por maneira que me não consta que 
alguem perdesse o seu terreno. A Inspecção taxou o preço de cada 
palmo de frontaria, conforme a situação das ruas, para que não 
querendo ou não podendo o proprio dono do chão edificar, podesse 
qualquer outro edificador comprallo á Inspecção, a qual entregava o 
dinheiro da compra ao dono do chão. 
«Ouvi que fora o projecto de se não consentir, em rasão dos terremotos, 
que as casas da cidade nova tivessem mais do que lojas e dois andares; 
mas que em attenção ás representaçoens dos edificantes, que não 
podião ter interesse algum em edificar casas de tão poucos andares, 
veio o Governo a consentir que se edificassem de tres e agoas furtadas; 
e então se principiou a edificar segundo o prospecto que dera Eugenio
dos Santos, consistindo em 1.^o andar de sacadas, 2.^o e 3.^o, e agoas 
furtadas de janelas de peito; á excepção das casas da Praça do Rocio, as 
quaes tem, não sei porque, no 1.^o andar janellas alternadas de sacada e 
de peito; o que faz com que esta praça perca huma grande parte da 
bellesa que podia ter. As agoas dos telhados erão recebidas em meios 
canaes praticados no cimo das paredes, e conduzidas á rua por canaes 
praticados nestas, o que dava hum ar de nobreza ás frontarias, não se 
vendo as biqueiras; e muito commodo aos viandantes. Este risco veio 
depois a alterar-se no successivo reinado, não só praticando-se 4.^{os} 
e 5.^{os} andares sem sacadas, ou com sacadas em todos elles, mas 
deixando-se cair por biqueiras as agoas á rua; e para mais depravado 
gosto, estabelecerão varandas, e sobre varandas nos 4.^{os} e 5.^{os} 
andares, cuja enxelharia he lavrada a maneira de telha e pintada da 
mesma côr. Parece impossivel que tal reedificação viesse á lembrança 
dos habitantes de huma Cidade sujeita a terremotos, e que tinha 
soffrido os effeitos do de 1755. He verdade que as casas construidas de 
madeira do 1.^o andar para cima, crescendo depois as paredes de pedra 
e cal, como accessorias, são hum abrigo aos desastres que podem 
resultar de hum terramoto, para as pessoas que se acharem dentro dellas, 
e não tiverem o desacordo de sahir para a rua; mas desgraçados dos que 
se acharem nas ruas, se o abalo derrubar as paredes; porque a 
enxelharia dos 4.^{os} e 5.^{os} andares não deixará nenhum vivo. 
Ao primeiro risco da cidade baixa, e ruas principaes ajuntou o 
architecto os necessarios e utilissimos passeios; e não sei porque 
fatalidade deixa de os haver na maior parte das ruas de Lisboa que os 
podem admittir; comtudo não lhe louvo a bordadura dos colonellos, 
que alem da despeza, e extravagante configuração, occupão hum lugar 
nos passeios tirado aos viandantes, devendo só existir nas esquinas, 
para impedir que os carros e carroagens passem, ao voltar, por cima dos 
pavimentos. Mas o que he imperdoavel nesta nova reedificação, he que 
todas as ruas não tenhão canos, e todas as casas, cloacas, para o despejo 
das primeiras immundicias; he verdade que o dito architecto deo o risco 
dos canos que se achão em algumas ruas da cidade nova; mas tão 
dispendiosas pela pedra lavrada que nelles se empregou, que julgo ser 
esta a causa de os não haver nas mais ruas; e tão defeituosas na sua 
configuração que não preenchem, ou preenchem mui mal os fins para
que são destinados. Primeiramente por terem pavimentos chatos 
subindo as paredes lateraes em angulos rectos, nos quaes se depoem as 
immundicias; e em segundo lugar por darem entrada ás agoas da maré, 
diffundindo-se nas casas hum fedor tal, que as torna quasi inhabitaveis, 
o que tudo se pode emendar em aquelles que de novo se fizerem: 1.^o 
construindo-se de tijolo, por ser mais barato, e em forma eliptica para 
se não estagnarem as immundicias; 2.^o ficando suas desembocaduras 
superiores ás agoas das enchentes do Tejo; 3.^o encanando-se-lhes as 
agoas dos telhados, ruas e cosinhas, para os conservar sempre lavados; 
providencias que se devem igualmente estender a toda a cidade velha, e 
sem as quaes a fedorenta cidade de Lisboa, será sempre hum manancial 
de molestias, a vergonha da nação, e hum objecto ascaroso pelos 
montões de immundicias accumuladas nas ruas, por effeito do descuido 
inveterado de se não varrerem, e se não tirarem com a devida 
regularidade, não obstante as rendas que ha destinadas para isso». 
É um interessante quadro de Lisboa do seculo XVIII, antes do 
terremoto. Quem o quizer conhecer completo leia o livro de Ratton. 
Seguem-se considerações que por extensas não transcrevemos, mas que, 
com o trecho que deixamos reproduzidos, servirão para confrontar as 
ideias do tempo e o que Ratton indica como realisado, attribuindo-o ao 
executor Eugenio dos Santos, com o que na importante memoria 
inedita, que adeante publicamos, Manuel da Maya apresenta como 
plano dos diversos serviços a    
    
		
	
	
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