A Morte de D. Ignez

Manuel Maria de Barbosa du Bocage
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The Project Gutenberg EBook of A Morte de D. Ignez, by
Manuel
Maria Barbosa du Bocage and Luis de Camões
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Title: A Morte de D. Ignez
Cantata por Manoel Maria Barbosa du Bucage; A Que Se Ajunta
. Episódio, Ao Mesmo Assumpto, do Immortal Luiz de Camões
Author: Manuel Maria Barbosa du Bocage
Luis de Camões
Release Date: October 20, 2007 [EBook #23110]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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D. IGNEZ ***
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A MORTE DE
+D. IGNEZ DE CASTRO,+
CANTATA.
POR
MANOEL MARIA BARBOSA DU BUCAGE;

A QUE SE AJUNTA O EPISÓDIO,
AO MESMO ASSUMPTO, DO IMMORTAL
+LUIZ DE CAMÕES.+
LISBOA,
NA TYPOGRAPHIA ROLLANDIANA.
1824.
_Com a licença da Meza do Desembargo do Paço._
As Filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo, chorando,
memoráraõ.
_Camões, Lusiad. Cant. 3._
A MORTE DE
+D. IGNEZ DE CASTRO,+
CANTATA.
+A ULINA,+
SONETO.
Da miseranda Ignez o caso triste,
Nos tristes sons que a magoa
desafina,
Envia o terno Elmano á terna Ulina,
Em cujos olhos seu
prazer consiste.
Paixaõ que se a sentir naõ lhe resiste
Nem nos brutos certões Alma
ferina,
Belleza funestou quasi divina,
De que a memoria em
lagrimas existe.
Lê, suspira, meu Bem, vendo hum composto
De raras perfeições
aniquilado
Por maõs do Crime, á Natureza opposto.

Tu és cópia de Ignez, encanto amado,
Tu tens seu coraçaõ, tu tens seu
rosto...
Ah! Defendaõ-te os Ceos de ter seu Fado.
+CANTATA.+
Longe do caro Esposo Ignez formosa
Na margem do Mondego,
As amorosas faces aljofrava
De mavioso pranto.
Os melindrosos, candidos Penhores
Do Thálamo furtivo,
Os Filhinhos gentís, imagem della,
No regaço
da Mãi serenos gozaõ
O somno da Innocencia.
Côro subtil de alígeros Favónios,
Que os ares embrandece,
Ora enlevado afaga
Com as plumas azues
o Par mimoso,
Ora, sôlto, inquieto
Em léda travessurá, em doce brinco,
Pela Amante saudosa,
Pelos tenros Meninos se reparte,
E com ténue
murmúrio vai prender-se
Das aureas tranças nos anneis brilhantes.

Primavera louçãa, Quadra macia
Da ternuia, e das flores,
Que á bella Natureza o seio esmaltas,
Que
no prazer de Amor ao Mundo apuras
O prazer da existencia,
Tu de Ignez lacrimosa
As mágoas naõ
distrahes com teus encantos.
Debalde o Rouxinol, cantor de amores,

Nos versos naturaes os sons varía,
O límpido Mondego em vaõ
serpêa
C'um benigno susurro, entre boninas
De lustroso matiz, almo
perfume;
Em vaõ se doira o Sol de luz mais viva,
Os Ceos de mais
pureza em vaõ se adornaõ
Por divertir-te, ó Castro:
Objectos de alegria Amor enjoaõ

Se Amor he desgraçado.
A meiga voz dos zephyros, do rio
Naõ te convida o somno:
Só de já fatigada
Na luta de amargosos
pensamentos,
Cerras, misera, os olhos;
Maõ naõ ha para ti, para os Amantes
Somno plácido, e mudo;
Naõ dorme a fantasia, Amor naõ dorme:

Ou gratas illusões, ou negros sonhos
Assomando na idéa, espertaõ,
rompem
O silencio da Morte.
Ah! Que fausta Visaõ de Ignez se apossa!
Que
scena, que espectaculo assombroso
A paixaõ lhe afigura aos olhos
d'alma!
Em marmóreo salaõ de altas columnas
A Sólio magestoso,
e rutilante
Junto ao regio Amador se crê subida;
Graças de neve a
púrpura lhe envolve,
Pende augusto Docel do tecto de oiro;
Rico
Diadema de radioso esmalte
Lhe cobre as tranças, mais formosas que
elle;
Nos luzentes degráos do Throno excelso
Pompósos Cortezãos
o orgulho acurvaõ;
A Lisonja sagaz lhe adoça os lábios,
O Monstro
da Politica se aterra,
E se Ignez perseguia, Ignez adora.
Ella escuta os extremos,
Os vivas populares, vê o Amante
Nos
olhos estudar-lhe as leis que dicta;
O prazer a transporta, Amor a
encanta;
Premios, dádivas mil ao Justo, ao Sábio
Magnanima confere,
Rainha esquece o que soffreo Vassalla:
De
sublimes acções orna a Grandeza,
Felicita os Mortaes, do Sceptro he
digna,
Impera em corações... mas Ceos! Qu'estrondo
O sonho
encantador lhe desvanece!
Ignez sobresaltada
Desperta, e de repente aos olhos turvos
Da
vistosa illusaõ lhe foge o quadro.
Ministros do Furor, tres vís Algozes,

De buidos punhaes a dextra armada,
Contra a bella Infeliz
bramindo avançaõ.
Ella grita, ella treme, ella descóra,
Os Fructos
da ternura ao seio aperta,
Invocando a piedade, os Ceos, o Amante;


Mas de marmore aos ais, de bronze ao pranto,
Á suave attracçaõ da
formosura,
Vós, bruto Assassinos,
No peito lhe enterrais os ímpios ferros.
Cahe nas sombras da Morte
A Victima de Amor, lavada em sangue,

As rosas, os jasmins da face amena
Para sempre desbotaõ.
Dos olhos se lhe sóme o doce lume,
E no fatal momento
Balbucia, arquejando: "Esposo, Esposo."
Os tristes Innocentes
Á triste Mãi se abraçaõ,
E soltaõ de agonia
inutil chôro.
Ao suspiro exhalado,
Final suspiro da formosa Extincta,
Os Amores acodem.
Mostra a Próle de Ignez, e a tua, ó Venus,

Igual consternaçaõ, e igual belleza:
Huns dos outros os candidos
Meninos
Só nas azas differem,
(Que jazem pelo campo em mil pedaços

Carcazes de marfim, virotes de oiro)
Súbito voaõ dois do Côro alado:

Este, raivoso, a
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