pessoal vem empoado e veste uma libré verde claro que 
deslumbra a vista e faz piscar os olhos. Não se póde imaginar nada 
mais original. Quando a cerimonia terminou e a parte official do 
programma está cumprida, o marquez faz gravemente o giro das 
principaes ruas e praças de Lisboa para se fazer admirar. Em Paris
entraria em casa corrido a batatas cozidas. Aqui deixam-o em paz--é 
costume. 
Se eu fosse rei de Portugal prohibia a este fidalgo, sob as mais graves 
penas, de me fazer assim cortejo com a sua entrudada, mas, com isso, 
arriscaria talvez a minha corôa. 
É de justiça acrescentar que o marquez de V. é um homem instruido. 
Que seria, Deus meu, se o não fosse!» 
Realmente está parecido... O Antonio Maria não o faz melhor... 
* * * * * 
Depois d'estes perfis hilariantes como o protoxido de azote, tenha o 
leitor a paciencia de me acompanhar ao capitulo em que sua altesa nos 
dá a honra de fallar dos nossos enterros. 
Dêmos a palavra á princeza: 
«É realmente coisa curiosa que acompanhando o pae os filhos ao 
cemiterio, estes não acompanhem os paes: não é costume. Deixa-se este 
cuidado aos parentes mais affastados ou aos amigos. Porquê? Não m'o 
poderam explicar: acho porém esquisito.» 
Está no seu direito. Foi porém mal informada. Os paes tambem não 
acompanham os filhos. Quanto a achar o caso estranho não tem de quê. 
O facto de em França os parentes mais proximos acompanharem os 
cadaveres dos seus defunctos não prova nada, senão que até na morte é 
verdadeiro o dictado:--Cada terra com seu uso... O que é deveras 
esquisito, é querer sua altesa que os costumes sejam os mesmos em 
todos os paizes. Para quem se propõe escrever livros de viagem, não 
póde haver ponto de vista mais ridiculo nem mais acanhado. 
Continua a auctora:--«Quando uma pessoa morre, a familia não envia 
cartas de participação. Faz um annuncio nos jornaes, e está tudo 
prompto, visto que o dito annuncio termina invariavelmente por este 
cliché: Não se fazem convites especiaes attendendo ao estado de
consternação indizivel em que a familia está... 
Comprehendo muito bem que a familia esteja n'um estado de 
consternação indizivel: entretanto, visto que esta consternação lhe 
permitte fazer annuncios nos jornaes, parece-me que, com um pequeno 
esforço, lhe permittiria tambem enviar cartas de participação impressas 
a casa de cada um, como se faz nos outros paizes. 
Resulta com effeito d'este costume que, se não se lerem os jornaes, ou 
antes os annuncios dos jornaes, póde muito bem acontecer deixar uma 
pessoa de acompanhar ao cemiterio o seu tio, primo, ou o seu melhor 
amigo.» 
Foi ainda mal informada sua alteza. É verdade que muitas vezes o 
annuncio funebre termina por aquelle molho, mas não é menos verdade 
que rarissimas vezes se deixa de enviar cartas de participação. Sua 
alteza não recebeu nenhuma, e por isso naturalmente lembrou-se de nos 
ensinar como estas coisas se fazem nos paizes civilisados. Obrigado 
princeza. Quanto a não ter recebido carta alguma de participação 
desculpe:--hei de mandar-lhe uma... quando morrer o meu Tareco. 
Coitada! Infeliz princeza! Ninguem lhe mandou carta de participação. 
Então que se lhe ha de fazer, no nosso paiz os enterros serão tudo 
quanto quizer... mas não são entrudadas... 
A respeito dos chavões com que é costume fechar annuncios funebres 
faltou-lhe ainda um. É este:--não se fazem convites especiaes por 
expressa determinação do finado. Foi pena escapar. Que bella pagina 
humoristica não escrevia a princeza com thema tão divertido! 
* * * * * 
Mas nem só os enterros tem a honra de espantar sua alteza... O livro 
está cheio de exemplos do mesmo genero. 
Sente-se mesmo em algumas paginas que a princeza não chega a contar 
metade dos seus espantos... Qual metade!--nem a decima, nem a 
centesima, nem a milesima parte...
Porque a verdade é esta:--sua alteza apenas transpoz a fronteira 
começou a sentir as dôres... do espanto... Exactamente, agora é que eu 
acertei... começou a sentir as dôres do espanto, e o seu livro, que até 
hoje ninguem sabia bem o que é, passa agora muito logicamente a ser o 
feliz parto que a alliviou das citadas dôres, logo que ella se viu em 
terreno conhecido, que é como quem diria:--logo que a natureza 
permittiu que o robusto menino visse a clara luz do dia... 
Espanto! Espanto! sempre espanto! 
Os portuguezes não dizem «até manhã» dizem «até ámanhã se Deus 
quizer»--espanto: não acompanham seus paes ao cemiterio,--espanto: 
as varinas carregam-se de oiro,--espanto: vae muita gente aos 
bastidores de S. Carlos,--espanto: dizemos um copo d'agua e não un 
verre d'eau,--espanto: estamos a uma latitude e a uma longitude 
differentes de Paris,--espanto: as nossas pulgas mordem,--espanto: o 
nariz do sr. Minhava é enorme,--espanto: pomme de terre, chama-se 
batatas,--espanto: uma precieuse ridicule é uma tola... espanto! 
Espanto, espanto, sempre espanto! 
Porque    
    
		
	
	
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