Galatéa

António Joaquim de Carvalho
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Carvalho
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Title: Galatéa
egloga
Author: António Joaquim de Carvalho
Release Date: June 8, 2007 [EBook #21780]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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GALATÉA
EGLOGA.
PRIMEIRA, E SEGUNDA PARTE
POR
ANTONIO JOAQUIM DE CARVALHO.

LISBOA: M. DCCCI.
NA OFFIC. DE SIMÃO THADDEO FERREIRA.
_Com Licença da Meza do Dezembargo do Paço._
AO LEITOR.
Esta primeira Egloga, ha 16 annos impressa, agora faço-a reimprimir,
para tirar-lhe as lisongeiras Cartas, para emendar-lhe algumas
passagens com melhor escolha, para curar-lhe alguns vicios gerados
por aquelles, que duas vezes a reimprimírão, a pezar do meu gosto, e
para ligar ambas as Partes, por que a primeira dá a materia para a
segunda.
Se me increparem, porque faço domavel o Gigante Polyfemo, contra a
opinião dos melhores Poetas, respondo: He verdade, que a Fabula nos
mostra este Cyclope hum monstro de crueldade, de extraordinarias
forças, e destemido: hum tragador de seis companheiros de Ulysses, e
delle mesmo o seria, se astucioso não lhe fugisse: hum soberbo em fim,
que declamava, que nem ao mesmo Jupiter temia; mas pergunto: Este
Gigante era humano, ou não? Todos me dirão, que sim. Pois se era
humano, era sugeito ao imperio da Razão, com cujas armas o ataco, e o
venço: e só seria inverosimil, se eu com a razão accommettesse hum
Tigre, hum Leão, huma Serpente. Se os mais não pizárão esta estrada,
porque não quizerão, pizo-a eu, porque quero, e por que posso, sem
atropelar a verosimilhança.
Se altero o caracter da Egloga; se me aparto da simplicidade pastoril; se
faço inflammar Polyfemo, e respirar vingança, he porque eu não pinto
hum daquelles Pastores do Seculo de oiro, em que reinava a mansidão,
e o socego de espirito; pinto hum Cyclope, hum Pastor ferino, que
abrazado no ciume, e na ira, deo barbara morte ao mancebo Ácis,
lançando-lhe em cima hum penhasco: catástrofe, que eu não pinto, por
não fazer huma Egloga com espirito de Tragedia.
Eu tive a fortuna, de que alguns homens (discrétos homens!) dissessem,
que não era minha a minha Egloga Deploratoria intitulada JOSINO na

chorada morte do Principe o Senhor D. JOSÉ. Eu serei feliz, se agora
tiver a mesma fortuna, porque se esses contrastes duvidarem de ser
minha esta obra, boa será ella pela sua avaliação. Esses, que duvidão,
examinem, busquem, descubrão o legitimo Author, e o mostrem para
gloria sua, e descredito meu. Conheça o mundo o homem virtuoso, o
homem raro, que se cançou naquella composição, para renunciar em
mim a posse, o lucro, e o credito della. E se eu a furtei, onde estás
homem roubado, que não acodes ao teu cabedal, sabendo, que em meu
poder existe? Denuncía-me; clama justiça contra mim. Ah! Ninguem
falla? Ninguem me acusa? Pois acuso-me eu, mas he da temeridade de
emprehender a guerra sem ter armas: de querer lugar na Républica das
Letras sem ser Cidadão de Athenas: de fazer Versos sem beber da
Castália, sem soccorro das Musas, sem conhecer Apollo. Os Versos
(toscos Versos) que ha trinta annos escrevo, são os denunciantes, as
testemunhas, e os Juizes do meu crime. Acusem-me, como eu me acuso
deste delicto; porém não de roubador, officio imfame, que não cabe em
almas honradas; mas se os críticos me arguirem pelos pobres, insulsos
Versos, devem igualmente attender em minha defensa, que estes se não
tem mel, tambem não tem veneno; se não deleitão, tambem não ferem.
Isto supposto, fação-me Justiça.
GALATÉA
EGLOGA.
PRIMEIRA PARTE.
INTERLOCUTORES.
POLYFEMO, E LAURINDO.
POLYFEMO.
Ah! Campos, campos meus! Vós, que algum dia
Me servieis de
amavel companhia:
Vós, que os ouvidos daveis ao meu canto,

Prestaimos boje, para ouvir meu pranto;
Se bem, que assáz me custa
magoar-vos,
Depois de com meu canto deleitar-vos;
Mas eu

adoçarei a vossa mágoa,
Dando-vos de meus olhos rios de agua:

Com ella florecei para os viventes,
E á custa do meu mal vivei
contentes,
Que eu não vos lograrei, não; nem já gora
A minha
morte póde ter demora;
Os Ceos a mandem, que em tormentos fortes

Huma morte he melhor, que muitas mortes.
Ah! Campos, se vós
fosseis animados,
E ponderasseis bem os meus cuidados,
De mim
aprenderieis, que a ventura,
Ao que nasceo feliz, he que procura:
E
Aquelle, que nasceo já desgraçado,
Sempre lhe foge com semblante
irado.
Mas quem he, que este monte vem subindo?
Pelo trage he
Pastor: sim, he Laurindo,
Que talvez magoado d'escutar-me,
Quer
meios procurar
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