elle 
fazia com tôda a gravidade. 
Á sua direita, em cadeira mais baixa, estava sentado o Gambela, e na 
frente os três conselheiros. Umas mil pessôas, sentadas no chão em 
semi-cìrculo, deixavam perceber a sua jerarchia pelas distancias a que 
estavam do soberano. 
[Figura 94.--O Rei Lobossi.] 
Á minha chegada o rei Lobossi levantou-se, e logo em seguida os 
conselheiros e tôdo o pôvo. Troquei um apertar-de-mão com elle e com 
Gambela, abaixei a cabêça a Matagja e aos outros dous conselheiros, e 
sentei-me junto a Lobossi e a Gambela. 
Depois de uma troca de comprimentos e de finezas, que mais pareciam
de uma côrte Europea do que de um pôvo bàrbaro, eu disse ao rei, que 
não era negociante, que vinha visital-o por ordem do Rei de Portugal, e 
que tinha a falar-lhe em assumptos que não podiam ser tratados ali 
diante de tão numerosa assemblea. 
[Figura 95.--Gambela.] 
Elle respondeu-me, que sabia e comprehendia isso, e que a recepção 
que me mandara fazer na vèspera e a que elle mesmo me fazia ali, me 
mostravam que eu não era confundido com um negociante qualquér; 
que eu era seu hòspede, e teriamos tempo de falar em negocios, porque 
elle esperava ter a felicidade de me possuir algum tempo na sua côrte. 
Depois de me dizer esta amabilidade, despedio-se de mim, que voltei a 
casa abrasado em febre. 
No meu pàteo encontrei trinta bôis, que o rei me mandava de presente. 
Disse-me o escravo favorito de Lobossi, que seria delicado da minha 
parte, mandar matar os bôis, e offerecer a melhor perna de bôi ao rei, e 
dar carne á gente da côrte. 
Dei ordem a Augusto para fazer isso, e houve logo uma carnificina 
enorme, sendo tôdos os bôis mortos, e a sua carne distribuida entre os 
meus carregadores e a gente da côrte; tendo o cuidado de mandar ao rei 
e aos quatro conselheiros a melhor parte, cabendo ainda assim o melhor 
quinhão a Gambela, a quem fiz notar a distincção que fazia. 
[Figura 96.--Matagja.] 
As pelles, que ali sam muito estimadas, offereci eu a Matagja e 
Gambela. 
Pêla 1 hora, fui recebido pêlo rei em audiencia particular, em uma casa 
tambem semi-cilìndrica, mas de grandes dimensões, que não contava 
menos de 20 metros de comprido por 8 de largo. 
Lobossi estava sentado em uma esteira, e em frente d'elle os quatro 
conselheiros occupavam outra, de companhia com alguns fidalgos,
entre os quaes estava um velho vigoroso, cuja physionomia sympàthica 
e expressiva me impressionou. Era Machauana, o antigo companheiro 
de Livingstone, na viagem que o cèlebre explorador fez do Zambeze a 
Loanda, e de quem elle fala, no seu roteiro com tanto elogio. 
Uma enorme panella de quimbombo foi collocada no meio da casa, e 
depois de o rei ter bebido, bebêram tôdos com profusão, e nem me 
offerecêram, sabendo que eu só àgua bebia. 
Conversámos sôbre cousas indifferentes, e eu entendi não dever 
falar-lhe ainda dos meus negocios. Entre outras cousas, falámos a 
respeito de lìnguas differentes, e Lobossi pedio-me que falasse um 
bocado em Portuguez, para elle ouvir. Recitei-lhe as Flôres d'Alma do 
poema "D. Jayme," e os prêtos ficáram encantados ao escutar a 
harmonia da nossa lìngua, que o mimôso e grande poeta, Thomas 
Ribeiro, soube imprimir e fazer resaltar n'aquellas estrophes singelas. 
Quando eu ia retirar-me, o rei disse-me baixo, de modo que ninguem 
percebeu, que lhe fôsse falar depois de ser noute fechada. 
Pouco depois de eu chegar a casa, apparecêu-me ali Machauana, com 
quem conversei sôbre Livingstone, e que me fez os maiores protestos 
de amizade. 
Á noute, pelas 9 horas, fui á morada do rei. Elle estava n'um dos pàteos 
interiores, sentado em uma esteira, junto a um grande fôgo, que ardia 
n'uma bacia de barro de dois metros de diàmetro. Na sua frente, em 
semi-cìrculo, uns 20 homens, armados de azagaias e escudos, 
conservavam a maior immobilidade e silencio. 
Pouco depois de eu chegar, chegou o Gambela, e começou a nossa 
conferencia. 
Eu principiei por lhe dizer, que tinha sido obrigado a deixar no 
caminho os ricos presentes que lhe trazia, mas que, ainda assim, tinha 
podido salvar algumas pequenas cousas que lhe daria, e entre ellas uma 
farda e um chapéo, que lhe apresentei logo.
Era uma d'essas fardas ricamente agaloadas, que tôda Lisboa vio aos 
lacaios postados nas antecàmaras do Marquez de Penafiel, e que fôram 
vendidas quando o opulento fidalgo trocou a sua residencia luxuosa de 
Lisboa, pelo viver mais buliçôso da capital da França. 
Lobossi ficou encantado com a farda e com o chapéo armado, e fêz-me 
mil agradecimentos. Depois de uma pequena conversa sem importancia, 
entrámos em assumpto. 
No Barôze falam-se três lìnguas. O Ganguela, a lìngua Luina, e o 
Sezuto, idioma deixado ali pêlos Macololos, que modificáram os 
costumes d'aquelles povos a ponto tal, que até lhes implantáram    
    
		
	
	
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