ex.ª, reunindo os seus collegas do 
ministerio e os seus mais intimos amigos politicos, lhes fallara d'esta 
arte: 
Senhores! Achando-me esta manhã á janella do meu quarto, fazendo 
algumas considerações philosophicas e a barba, deliberei apear-me por 
algum tempo da azemola do poder. 
Vozes de amigos intimos desapontados.--Oh! oh! Não o cremos!... Não 
o podemos crer!... É um gracejo, um puro gracejo de s. ex.ª! Que a 
burra do poder venha á presença de s. ex.ª para que s. ex.ª a cavalgue! S. 
ex.ª não pode assim descer da burra! Seria altamente impolitico 
deixar-nos n'este momento com a burra devoluta nos braços! deixar-nos, 
para assim dizer, com a burra atravessada na garganta! Haja ao menos 
um pretexto, haja uma razão! 
O sr. presidente proseguindo: Quereis uma razão? Eu vol-a dou. 
Acho-me impossibilitado de proseguir provincias da publica 
administração além. Á força de meditar nos altos negocios do estado 
acaba de me cahir um dente... 
Vozes--Dê o dente para ordem do dia! 
_O sr. presidente (tirando o dente da algibeira e collocando-o na 
discussão)_--Ahi tendes o dente. Abri sobre elle os mais largos e 
rasgados debates, e julgae-o como vos approuver. É um queixal. Nada 
mais acrescento. Sobre este ponto considerações de melindre pessoal
me inhibem de continuar. Farei apenas sentir aos meus amigos politicos 
e aos meus collegas do gabinete que nem a camara nem o paiz nem a 
corôa poderão, segundo penso, exigir da minha fidelidade partidaria 
que eu sacrifique á investigação dos negocios os dentes que o meu 
ardente patriotismo me impõe a obrigação de reservar para os inimigos 
da patria. Tenho dito. 
(Vozes:--Muito bem! Muito bem!) 
* * * * * 
O sr. Manuel da Assumpção, havida então venia para fallar, consta que 
estendera a dextra sobre o dente, e proferira com ardor e enthusiasmo 
as seguintes palavras: 
«Meus senhores! Este dente é a pagina mais gloriosa da nossa historia. 
É effectivamente um queixal, como s. ex.ª muito bem disse na sua 
phrase tersa, de uma energia e de uma concisão dignas de Tacito. Ha 
oito dias que os jornaes que nos guerreiam lançaram este dente na tela 
da discussão, procurando fazer acreditar ao paiz e ás nações 
extrangeiras, por meio de insinuações malevolas, que elle é canino. 
Mandando o dente para a meza o sr. presidente acaba de confundir de 
uma vez para sempre os seus adversarios. Queixal! Longa foi a tua 
carreira gloriosa. Enraizado no queixo de s. ex.ª atravessaste com elle 
as mais duras provações de uma carreira brilhante. Roeste o pão negro 
do ostrocismo. Atolaste-te na lampreia d'ovos das doces illusões. 
Mascaste a cabedella dos terriveis desenganos. Depois de cada um 
d'esses estadios na senda dos progressos materiaes e moraes, s. ex.ª, 
com mão decisiva, palitava-te. Um dia porém, á meza do orçamento, no 
grande banquete da civilisação, n'esse campo de batalha onde se travam 
os combates incruentes do progresso e onde o talher de s. ex.ª por 
muitas vezes fulgurou desembainhado ao sol das victorias, tu, depois de 
uma violenta refrega, com umas amendoas torradas de exercicios lindos, 
com uns biscoutos de gerencias anteriores, e com algumas outras 
verdades duras de tragar, appareceste furado. No dia seguinte s. ex.ª 
chamava ás armas a reserva e um dentista, e tu, ó dente, recebias como 
os bravos o baptismo do chumbo. A bala inimiga....
O sr. Presidente--Tomo a liberdade de interromper o illustre deputado e 
meu nobre amigo para lhe fazer notar que o dente não recebeu o 
baptismo do chumbo sob a forma de bala, mas simplesmente sob a 
forma de pingo. 
O orador--Do mesmo modo então que um fundo de chaleira? 
O sr. Presidente--Precisamente do mesmo modo. 
O orador--Agradeço infinitamente a s. ex.ª a informação que acaba da 
prestar-me, e, se s. ex.ª m'o permitte prosigo, pondo de pane a piada 
relativa á bala do inimigo... 
Dente! cahiste alfim. A tua queda tem o caracter de um triumpho, pois 
não cahiste arrancado por uma opposição accintosa e malevola; cahiste 
porque tinhas os teus dias cheios e um pouco tambem porque estavas 
podre. 
Que mais queres, ó dente? que mais desejas? que mais ambicionas?... 
O sr. Presidente--Peço perdão para ainda uma vez interromper o 
illustre deputado, rogando-lhe que não tome por incivil o silencio do 
dente ás suas interrogações. O dente é hoje a primeira vez que apparece 
em publico separado dos seus companheiros, e deve-se ter em conta o 
justo acanhamento que a sua nova situação lhe infunde. Eu acho-me 
porém habilitado para satisfazer a curiosidade do illustre deputado em 
quanto ás ambições do dente logo que s. ex.ª o exija. 
O orador--Como deputado da maioria tenho a declarar ao sr. presidente 
que nunca dirijo ao governo, nem no seu conjuncto nem separadamente 
a nenhum dos seus queixaes pergunta alguma para que deseje resposta. 
As minhas interrogações são puramente rhetoricas. O silencio com que    
    
		
	
	
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