A Filha do Cabinda

Alfredo Campos
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A Filha do Cabinda, by Alfredo Campos

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Title: A Filha do Cabinda
Author: Alfredo Campos
Release Date: June 29, 2007 [EBook #21961]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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A filha do cabinda

PORTO--IMPRENSA PORTUGUEZA, BOMJARDIM, 181.
ALFREDO CAMPOS

A FILHA DO CABIDA
ROMANCE ORIGINAL

PORTO EDITORES--PEIXOTO & PINTO JUNIOR 119, Rua do Almada, 123 1873
A SEUS
ILLUSTRISSIMOS E EXCELLENTISSIMOS TIOS
JOSé D'ALMEIDA CAMPOS
ANTóNIO D'ALMEIDA CAMPOS E SILVA
e
JOAQUIM D'ALMEIDA CAMPOS
OFFERECE
O auctor.
Ex.^mos Tios e amigos.
A ?filha do cabinda? é uma recorda??o singellissima de muitas, que conservo, de alguns annos passados, na formosa capital do vasto Imperio do Brazil.
Transcrevi-a do livro da minha memoria, para este que aqui vai, singello, despretencioso, sem flores e sem perfumes, unicamente no intuito de matar horas d'enfado e dias de melancholia.
Resolvido agora, e quem sabe se imprudentemente, a fazel-a correr mundo, nas azas da publicidade, lembrou-me collocar os seus nomes na primeira pagina, como pequenissima significa??o da muita estima e da muita gratid?o, que devo a cada um.
Bem sei que muito fica da divida por saldar, mas quero, ao menos, mostrar-lhes, d'este modo, que n?o esque?o o muito que teem a haver dos sentimentos do meu cora??o.
Acceitem, pois, a offerta, que é singella, e avaliem-na pela inten??o e n?o pelo que é.
Sempre
Sobrinho amigo e agradecido
Alfredo Campos.

A FILHA DO CABINDA

A FILHA DO CABINDA

I
A filha do cabinda é formosa como a vis?o d'um sonho celeste; meiga como o canto do sabiá, poisado nos galhos do cajueiro, e ingenua como a virgem da innocencia.
O cabinda é negro, e negro de ra?a fina, mas é branca a sua filha, e filha, porque o velho escravo quer muito á senhora mo?a, que elle beijava e embalava no seu collo, quando era pequenina.
Revê-se n'ella, e n'ella se mira doido d'affei??o o pobre negro, e tanto a gravou na ideia, tanto a traz no cora??o, que chega até a esquecer-se do trabalho, sujeitando-se ás reprehens?es do seu senhor, para, insensivelmente, se entregar a scismar n'ella, que é t?o bondosa, t?o meiga e t?o carinhosa para elle; n'ella, que, por uma destas illus?es, d'estas miragens, d'estas doidices, d'um grande affecto e d'uma viva sympathia, chega a julgar realmente sua filha.
E filha do cabinda lhe chama elle.
O negro vivia na sua terra, alegre e feliz; lá tinha seus paes, a sua companheira, os filhos e a sua familia.
Um dia, n?o sabe como, achou-se com todos elles dentro d'um navio, que come?ou a affastal-o, cada vez mais, da sua patria. Passou assim algum tempo, entre as duas immensid?es, o mar e o céo, sem sentir saudades da sua terra, porque levava ainda ao seu lado aquelles que lhe davam alegria. Depois, pozeram-o de novo em terra, levaram-o a elle e aos seus companheiros para uma grande casa, onde os brancos come?aram a disputar o pre?o por que haviam de compral-os.
O cabinda foi vendido e quizeram leval-o.
Leval-o? E a sua companheira? e os filhos? e seus paes?
Esses, foram vendidos tambem, e cada um a seu senhor.
Tristissimo era o negocio da escravid?o!
Reagiu o negro, quando o quizeram separar dos seus, e quando tambem os separavam d'elle.
Teve, ent?o, saudades da sua patria, terriveis, sem duvida, porque eram, ao mesmo tempo, saudades da sua liberdade.
Fizeram-lhe, porém, estancar as lagrimas angustiosas as amea?as d'um a?oite, e o Cabinda lá partiu, sem esperan?as de tornar a vêr os filhos queridos, que nem sequer beijara na despedida, a esposa, que elle adorava com um culto rude, mas sincero, e os paes, que elle respeitava com a sua venera??o selvagem.
Partiu, mas ainda assim, boa estrella o guiava, porque, cortando-lhe as affei??es mais caras da sua vida, ao menos o levaram para onde tinha de ser estimado, quasi como pessoa de familia, e n?o como escravo e negro que era.
Em casa do seu senhor foi elle encontrar uma creancinha de dois annos, que tinha uns olhos lindos, os cabellos como os olhos, negros da c?r do abysmo, e um rosto como o dos anjos d'um sonho de poeta, como o das fadas boas das vis?es nocturnas das mattas virgens.
A convivencia foi-o affei?oando áquella creancinha, que lhe sorria t?o innocentemente; que lhe estendia, alegre, os bracinhos mimosos, e, brincando, o abra?ava carinhosamente pelas pernas.
O negro, quando via a pequenina Magdalena, sentia n?o sei que do?uras n'alma, n?o sei que effluvios no cora??o, mas que deviam ser gratissimos, porque os olhos desannuviavam-se-lhe logo das sombras de tristeza, que os velavam sempre, e os labios desatavam-se-lhe n'um sorriso de sincero e
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