Venus com a sobrecarga de 
Minerva, a gente baba-se irreprehensivelmente. 
Contra Castilho, faz-se echo das inepcias do snr. Theophilo Braga:--que 
elle conhecia imperfeitamente as linguas de que traduisait, traduisait, 
traduisait. Castilho aos vinte annos fazia versos latinos como Virgilio e 
francezes como Lamartine. Accusa-o de inimigo acerbo do romantismo.
Castilho escreveu a Noite do castello e Ciumes do Bardo na afinação 
ultra-romantica da Dama do Lago de W. Scott e do caudilho das 
balladas romanticas em França. 
Tagarellando contra os classicos, a boa da romantica diz que surgiram 
em Coimbra os dissidentes da velha escóla. Os dissidentes eram 
Rebello da Silva, Mendes Leal, Latino Coelho e Lopes de Mendonça. 
Sim, estes innovadores sahiram de Coimbra com o estandarte da 
rebellião arvorado. Ora, Rebello da Silva, como o reprovassem em 
latim, não voltou a Coimbra; Mendes Leal e Latino Coelho nunca 
frequentaram a universidade, e Lopes de Mendonça não sei se chegou a 
matricular-se em mathematica. D'este infeliz luctador, submerso em 
trevas quando as espancava com vertiginosa ancia de luz, diz a 
ignorante que elle consumira a maior parte da mocidade em 
dissipações. Meu pobre amigo, tu que aos quinze annos trocavas por 
pão escasso os teus primeiros labores, não merecias ser apontado como 
victima de tuas dissipações. 
Contra Mendes Leal, a casquilha poetisa em annos de prosa ejacula 
injuriosas calumnias de plagiatos, e accusa entre os livros d'este 
escriptor verdadeiramente polygrapho o Calabar, um romance em que 
Mendes Leal declara que parte do seu livro é imitação. O author da 
Herança do Chanceller, a meu vêr, nas suas occupações diplomaticas 
em Paris, não tem tido vagar para attender ás princezas vadias. 
De Rebello da Silva conhece Odio, Velho vraô cauca, e a «Ultima 
corrida de touros reas em Salvatorra». É um bom titulo para uma 
simulcadencia muito forte, peninsular, talvez vestigio arabe. A snr.^a 
Rattazzi, que assim escreve a lingua portugueza, propõe-se traduzir a 
Historia da Inquisição de Herculano. Em inquisição de torturas vai ella 
pôr a pobre lingua, que ainda assim possue uma palavra energica para 
interpretes d'este quilate. Byron, encantado com a sonoridade do termo, 
transmittiu-o como mimo philologico ao seu amigo Hodgson. Ella que 
o fareje. Está na carta 37.^a da collecção de Thomaz Moore--bom 
documento ethnologico que esqueceu ao snr. Alberto Telles no seu 
interessantissimo livro Lord Byron em Portugal. 
As insolencias que desembésta á cabelleira de Bulhão Pato como se
explicam? Ella, prefaciando um drama que peorou com o seu francez, 
disse que Alexandre Herculano escrevêra um opusculo contra o 
imperador do Brazil, e que o imperador, sem embargo da offensa, 
vindo a Portugal, visitára Herculano. A snr.^a Rattazzi, muito admirada, 
perguntou, em Paris, ao imperador que lhe contára o caso da offensa e 
da visita: «Visitou Herculano, Sire?» E D. Pedro II respondeu com um 
sorriso fino: «Sim, de certo, visitei-o. Deveria eu castigar-me a mim 
por comprazer com o meu despeito?» 
Leu isto Bulhão Pato, e sahiu honrada e severamente contra a calumnia; 
e vai ella agora, no livro Portugal a vôo de pássara, explica o prefacio 
da comedia dizendo que se enganou--porque lia muita 
cousa--attribuindo as Farpas a Herculano; e acrescenta que o imperador 
não lhe emendára o blunder, o equivoco desgraçado, ouvindo-a sem lhe 
corrigir o erro. Mas a snr.^a Rattazzi, no tal prefacio sarapantão, diz 
que o proprio D. Pedro II lhe contára que elle, offendido, visitára o 
offensor: Don Pedro me l'apprit lui même à l'hôtel d'Aquila. Uma 
trapalhona! 
Bulhão Pato emendou a parvolêza da snr.^a Rattazzi; e ella, em vez de 
se agachar contrita na humildade das tolas conscienciosas, ergue-se nos 
tacões benoiton, e faz chalaças de estaminet entre dous petits-verres de 
anisette. 
Dos meus futeis romances tambem chalacêa e não anda mal;--que todos 
os meus livros se adivinham do terceiro em diante: um brazileiro, um 
namorado sentimental, e uma menina em convento. Cita quatro 
novellas, e por casualidade nenhuma d'ellas tem brazileiro; porém, 
quanto a namorados, são tantos que nem a senhora princeza é capaz de 
ter tido mais. 
No merito de Julio Diniz faz os descontos que o snr. Ramalho lhe 
incutiu. Conhece os Fidalgos de casa nourisca, e a Morgadinka dos 
Canariaes. Tenciona fallar de Soares de Posses, poeta portuense, cuja 
elegia do sepulchro, diz ella, se canta nas ruas. Exalta o snr. T. Braga 
que escreveu a Visáo das tempes, e As tempos tades sanoras, a 
«Historia do direitor portuguez», e os «Tracos geraes da philosophia 
positivia». Não se sabe se quer dizer Traços ou Trancos; talvez seja
Tratos, ou mais provavelmente Trapos, se não fôr cousa peor. Seja o 
que fôr, pertence á philosophia positivia. 
Conta que elle foi typographo em Coimbra para pagar os estudos. Não 
havia de gastar muito se pagou o que sabe. Diz que o snr. Braga é 
«philosopho, mathematico, astronomo, physico, chimico, biologista e 
anthropologista»--o que se demonstra nos Tracos acima.    
    
		
	
	
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