que, sendo ordinaria, se pode reparar com modica 
despeza».--Foi este parecer seguido; e fez-se a obra completa sob a 
direcção do então tenente coronel Carlos Mardel e do capitão Eugenio 
dos Santos[7]. 
Entre as curiosidades apresentadas na Exposição de Cartographia da 
Sociedade de Geographia, em 1903, figurava uma Planta topographica 
da cidade de Lisboa arruinada, e tambem segundo o novo alinhamento 
dos architectos Eugenio dos Santos e Carvalho e Carlos Mardel, feito 
por João Pedro Ribeiro. Pertence á Direcção dos Trabalhos 
Geodesicos[8]. 
[Figura: João Frederico Ludovici, Architecto-mor] 
Mas embora os nomes de Eugenio dos Santos e Carvalho e Carlos 
Mardel, que Manuel da Maya considerava «alem de engenheiros de 
profissão, os primeiros architectos na architectura civil», sejam os que 
mais soam e mais elevado quinhão representam nesses memoraveis 
trabalhos herculeos, muitos foram os engenheiros militares que nelles 
tiveram parte sob a direcção de Manuel da Maya. Na importante 
Memoria d'este celebre engenheiro-mor, que em seguida publicamos, 
veem citados, alem dos nomes de Mardel e Eugenio dos Santos, os do 
capitão Elias Sebastião Pope e Pedro Gualter da Fonseca, e praticantes 
Francisco Pinheiro da Cunha e José Domingos Pope, como tendo sido 
por elle eleitos para o auxiliarem na monumental obra da reconstrucção 
da cidade. Reynaldo Manuel se chamava, como vimos, o engenheiro 
nomeado p.^a substituir Carlos Mardel nas obras da reconstrucção de 
Lisboa, quando este morreu em 1763. Jacome Ratton fala com 
encarecimento de um engenheiro militar, estrangeiro mas que muitos
serviços prestou entre nós. E João Frederico Ludovici, o celebre 
architecto de Mafra, e que Ratton apresenta como sendo o que mais 
geito e arte mostrou na traça e edificação das casas particulares em    
    
		
	
	
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