(Isto me pasma! transporta! e maravilha!)
Votado a berço humilde
p'lo destino
Filho do povo,--a _Gloria_--te perfilha! 
*Mysterioso abysmo* 
Tepido sonho de luz
corpo, que destila aroma
sublime e claro 
axioma
espargindo amor a flux! 
Uma vertigem produz
teu olhar, o seio, a côma,
voluptuoso 
symptoma
que a phantasia traduz. 
Debil flôr, que o sol admira
beijando com azedume
as estrellas de 
saphira... 
mas ninguem sequer presume
que o meu coração expira
na 
mortalha do ciume. 
*Na floresta* 
Conversa nos abetos a bafagem,
Nas franças range o vento 
compassado
E á matilha esquivando-se um veado
Pasma de vêr no 
bréjo a sua imagem. 
Que rumor tão subtil, que doce agrado,
Poesia terna e perfida, 
selvagem,
Em que os echos se arrastam na folhagem
Entre doceis 
de musgo avelludado. 
Irrompem as gazellas nos aceiros
E as cobras apparecem na giesta
Quando as gralhas alagam os olmeiros. 
Triste como o silencio da floresta,
Oiço dentro de mim uivos d'horror.
Combatem dois leões--_Ciume e Amor!_ 
*O cão de bordo* 
A cerração é densa. O pobre hiate
Sem leme desarvóra na refrega;
Penetra na escotilha a onda céga,
Alquebra-se o baixel no duro 
embate.
A trovoada estala, a prôa abate;
No escaler a maruja ao ceu se apéga,
Este a vida infeliz surdo lhe nega,
Que as lagrimas não bastam p'ra 
resgate!... 
Um cão hirsuto, magro, avermelhado,
Com os olhos chorosos, 
flamejantes,
Que brilham como negros diamantes 
Late com desespero, busca a nado,
Mergulha entre os cadaveres 
boiantes,
O dono encontra, e morre extenuado. 
*No harem* 
No matiz do tapete auri-felpudo
Haydé reclina as fórmas langorosas,
Scismam d'inveja purpurina as rosas
Admirando-lhe as faces de 
velludo. 
Modelo, que convida a obsceno estudo
N'um desmaio entre gazes 
vaporosas
P'las cassoulas de prata sumptuosas
O ambar, o beijoim 
arde a miudo. 
Quando rompe nos ceus a madrugada
Sentem-se beijos em lascivo 
espasmo
Que illuminam a alcôva perfumada 
E um eunucho--decrepito sarcasmo!--
Que a barbacã vigia na 
esplanada,
Crê-se na terra um mero pleonasmo. 
*Esculptura* 
Que bella estatua! Collo d'alabastro,
Um riso de crystal, faces 
ardentes,
Um adreço de perolas os dentes
E os olhos chispam o 
fulgor d'um astro! 
De maus intentos o porvir alastro
Porque passando desdenhosa sentes,
Que intimidas com lividas correntes
Quem doido beija o sulco do 
teu rastro.
Paradoxo cruel! treva d'arminho,
Idolo deslumbrante, ruim creança
Que da ternura forjas sevo espinho! 
Quando te vejo occorre-me a lembrança,
Flôr de gelo, sinistro 
rosmaninho,
D'enforcar-me a sorrir na tua trança. 
*Cavatina* 
(Palavras ditas entre bastidores a uma corista) 
Tenho ideias com-_fusas_ e geladas
Sobre a _escala_ do amor onde 
resplende
_Lá_ n'esse vivo _sol_, que mais se accende
_Rallentando_ as promessas calculadas. 
A _gamma_ dos suspiros não attende,
É de mau _tom_ possuir lindas 
manadas
D'amantes, que se _afinam_ nas ciladas
Das _pausas_, que 
o desejo não entende. 
Algumas joias quiz com ar guapo
E a _compasso_ dos negros agiotas
Outras requer n'um prodigo--_dá capo_. 
Morre-se--diz o _adagio_--d'alegria
Portanto se eu pagasse em boas 
_notas_
Expiravamos ambos d' ... _harmonia_. 
*No theatro anatomico* 
Sobre a meza de marmore luxuosa
Descança scintillante formosura
D'uma creança esbelta, uma pintura,
Que parece dormir silenciosa. 
As alvas rômas, que a virtude espósa
São como alegre ninho de 
candura;
Tão fresca, tão sentida e melindrosa,
Causa pena 
entregal-a á sepultura. 
Os estudantes em prodiga algarvia
Retalhando o cadaver delicado
Jogam chufas de sordida alegria.
Mais tarde o esqueleto dissecado
Assiste ás prelecções d'anatomia
Á escuta com ar petrificado. 
*Epitaphio* 
Meu coração aqui jaz, erma ruina
Onde habita a ironia, o vil 
phantasma
Golphão anachoreta entre o miasma
Perseguido p'la 
brisa crystallina. 
O lyrio, o trevo ri junto á bonina,
Só de raiva a minha alma abdica, 
pasma
Porque a tristeza famulenta traz-m'a
Nas duras garras d'ave 
de rapina. 
Meu coração aqui, sob esta alfombra
Dos pallidos desdens, justos 
ciumes
Adora morto e frio a tua sombra. 
Até que emfim--oh ceus!--os meus queixumes
Te despertam o choro, 
que me assombra
Envolvendo o cadaver em perfumes! 
*Aquarella* 
Accorda a sombra tacita do lago,
Do rouxinol a candida volata;
A 
lua em chispas tremulas de prata
Imprime ao lesto amor um tom 
presago. 
O vento raro e brando com afago
O tredo esquife languido arrebata
E o transporta subtil, como um pirata,
Dando azas ao terror ignoto, 
vago. 
Suspira na floresta a morna aragem,
As 'strellas trocam beijos 
delirantes,
Que mais excitam castellã e pagem, 
Eis brilha uma coiraça junto á margem
E a frecha sibilando alguns 
instantes
Acaba n'um só golpe os dois amantes. 
*Testamento*
Lego uma trança do cabello d'ella
Para atar um cavallo á mangedoura
E as cartas da flacida impostora
Para embrulhar assucar e canella. 
Ao credulo rival, deixo, leitora,
A licença de entrar pela janella;
Outrosim deixo as ligas e a fivela
Que cingiram a perna encantadora: 
Os beijos que me deu ficam comigo
E a memoria das noites 
palpitantes
Hade caber tambem no meu jazigo. 
O seu retracto irá ao lupanar
P'ra assistir á luxuria das bacchantes
Já 
que a dona não vae em seu logar. 
*Barcarola* 
«Corre, vôa, borboleta, vae graciosa
Libar ondas de nectar delirante
A anémona cingir, o lyrio, a rosa
Com a aza fugitiva, coruscante. 
«Vae soffrega d'amor e sê ditosa.
Dá-se no ceu um caso semelhante
Quando estrellas em noite vaporosa
Se abysmam n'uma queda 
extravagante. 
«Vae mariposa, a chamma te fascina
Na aresta do ludibrio, como 
esphinge
Em deserto d'areia crystallina.» 
Callam-se as vozes; picam-se as amarras;
A gondola deslisa e o mar 
attinge
Ao som dos bandolins e das guitarras. 
*Bric-à-brac* 
O dono miseravel da    
    
		
	
	
	Continue reading on your phone by scaning this QR Code
 
	 	
	
	
	    Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the 
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.
	    
	    
