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Project Gutenberg's A Morte Do Athleta, by António Duarte Gomes 
Leal 
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Title: A Morte Do Athleta 
Author: António Duarte Gomes Leal 
Release Date: August 31, 2007 [EBook #22469] 
Language: Portuguese 
Character set encoding: ISO-8859-1 
0. START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A MORTE DO 
ATHLETA *** 
Produced by Tiago Tejo 
_Gomes Leal_ 
A
MORTE DO ATHLETA 
PORTO
Typ. de A. J. da Silva Teixeira 
1883 
_GOMES LEAL_ 
A 
MORTE DO ATHLETA
PORTO
TYP. DE A. J. DA SILVA TEIXEIRA
Rua da Cancella 
Velha, 62 
1883 
A 
ADOLPHO COELHO 
A MORTE DO ATHLETA 
Ó heroes! ó hereos! athletas extrangeiros!
viajantes que andaes á 
busca d'uma flor
mysteriosa e ideal, energicos mineiros,
sublimes 
corações que só sonhaes d'amor,
vós talvez morrereis da morte dos 
guerreiros
um dia, ao pôr do sol, como este gladiador. 
Vós talvez morrereis longe da patria um dia,
longe do amigo ceu que 
vistes á nascença,
longe do parreiral, da arvore sombria,
longe dos 
laranjaes sob que se ama e pensa,
sob uma rocha nua, ou n'uma praia 
fria,
longe do vosso deus, longe da vossa crença. 
E então erguendo as mãos, como n'um sonho ardente,
como um 
vencido, e olhando o Egoismo, a Ingratidão,
sentido-vos morrer, 
inevitavelmente,
lembrando a vossa aldeia, a infancia, a multidão,
talvez vos confesseis, amarguradamente,
que não achastes nunca, oh! 
nunca, um coração! 
Feliz inda comtudo o espirito-poeta!
que n'este desabar d'um mundo 
egoista e molle,
tendo perdido o Amor, a pérola secreta,
os astros 
dos seu ceu, e um peito que o console,
poder inda expirar, assim 
como um athleta,
--aos pés do seu Ideal, voltado para o sol. 
Era uma vez um rijo e energico athleta,
forte como os heroes, frio 
como as espadas.
Ninguem em Roma tinha a barba assim tão preta,
musculos mais viris, pernas mais bem talhadas.
Ninguem tinha esse 
olhar firme como a lanceta,
extranho como a luz das pedras
lapidadas. 
As matronas fieis e as bellas virgens brancas
sentiam perturbar as 
suas noites puras,
recordando o seu talho, o busto, as fortes ancas,
seu perfil excedendo as gregas esculpturas,
e os seus braços viris, 
fortes como alavancas,
bellos para apertar a linha das cinturas. 
Ninguem amava o sol e as noites rutilantes,
a herva, o mar, a luz, 
como este saltimbanco!
Ninguem tinha tambem tunicas mais 
brilhantes,
mais braceletes d'oiro e o olhar d'um firme franco!
Os 
peitos virginaes batiam soluçantes
ante o seu busto altivo e o seu 
pescoço branco. 
Vestaes e cortezãos, virgem ou messalina,
sentiam, como as mais, as 
rijas attracções
da energia do sangue e a força masculina
dos seus 
musculos d'aço e rigidos tendões,
ao vêl-o calmo, em pé, e trémula a 
narina,
doirado, semi-nú, calcando os histriões. 
De certo as mais fieis matronas recatadas,
filhas, irmãs do edil, consul, 
ou senador,
sentiam perpassar, nas noites desmanchadas,
o imperio 
do perfil do extranho gladiador.
Mas ele tinha erguido, em rochas 
escarpadas,
--sagrado como um templo, o seu arisco amor! 
Porém, por sua vez, o heroe da Roma esquiva,
gloria dos histriões, 
dextro no césto e lança,
que havia preso a loba, a Roma, essa lasciva
dos bordeis de Suburra, e preso pela trança,
amava uma mulher de 
marmore, uma altiva,
amava sem remedio, amava sem esperança. 
Era Livia o seu nome; e nunca as galerias
austeras e immortaes 
manchou dos seus avós.
Jamais o Amor lhe fez velar noites sombrias
e, erguendo as mãos, chorar, sobre o seu leito, a sós.
--Pólos! ha 
corações mais gelados que vós.
--Estatuas! não sois só as bellas 
coisas frias. 
Embalde erguia as mãos, magras de um sonho ardente,
pelas noites
febris, para o solemne ceu.
Em vão elle exibia um facto resplendente,
vencendo os histriões, heroes do povileu.
Em vão, na via Appia, ia 
atravez da gente,
seguindo-a, como ao vento o pó d'um mausoleu. 
Em vão ia passar as noites nas orgias
dos bordeis de Suburra, ás luzes 
amarellas.
Em vão ia, ao luar, á brisa das marezias,
sobre as aguas 
do Tibre errar nas noites bellas.
Em vão trepava, á noite, ás altas 
penedias,
pallido, a fronte em febre, ao frio das estrellas. 
Em vão fez que lhe désse o tragico Tiberio
o bracelete d'oiro e o 
annel de cavalleiro.
Em vão fugiu, correu todo o romano imperio,
a 
Gallia, a Syria, o Egypto, e o Oriente inteiro,
e na Judea viu ao 
Christo magro e serio,
ao sol-posto, expirar, em cima d'um madeiro. 
Em vão correu a Lybia, as praias extrangeiras,
viu outros novos ceus, 
outros extranhos mares,
as rosas de Sarão, as verdes laranjeiras,
as 
florestas da Gallia, a areia dos palmares,
e os prophetas Judeus, 
debaixo das palmeiras,
magros, com largo gesto, erguendo as mãos 
aos ares. 
Em vão elle viu Chypre, a bella ilha amena,
as Gregas sensuaes, 
brancas, dominadoras,
as bellezas de Cós, as tentações do Sena,
as 
Judias fataes, as do Ebro tentadoras,
e em cima d'um rochedo, á tarde, 
a Magdalena,
chorosa, ao pé da cruz, rojando as tranças louras. 
Em vão! Nunca a esqueceu!--Nem perto    
    
		
	
	
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