Apontamentos sobre a via de communicação do rio Madeira | Page 2

Antonio Rebouças
diversas direc??es até ás encostas, e inda além até aos cumes dos Andes, regando com placida corrente as dilatadas planicies da parte mais rica da Bolivia; finalmente, é completar praticamente o grande pensamento de paz e de uni?o internacional, ha pouco formulado e consagrado no referido tratado de navega??o e commercio e no decreto da abertura do Amazonas.
Desde muito o governo e o povo da Bolivia mir?o a navega??o a vapor dos tributarios do Alto Madeira e a communica??o facil d'ahi com o Atlantico como uma necessidade indeclinavel do progresso moral e material da republica e como a base da prosperidade futura de suas ferteis provincias do Oriente.
Já nos fins do seculo passado, em 1792, quando ainda dominava o regimen colonial, o sabio naturalista Tadeu Haenke, apresentou ao governo hespanhol o projecto de navegar os rios da Bolivia. Em 1833, o governo da republica instituia premios para os primeiros barcos a vapor que sulcassem seus rios; em 1843 e 1851, o congresso autorisava o poder executivo a despender até a somma de 200.000 pesos nos servi?os concernentes á mesma navega??o e em 1853, declarando-a livre ao commercio e aos navios de todas as na??es, renovava a offerta de premios aos que primeiro a emprehendessem, accrescendo a isto largas concess?es de terras.
A opini?o publica, manifestada quér na imprensa periodica e nos escriptos dos homens mais illustrados da Bolivia, quér por meio de obras praticas, tem sempre acompanhado neste assumpto ás vistas do governo. Assim é que n?o falt?o memorias e outras publica??es demonstrando as innumeras vantagens da communica??o do Madeira e muitas explora??es e até alguns trabalhos de construc??o h?o sido executados tanto nos rios que della fazem parte, como nas vias terrestres que a elles conduzem. Testemunh?o-n'o, entre muitos outros factos, as explora??es do naturalista francez Alcide d'Orbigny, patrocinadas pelo governo da Bolivia; as do parocho de Exaltacion, Dr. D. Ramon Eustaquio Duran e de D. José Agustin Palacios, governador de Mojos, que ambos navegár?o as cachoeiras do Madeira; a tentativa do cidad?o Tudela para abrir um caminho breve de Cochabamba ao Beni e recentemente, em 1864, os trabalhos da companhia Securé, a fim de realizar o mesmo objecto ligando aquella capital ás margens do affluente do Mamoré, cujo nome a sociedade tomou.
Estes poucos factos bast?o para provar que a idéa da utilisa??o effectiva da via do Madeira tem sido a aspira??o constante da Bolivia desde os primeiros annos de sua independencia e parece indubitavel que, se o vapor já n?o cursa hoje as aguas de seus rios, é porque seria quasi impossivel transportal-o subindo as 17 arriscadas cachoeiras, que os separ?o das aguas accessiveis do baixo Madeira.
De sua parte o Brasil, de alguns annos a esta parte, n?o tem poupado trabalho e capital a fim de chegar á realiza??o da mesma idéa. Desde 1851 que a companhia do Amazonas, generosamente subvencionada pelo governo imperial, percorre as aguas do maximo rio, cruzando em seu trajecto a embocadura do Madeira.
Em 1864, o engenheiro J. M. da Silva Coutinho chegou em um vapor brasileiro ao pé da cachoeira de Santo Antonio e dahi, embarcado em can?a, explorou na subida e na descida este e todos os outros empecilhos que se succedem até chegar ao de Guajaramirim no rio Mamoré.
No anno proximo findo, por decreto de 22 de Junho, o governo imperial subvencionou a uma companhia que se prop?e estabelecer uma linha regular de vapores no baixo Madeira até áquella primeira cachoeira[1], e quasi ao mesmo tempo mandava uma expedi??o scientifica, dirigida por dous distinctos engenheiros, no intuito de averiguar, por meio de medi??es hydrographicas exactas, a possibilidade de canalisar a sec??o das cachoeiras, ou, em caso negativo, de abrir-lhes um desvio por terra.
[1] Estamos scientes pelos ultimos jornaes do Brasil que o Sr. Brito e Amorim, concessionario desta navega??o, já conseguiu reunir na pra?a do Pará o capital necessario á mesma empreza.
Ha pois, tanto na Bolivia como no Brasil, o mais vivo empenho de communicar-se facil e effectivamente pela via do Madeira, e ainda que lentamente, a execu??o desta empreza vai caminhando a seu desejado fim.
Os successos do anno de 1867 tendem sobretudo a imprimir-lhe mais vitalidade. A politica e a diplomacia a estipulár?o por actos solemnes e a iniciativa individual, auxiliada pelo governo do Brasil, promette que em breve o vapor percorrerá todo o baixo Madeira e aportará junto ao degráo inferior da regi?o das cachoeiras.
Conseguido isto, restará sómente franqueal-as artificialmente por agua ou por terra, a fim de ir tambem lan?ar o poderoso motor nas aguas superiores do Madeira.
Esta é a obra, que cumpre atacar com vigor desde logo, n?o deixando escapar a opportunidade presente em que acontecimentos diversos parecem promovel-a e apressal-a.
A utilidade, que della resultará no sentido de crear e desenvolver a industria e o commercio nos paizes a que vai servir, é incontestavel. N?o ha que discutil-a
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 29
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.