Como atravessei Àfrica | Page 2

Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto
explicando geographia a Gambela--Volta-se a face aos negocios--Intrigas--Os Bihenos querem voltar--Uma embaixada a Benguella--Quimbundos e Quimbares--A prêta Mariana--Tentativa de assassinato--6 de Setembro--Incendio e combate--Retiro para as montanhas.
A 25 de Ag?sto levantei-me muito incommodado e ardendo em febre. Estava no alto Zambeze, junto do 15^{to} parallelo austral, na cidade de Lialui, nova capital estabelecida pelo rei Lobossi, do reino do Bar?ze, Lui ou Ungenge, que t?dos estes nomes pode ter o vasto imperio da àfrica tropical do sul. Como se sabe pêlas descrip??es de David Livingstone, um homem vindo do Sul á frente de um exèrcito poder?so, o guerreiro Chibitano, Basuto de origem, atravessou o Zambeze junto da sua confluencia com o Cuando, e invadio os territorios do alto Zambeze, sujeitando ao seu dominio t?das as tribus que habitavam o vasto paiz conquistado.
Chibitano, o mais notavel capit?o que tem existido na àfrica Austral, partira das margens do Gariep com um pequeno exèrcito formado de Basutos e Betjuanas, ao qual foi aggregando os mancêbos dos povos que vencia, e ao passo que caminhava ao norte, ia organizando essas phalanges, que depois se tornáram t?o terriveis, ja na conquista do alto Zambeze, ja na defensa do paiz conquistado.
A êsse exèrcito, formado de elementos differentes, de povos de muitas ra?as e origens, deu o seu chefe o nome de Cololos, e d'ahi lhe veio o nome de Macololos que t?o conhecido se tornou em àfrica.
No alto Zambeze encontrou Chibitano muitos povos distinctos, governados por chefes independentes, que n?o podéram, separados como estavam, oppor séria resistencia ao terrivel guerreiro Basuto.
T?o sabio legislador, como prudente administrador, e audaz guerreiro, Chibitano soube dar uni?o aos povos conquistados, e fazer com que elles se considerassem irm?os no interesse commum.
Estes podiam agrupar-se em três divis?es, marcando três ra?as distinctas.
Ao sul, abaixo da regi?o das cataractas, os Macalacas; no centro, os Cangenjes ou Bar?zes; e ao norte, os Luinas, ra?a mais vigorosa e intelligente, que devia substituir um dia os Macololos na governa??o do paiz.
é propriamente no paiz do Bar?ze ou Ungenge, que se tem conservado as sedes do govêrno desde o tempo de Chicreto, o filho e successor de Chibitano; e t?dos os povos de Oeste chamam ao vasto imperio Lui ou Ungenge, ao passo que os povos do sul lhe dam o nome de Bar?ze. Mais tarde, n'este capìtulo, terei occasi?o de falar na historia d'este p?vo desde a ùltima visita de Livingstone até á minha passagem ali; proseguindo agora a narrativa das minhas aventuras s?b o reinado de Lobossi, e do seu conselheiro ìntimo Gambela.
A organiza??o polìtica do reino do Lui é muito differente da dos outros povos que eu tinha visitado em àfrica. Ali ha dois ministerios perfeitamente definidos, o da guerra, e dos negocios estrangeiros; sendo este ùltimo dividido em duas sec??es, cada uma com o seu ministro. Uma d'ellas trata dos negocios de Oeste, outra dos do Sul. Isto é, uma trata com Portuguezes de Benguella, outra com os Inglezes do Cabo.
Na occasi?o da minha chegada, os conselheiros do rei eram quatro, dois dos quaes n?o tinham pasta; sendo ministro dos negocios estrangeiros de Oeste um tal Matagja, e accumulando duas pastas, a da guerra e a dos negocios estrangeiros do sul, Gambela, o presidente do consêlho do rei. Aprendi bem estes detalhes, para regular a minha conducta nas graves quest?es que tinha a tratar.
Logo de manh?, fui avisado, de que o rei Lobossi me esperava.
Larguei os meus andrajos, e vesti o ùnico vestuario que ja possuia, dirigindo-me em seguida á grande pra?a onde devia ter logar a audiencia.
Elle estava sentado em uma cadeira de espaldar, no meio da grande pra?a, e por de tras d'elle um nêgro fazia-lhe sombra com um guarda-sol.
Era um rapaz de 20 annos, de estatura elevada, e proporcionalmente gr?sso.
Vestia um casaco de cazimira prêta sobre uma camisa de c?r, e em logar de gravata, trazia ao pesc??o um sem-nùmero de amulêtos.
As cal?as eram de cazimira de c?r, e deixavam ver as meias de fio de escocia, muito alvas, e o sapato baixo bem lustrado.
Um grande cobert?r de listas multicol?res em guisa de capote, e na cabê?a um chapéo cinzento, ornado de duas grandes e bellas pennas de avestrús, completavam o traje do grande potentado.
Na m?o um peda?o de madeira lavrada, ao qual estavam prêsas muitas clinas de cavallo, servia-lhe para enxotar as m?scas, ac??o que elle fazia com t?da a gravidade.
á sua direita, em cadeira mais baixa, estava sentado o Gambela, e na frente os três conselheiros. Umas mil pess?as, sentadas no ch?o em semi-cìrculo, deixavam perceber a sua jerarchia pelas distancias a que estavam do soberano.
[Figura 94.--O Rei Lobossi.]
á minha chegada o rei Lobossi levantou-se, e logo em seguida os conselheiros e t?do o p?vo. Troquei um apertar-de-m?o com elle e com Gambela, abaixei a cabê?a a Matagja e aos outros dous conselheiros, e sentei-me junto a Lobossi
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