A princeza na berlinda, by 
Urbano de Castro 
 
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Title: A princeza na berlinda Rattazzi a vol d'oiseau, com a biographia 
de sua Alteza 
Author: Urbano de Castro 
Release Date: December 13, 2006 [EBook #20103] 
Language: Portuguese 
Character set encoding: ISO-8859-1 
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PRINCEZA NA BERLINDA *** 
 
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Nacional de Portugal).) 
 
RATTAZZI A VOL D'OISEAU
URBANO DE CASTRO 
CHA-RI-VA-RI 
 
A PRINCEZA NA BERLINDA 
RATTAZZI A VOL D'OISEAU 
COM A BIOGRAPHIA DE SUA ALTEZA 
(SEGUNDA EDIÇÃO) 
LISBOA TYPOGRAPHIA PORTUGUEZA 7, Rua da Paz, 7 1880 
 
A PRINCEZA NA BERLINDA 
Não será talvez máo começar por fazer uma declaração:--nunca passei 
pelos beiços os guardanapos da princeza... Parece-me conveniente dizer 
isto. A minha terra, que era pequena no tempo de Garret, não me 
consta que tenha crescido, depois da sua morte... Tem até diminuido 
um pouco... talvez! 
* * * * * 
Foi pelos jantares que a princesa conseguiu tornar-se conhecida em 
Lisboa. Quando aqui chegou, vendo que ninguem a procurava, que a 
litteratura não corria pressurosa ao Bragança, cumulando-a de elogios 
banaes e de bilhetes de visita baratos, sentio dentro da sua alma a 
mordedura cruel do amor proprio offendido. E amor proprio de mulher, 
amor proprio de princeza! Calculem que dentada! Esperou, um, dois, 
tres dias... uma semana, outra... a litteratura não apparecia!--Pois ha de 
apparecer! exclamou ella--E convidou-a para jantar. E a litteratura 
appareceu. Os livros da princeza, que até então ninguem conhecia em 
Lisboa, e que ella mandara adiante para os livreiros, como batedores da
sua fama, começaram por essa epoca a ter uma tal ou qual extracção. 
Não é difficil advinhar quem os comprava--eram os convivas dos seus 
jantares--Comprehende-se. Realmente seria pouca amabilidade comer o 
foie gras de Rattazzi, e não dizer ao menos, no fim, que era admiravel o 
seu livro Si j'etais reine; beber o champagne da princeza, e não lhe 
segredar que nunca mulher nenhuma escrevera um volume como Nice 
la Belle. E a proposito dos livros citavam-se os trechos das paginas 
abertas, abril-os seria muito, e bebia-se mais um copo. A princeza, que 
é inquestionavelmente uma mulher d'espirito, percebeu, o que de resto 
não era muito difficil, a manobra fraudulenta, como diz o sr. Duc nos 
livros de mortalhas, dos litteratos de Lisboa... 
Callou-se porém muito bem callada e continuou a dar-lhes jantares 
hebdomadarios. A concorrencia cada vez era maior. Houve sujeito que 
se fez litterato, só para jantar com a princeza. Cá fóra, no Martinho e na 
Havanesa, esses jantares eram digeridos e commentados com a face 
vermelha e a palavra quente... Contavam-se anecdotas, que é deveras 
pena não terem chegado aos ouvidos da princeza, porque, algumas 
d'ellas não são em nada inferiores a muitas que lêmos no seu livro... 
E aqui está como madame Rattazzi conseguiu durante um mez ser uma 
notabilidade em Lisboa. Sua altesa, porém, em vez de contentar-se com 
esta gloria, embora de 2.^a ordem, lembrou-se um dia de querer uma 
gloria de 1.^a sorte, e escreveu uma comedia que, depois de muito 
applaudida em sua casa pelos seus commensaes, foi representada no 
theatro dos Recreios, a quem ella, com carradas de rasão chama um 
calvario, visto que lá teve... a cruz da pateada... 
Tambem que diabo de publico este de Lisboa... atrever-se a patear uma 
princeza... Se sua alteza tem a mania dos cumulos,--e porque não a 
terá?--sim, porque não terá sua alteza a mania dos cumulos, se a tem, é 
impossivel que pelo seu preclaro espirito não tivesse passado este--o 
cumulo da selvageria:--Patear uma princeza... 
Ah! decididamente sua alteza não estava em sorte... Pas de chance! No 
hotel os convivas faziam muito mais despeza de iguarias do que de 
elogios; nos Recreios, o publico muita mais despeza de botas do que de 
luvas... Pas de chance!
* * * * * 
Foi então, naturalmente, que o seu espirito se orientou na direcção a dar 
ao Portugal à vol d'oiseau. 
--Ah! os senhores julgam que não é mais do que comerem-me os meus 
jantares, do que patearem-me as minhas peças, esperem ahi que já os 
ensino! Até aqui tenho-os recebido como convivas, agora vou passar a 
tratal-os como assumptos! Os senhores pensam, quando estão á minha 
mesa, que são meus commensaes?--pois enganam-se, são paginas para 
o meu livro! Não sou eu quem os obsequeio aos senhores, os senhores    
    
		
	
	
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