Garatujas

Joaquim de Melo Freitas
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The Project Gutenberg EBook of Garatujas, by Joaquim de Melo
Freitas
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Title: Garatujas
Author: Joaquim de Melo Freitas
Release Date: February 15, 2007 [EBook #20582]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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Produced by Pedro Saborano (Transcrito a partir das imagens
disponibilizadas pela Biblioteca Digital da Ria-BibRia)
*GARATUJAS*
por
*Mello Freitas*
Bacharel formado em direito, Socio correspondente da Sociedade de
Geographia de Lisboa, Socio fundador da Associação dos Jornalistas e
Escriptores portugueses e mais nada.
Tem versos naturaes, parecem prosa!
Bocage (Sonetos).

AVEIRO
IMPRENSA COMMERCIAL
Rua de José Estevam.
1883

*Voz no deserto.*
João de Deus é incontestavelmente o nosso primeiro lyrico.
Homem que acredita em Deus para não ser um João "Ninguem" que,
nas vesperas d'uma epedemia, caiou d'alto abaixo a povoação inteira de
Messines, e que no remanso d'alma inventou com affecto um methodo
racional de leitura para alegria e allivio das creanças, qual outro mais
apaixonado, de maior delicadeza e tão mavioso?
Atraz d'elle grasnou por largo espaço de tempo um rancho de patos
n'uma vozeria medonha imitando-lhe a belleza das rimas, e a estructura
da phrase.
A "Morte de D. João" de Guerra Junqueiro produziu de subito um
cataclysmo como se se rasgassem as entranhas da terra e uma cratera se
abrisse vomitando a lava em rolos de fumo. Todos se julgaram n'esse
instante com direito a molharem o pincel nas côres iriadas de tão
esplendida palheta, esboçaram por isso com as mesmas tintas os
perniciosos fructos do lupanar, cantaram o mercurio, a copahiba e a
syphilis, esfalfaram as pluraes dos adjectivos, evocaram a desditosa
Ophelia, obrigaram Christo a marchar em todas as linhas das suas
estrophes, e finalmente prenderam a cotovia entre alexandrinos
caudalosos com os epithetos mais extravagantes bebidos na leitura da
opulenta prosa de Flaubert, Zola, e Daudet.
Na esteira phosphorescente do sublime trecho de Soares Passos--"O
firmamento"--muitos outros gonfaloneiros da poesia scientifica tem
actualmente interrogado o mysterio e a duvida, hasteando um labaro de
perguntas mais causticas do que um emplasto de mostarda, pimenta e
cantharidas.

O plagiato é o grande affluente, que assopra as vagas empoladas da
litteratura.
Vou por certo, estuando e redemoinhando, entre os cachões d'aquelles
que não inventam, mas imitam, e hoje que os maiores poetas do nosso
paiz arfam dentro de encadernações luxuosas, e gemem em papel
velino, no bello typo renascença as suas endechas mais subtis e
trascendentes, para me affastar d'elles, e lhes não manchar a chlamyde
guerreira, se obedecesse aos impulsos do meu merecimento devia
gravar o escalracho dos meus sonetos, carregados de lepra, na casca
doente dos platanos ou imprimil-os, quando muito, em papel pardo.
Esta confidencia é talvez esteril, mas urgente.
31 de dezembro de 1882.
*Mello Freitas*
*No Passeio Publico*
A charanga transuda uma _gavotte_:
Dois caturras discutem acirrados,

E com bengalas corneas d'estoque
Vibram politica em medonhos
brados;
Um coronel solemne, um D. Quichotte
Exige a continencia d'uns
soldados,
E trauteando a polka da Mascotte
Giram damas a passos
alquebrados;
As _lorettes_ com artes de raposa
Perseguem os alferes; conjecturo

Que não seja talvez p'ra boa cousa.
Finalmente um burguez, nedio, maduro
Ri do estado inter'ssante de
sua esposa
Porque se julga o pae do nascituro.
*Forget me not.*
(não me esqueças)

Não te esqueço, florinha humilde e bella
Que tornas a campina um
firmamento,
Innocente, sublime bagatella,
Joia viva, risonho
monumento.
Não sei que poesia encontro n'ella,
Que instilla em roda ethereo, vago
alento
Tão breve, tão discreta, tão singela,
Qual pyrilampo, o nitido
portento.
N'essa titilação fosforescente,
Lagrima-esmalte da urze tão subtil,

Abrandas as escarpas da torrente
Mensageira do lascivo mez de abril
Quem te não ama, o coração não
sente
Miniatura com petalas d'anil!
*Vendetta*
Juraste a minha perdição, ingrata,
A quem adóro como adóro a vida

Casta flôr, flôr de neve estremecida,
Que sorris, quando o teu olhar
me mata.
Gravei no peito aquella rubra data
Em que te vi, amor! qual na
avenida
Se entalha na fiel casca endurcida
O nome da huri, que nos
maltracta
E, apesar de seres tão bella e mansa,
Folgas que a desventura me
persiga
Dilacerado de cruel esp'rança.
Seja assim! É atroz minha vingança,
Pois que amôr e odio tanto me
castiga,
Cada vez te amo mais, dôce inimiga.
*Desditosa cecem!*
Pobre flôr, que se estiola
Na vertente da montanha,
Ninguem aqui
te consola
Fria sombra te acompanha.
Commoção que te desola!
Uma peçonhenta aranha
Sobre a nitida

corolla
A sua rede emmaranha!
Quem te lançou no degredo
D'este acerbo pavimento
Para te olvidar
tão cêdo?
--A meus paes fugi mesquinha
Fugi nas azas do vento
Triste sorte
foi a minha!...
*O Marquez de Pombal*
_Le Roi Faineant_ cerrará os olhos
E partira entre nuvens para o ceu

Surge, depois, na
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