resta?...» 
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser 
granito,
Ser rugido de tigre na floresta! 
*Amiga* 
AMIGA 
Deixa-me ser a tua amiga, Amôr;
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amôr seja a melhor
A mais triste de todas as 
mulheres. 
Que só, de ti, me venha mágua e dôr
O que me importa a mim?! O 
que quiséres
É sempre um sonho bom! Seja o que fôr
Bemdito sejas 
tu por m'o dizêres! 
Beija-me as mãos, Amôr, devagarinho...
Como se os dois 
nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho... 
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas 
mãos,
Os beijos que sonhei p'rá minha bôca!... 
*Desejos vãos* 
DESEJOS VÃOS
Eu qu'ria ser o Mar d'altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu qu'ria ser a pedra que não pensa,
A Pedra do caminho, rude e 
forte! 
Eu qu'ria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem 
sorte!
Eu qu'ria ser a arvore tôsca e densa
Que ri do mundo vão e 
até da morte! 
Mas o Mar tambêm chora de tristesa...
As Arvores tambêm, como 
quem resa,
Abrem, aos Ceus, os braços, como um crente! 
E o Sol altivo e forte, ao fim dum dia,
Tem lágrimas de sangue na 
agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!... 
*Peor velhice* 
PEOR VELHICE 
Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha 
bôca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, naufraga da 
Vida, ando a morrer! 
A Vida que ao nascer enfeita e touca
D'alvas rosas, a fronte da 
mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a 
emurchecer! 
E dizem que sou nova... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!... 
Tenho a peor velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer 
existe
Lembrança de ter sido nova... outróra... 
*A um livro* 
A UM LIVRO
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cypreste.
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de máguas 
que me deste. 
Extranho livro aquele que escreveste
Artista da saudade e do sofrer!
Extranho livro aquele em que puzéste
Tudo o que eu sinto, sem 
poder dizer! 
Leio-o e folhêio, assim, toda a minh'alma!
O livro que me déste é 
meu e psalma
As orações que choro e rio e canto!... 
Poeta egual a mim, ai quem me déra
Dizer o que tu dizes!... Quem 
soubéra
Velar a minha Dôr desse teu manto!... 
*Alma perdida* 
ALMA PERDIDA 
Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou 
perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, 
alguem que se finou! 
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dôr, 
suavemente...
Talvez sejas a alma, alma doente
D'alguem que quiz 
amar e nunca amou! 
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, 
adivinhei
Que ninguem é mais triste do que nós! 
Contaste tanta coisa á noite calma,
Que eu pensei que tu eras a 
minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!... 
*De joelhos* 
DE JOELHOS
«Bendita seja a Mãe que te gerou.»
Bendito o leite que te fez crescer.
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, p'ra te adormecer! 
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o dôce alvorecer...
Bendita seja a lua que inundou
De luz, a terra, só para te vêr... 
Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti 
ajoelharem,
Numa grande paixão fervente e louca! 
E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguem, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa bôca!! 
*Languidez* 
LANGUIDEZ 
Tardes da minha terra, dôce encanto,
Tardes duma puresa d'açucenas,
Tardes de sonho, as tardes de novenas,
Tardes de Portugal, as 
tardes d'Anto. 
Como eu vos quero e amo! Tanto! Tanto!...
Horas benditas, leves 
como pênas,
Horas de fumo e cinza, horas serênas,
Minhas horas de 
dôr em que eu sou santo! 
Fecho as palpebras rôxas, quasi pretas,
Que poisam sôbre duas 
violetas,
Azas leves cançadas de voar... 
E a minha bôca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns 
pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar... 
*Para quê?!* 
PARA QUÊ?! 
Tudo é vaidade neste mundo vão...
Tudo é tristesa; tudo é pó, é nada!
E mal desponta em nós a madrugada,
Vem logo a noite encher o
coração! 
Até o amôr nos mente, essa canção
Que o nosso peito ri á gargalhada,
Flôr que é nascida e logo desfolhada,
Pétalas que se pisam pelo 
chão!... 
Beijos d'amôr! P'ra quê?!... Tristes vaidades!
Sonhos que logo são 
realidades,
Que nos deixam a alma como morta! 
Só acredita neles quem é louca!
Beijos d'amor que vão de bôca em 
bôca,
Como pobres que vão de porta em porta!... 
*Ao vento* 
AO VENTO 
O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas asp'ras de 
demente;
E esta minh'alma trágica e doente
Não sabe se ha de rir, se 
ha de chorar! 
Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre 
a troçar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda 
a gente!... 
Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dôr a sós 
comigo,
E não rias assim!... Ó vento,    
    
		
	
	
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