Eco da Voz Portugueza por Terras de Santa Cruz | Page 2

António Feliciano de Castilho
animada pela F�� robusta de nossos Pais, que muito e muito haver�� de soffrer este povo escolhido; mas soffrer n?o dever�� ser ignominia, aviltamento; porque elle �� grande em sua pequenez, que encerra um passado glorioso, um futuro providencial para a felicidade, para a regenera??o da caduca Europa!
A nossa voz rompe o silencio dos irm?os nossos, magoados, que choram pela Patria, e se envergonham de que os vejam chorar em terra alheia; e abafam seus gemidos para n?o parecerem ingratos, elles, que aqui n?o soffrem, na terra mais hospitaleira e venturosa!
Egoista, que por viveres abrigado de tantas miserias n?o te importa a fome e a guerra, que v?o matando os teus irm?os n'outro hemispherio.
Devasso, que porque sobre a tua face n?o foi dada a bofetada, tua face fica pallida, impassiva, indiferente �� affronta que l�� soffreram, a duas mil legoas, os teus compatriotas.
Nenhum de v��s se atreva a ler este papel.
*IV*
Rainha pelos Portuguezes!
O desamor de Teus subditos ao usurpador, Teu Tio, entorpeceo-lhes os bra?os por tal f��rma que deixaram entrar uma Esquadra Franceza pelo tejo.
E o pavilh?o francez, o pavilh?o tricolor, essa bandeira do Povo, essa bandeira que a desgra?ada Polonia julgava a cada instante esperan?osa v��r tremular ao longe em soccorro de seu ultimo baluarte; esse pavilh?o mentiroso tremulou por algumas horas n'algumas fortalezas de Portugal.
Mas assim foi ainda, porque os Portuguezes, opprimidos, esperavam protec??o nesses estrangeiros para sacudir o jugo de um tyranno, sem derramar tanto sangue, quanto �� o que a Tua Cor?a lhes tem custado.
Illudidos foram nas suas esperan?as; e nunca lhes hade passar a magoa de n?o terem corrido todos, �� voz de quem quer que fosse, para o combate, para morrer abra?ados �� cruz de sua bandeira!
Triste necessidade, lhes nutrindo uma esperan?a, os fez covardes, e tal desengano lhes ha de enrubecer de vergonha sempre as faces maceradas!...
E com que necessidade agora Tu Consentes que o pavilh?o da soberbissima Inglaterra se arvore em terra de Portuguezes?
E em que logar, em que torre elle se arvora, para conservar preso um tro?o de Portuguezes, surpreendidos sem nenhuma declara??o de guerra?
Conheces aquella torre?
A torre de S. Juli?o!....
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Naquella torre, cadafalso de Gomes Freire!...
Naquella torre, cujos alicerces est?o ensopados de sangue portuguez, derramado gota a gota para Ti, por mais de cinco annos....
Alli... alli se arvora a bandeira de Inglaterra, que tem prisioneiros os Teus subditos.... e a Ti mesma.... a Ti mesma, qual outra Pomar��!...
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Que vergonha!....
*V*
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Rainha! Rainha!
Sabes tu que muito sangue espargido nos cadafalsos levou sobre ondas rubras que formava a Tua pesada cor?a atravez do Oceano para sobre um rochedo inexpugnavel?
Sabes que essas ondas de sangue augmentaram l�� com o furor dos combates? e Sabes que refluindo at�� ��s praias do Mindello trouxeram para Ti essa Cor?a que Deixas vacillar?
E Sabes Tu que para que ella fosse elevada at�� �� altura de Tua cabe?a foi necessario que a levasse aos hombros Teu Pai moribundo; que ajudado por seus amigos subio com muito custo e muita dor uma pyramide alta de cadaveres, em cuja face reclinada Tu Dormias o somno da innocencia?...
E Sabes Tu que apenas chegado ao apice dessa pyramide, Teu Pai, dando sua alma a Deos, dando seu cora??o aos seus Portuguezes, e collocando, j�� nos ultimos suspiros, sobre a Tua cabe?a essa Cor?a de tanto pre?o, cahio morto, Elle, entre os soldados rasos?!...
*VI*
Rainha! Rainha!
Esses soldados eram portuguezes!
Esses cadaveres eram de Portuguezes!
Esse tanto sangue, derramado por Ti, era sangue Portuguez!...
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Rainha! Rainha!
O Throno em que Te Assentas �� feito de ossos Portuguezes....
O Teu manto de Rainha �� vermelho por ser tincto com sangue Portuguez....
A Cor?a que Tens na cabe?a �� a caveira de Teu Pai!....
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O sceptro...
S��mente o sceptro �� Teu.... fabricado por Ti.... de ferro.... muito pesado para Teu pulso debil....
*VII*
Rainha pelos Portuguezes!
Tu n?o Quizeste ficar inviolavel.
N?o hade ser unicamente o ranjer dos ossos que formam o Teu solio, o que te avisar�� de que mal sentada Est��s, quando n?o Fazes justi?a inteira.
N?o ser�� unicamente a cor vermelha de tua purpura que hade manchar-Te a m?o, quando a Affastares de sobre a cabe?a daquelle que vem pedir-Te abrigo.
N?o hade unicamente ser a caveira de Teu Pai, que apertando-Te as fontes quando Te Esqueceres do que a Portugal Deves, Te poder�� fazer insupportavel o peso dessa Cor?a, n?o sustentada por m?o de amigo, mas encravada na Tua cabe?a pelas patas do Leopardo e do Le?o, e pelos espor?es do gallo.
E, como antes que S. Pedro negasse o Divino Mestre, o Gallo cantar�� tres vezes.--
Rainha de Portugal, porque Te Degradaste abrindo Tu mesma as portas do teu Reino para ser invadido?
Rainha dos Portuguezes, porque os n?o Governaste conforme os seus recursos e as suas necessidades, para que a fome os n?o matasse, e a paz lhes desse prosperidade?
Rainha pelos Portuguezes, porque n?o Quiseste firmar todo o Teu poder nesse amor dos Portuguezes, que por Ti abriram suas veias e
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