As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes

Ramalho Ortigao

As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes

The Project Gutenberg EBook of As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das
Letras e dos Costumes, by Ramalho Ortig?o and E?a de Queiroz This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.net
Title: As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes Agosto a Setembro de 1877
Author: Ramalho Ortig?o and E?a de Queiroz
Release Date: July 6, 2005 [EBook #16214]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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[Illustration: E?A DE QUEIROZ--RAMALHO ORTIG?O--AS FARPAS]
RAMALHO ORTIG?O--E?A DE QUEIROZ
AS FARPAS
CHRONICA MENSAL DA POLITICA, DAS LETRAS E DOS COSTUMES
NOVA SERIE TOMO X
Agosto a Setembro 1877

Ironia, verdadeira liberdade! ��s tu que me livras da ambi??o do poder, da escravid?o dos partidos, da venera??o da rotina, do pedantismo das sciencias, da admira??o das grandes personagens, das mystifica??es da politica, do fanatismo dos reformadores, da supersti??o d'este grande universo, e da adora??o de mim mesmo.
P. J. Proudhon

SUMMARIO
Alexandre Herculano. O escriptor e o solitario de Valle de Lobos. A critica dos vivos e a critica dos mortos. A benevolencia e a justi?a. A influencia que teve e a que podia ter o grande escriptor. A miss?o dos mestres O monumento da imprensa.--A recente viagem de suas magestades e altezas. No Bussaco, em Vidago, no Porto. Algumas notas aos annaes d'essa excurs?o.--Os attentados do sr. Barros e Cunha e a historia d'este personagem. O poeta lyrico, o deputado, o leitor do Times, o cortes?o, o ministro. Diagnostico e prognostico.--Algumas produc??es musicaes: As cutiladas do Passeio Publico, polka; A Roma! a Roma! valsa.--Algumas palavras aos srs. advogados.--Os exames das meninas no Lyceu Nacional. Os fins da educa??o. Um programma de ensino para o sexo feminino. Como se prepara a emancipa??o da mulher. Duas catastrophes: o estado da litteratura feminina e o estado da cosinha nacional. Grito afflictivo do paiz: Menos odes e mais caldo.
O homem que teve na terra o nome glorioso de Alexandre Herculano pertence ao dominio da posteridade desde as 10 horas da noite de hontem, 14 de setembro de 1877.
Os que houverem de julgar na historia essa poderosa personalidade ter?o de considerar que dois cidad?os, inteiramente diversos, existiram na terra, succedendo-se um ao outro no individuo d'aquelle nome.
Um d'esses cidad?os �� o historiador da nacionalidade portugueza e da inquisi??o em Portugal, o romancista do Monasticon, o poeta da _Harpa do Crente_, o profundo pensador, o sabio archeologo, o paciente erudito, o critico penetrante, o valoroso trabalhador, o grande artista, o inimitavel mestre.
O segundo dos cidad?os que passaram no mundo sob o nome de Alexandre Herculano �� simplesmente o illustre solitario de Valle de Lobos.
* * * * *
Extranha evolu??o d'um mesmo ser! Aquelle que na primeira metade da existencia representa todas as vivas energias por meio das quaes o espirito p��de actuar no impulso d'uma civilisa??o e no aperfei?oamento d'uma sociedade, n?o �� no segundo periodo da sua vida sen?o o objecto passivo e inerte d'uma designa??o ascetica, imposta pela banalidade rhethorica dos noticiarios--o solitario illustre!
* * * * *
Como philosopho, como investigador, como critico, como poeta, Alexandre Herculano cria em Portugal os estudos historicos; funda a mais importante collec??o dos modernos trabalhos litterarios--o Panorama; enobrece a lingua com o seu stylo nitido e cortante em que a phrase tem o lampejo e o golpe dos passes de espada; honra o officio das letras com o porte rigido, austero e elegante de sua figura litteraria, em que se denuncia o contorno do guerrilheiro portuense envolto no capote branco dos romanticos de 1830, que elle sabia tra?ar com o garbo marcial d'Alfred de Vigny; cria escola; agrupa em volta de si uma mocidade que o admira e que o idolatra; espede o grito de guerra, que p?e em armas a nova gera??o que vem despontando atraz d'elle; chama �� peleja o partido ultramontano e desfecha elle mesmo os primeiros tiros que rompem as hostilidades da liberdade com o clericalismo; lan?a finalmente as bases do moderno movimento intellectual, suggere novas id��as, novas aspira??es, novos interesses moraes, impulsionando vigorosamente a sua ��poca por meio das fecundas agita??es do espirito que acceleram nas sociedades vivas a elabora??o do progresso.
* * * * *
Como illustre solitario de Valle de Lobos, Herculano rescinde a sacrosanta escriptura da responsabilidade universal, por via da qual o genio do homem se obriga tacitamente com a natureza a servil-a, como sendo elle mesmo a mais poderosa das for?as de que disp?e o grande universo; desdiz com o seu repentino silencio todas as affirma??es da sua grande voz; abjura da luz
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