A Cidade e as Serras

José Maria Eça de Queiroz
A Cidade e as Serras, by Eça
Queirós

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Title: A Cidade e as Serras
Author: Eça Queirós
Release Date: October 12, 2007 [EBook #18220]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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E AS SERRAS ***

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Nacional de Portugal).)

EÇA DE QUEIROZ

A CIDADE E AS SERRAS
PORTO
LIVRARIA CHARDRON
De Lello & Irmão, editores
1901
Todos os direitos reservados

EÇA DE QUEIROZ
A CIDADE E AS SERRAS
PORTO
LIVRARIA CHARDRON
De Lello & Irmão, editores
1901
Todos os direitos reservados

Pertence no Brazil o direito de propriedade d'esta obra ao cidadão
Francisco Alves, livreiro editor no Rio de Janeiro, que, para a garantia
que lhe offerece a lei n.^o 496 de 1 d'Agosto de 1898, fez o competente
deposito na Bibliotheca nacional, segundo a determinação do art. 13.^o
da mesma Lei.
Porto--Imprensa Moderna

[Figura de Eça de Queirós]

A CIDADE E AS SERRAS

Obras do mesmo auctor:
*Revista de Portugal.* 4 grossos volumes 12$000
*As minas de Salomão.* 1 volume $600
*Os Maias.* 2 grossos volumes 2$000
*O crime do padre Amaro.* Terceira edição inteiramente refundida,
recomposta, e differente na fórma e na acção da edição primitiva. 1
grosso volume 1$200
*O primo Bazilio.* Quarta edição. 1 grosso volume 1$000
*A Reliquia.* 1 grosso volume 1$000
*O Mandarim.* Quarta edição. 1 volume $500
*Correspondencia de Fradique Mendes.* 1 volume $600
*A illustre casa de Ramires.* 1 volume 1$000

A CIDADE E AS SERRAS

I
O meu amigo Jacintho nasceu n'um palacio, com cento e nove contos
de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e d'olival.
No Alemtejo, pela Extremadura, atravez das duas Beiras, densas sebes
ondulando por collina e valle, muros altos de boa pedra, ribeiras,

estradas, delimitavam os campos d'esta velha familia agricola que já
entulhava grão e plantava cepa em tempos d'el-rei D. Diniz. A sua
quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo Douro, cobriam uma serra.
Entre o Tua e o Tinhela, por cinco fartas legoas, todo o torrão lhe
pagava fôro. E cerrados pinheiraes seus negrejavam desde Arga até ao
mar d'Ancora. Mas o palacio onde Jacintho nascêra, e onde sempre
habitára, era em Paris, nos Campos Elyseos, n.^o 202.
Seu avô, aquelle gordissimo e riquissimo Jacintho a quem chamavam
em Lisboa o D. Galião, descendo uma tarde pela travessa da
Trabuqueta, rente d'um muro de quintal que uma parreira toldava,
escorregou n'uma casca de laranja e desabou no lagedo. Da portinha da
horta sahia n'esse momento um homem moreno, escanhoado, de grosso
casaco de baetão verde e botas altas de picador, que, galhofando e com
uma força facil, levantou o enorme Jacintho--até lhe apanhou a bengala
de castão d'ouro que rolára para o lixo. Depois, demorando n'elle os
olhos pestanudos e pretos:
--Oh Jacintho Galião, que andas tu aqui, a estas horas, a rebolar pelas
pedras?
E Jacintho, aturdido e deslumbrado, reconheceu o snr. Infante D.
Miguel!
Desde essa tarde amou aquelle bom Infante como nunca amára, apesar
de tão guloso, o seu ventre, e apesar de tão devoto o seu Deus! Na sala
nobre da sua casa (á Pampulha) pendurou sobre os damascos o retrato
do «seu Salvador», enfeitado de palmitos como um retabulo, e por
baixo a bengala que as magnanimas mãos reaes tinham erguido do lixo.
Emquanto o adoravel, desejado Infante penou no desterro de Vienna, o
barrigudo senhor corria, sacudido na sua sege amarella, do botequim do
Zé-Maria em Belem á botica do Placido nos Algibebes, a gemer as
saudades do anginho, a tramar o regresso do anginho. No dia, entre
todos bemdito, em que a Perola appareceu á barra com o Messias,
engrinaldou a Pampulha, ergueu no Caneiro um monumento de papelão
e lona onde D. Miguel, tornado S. Miguel, branco, d'aureola e azas de
Archanjo, furava de cima do seu corcel d'Alter o Dragão do
Liberalismo, que se estorcia vomitando a Carta. Durante a guerra com o

«outro, com o pedreiro livre» mandava recoveiros a Santo Thyrso, a S.
Gens, levar ao Rei fiambres, caixas de dôce, garrafas do seu vinho de
Tarrafal, e bolsas de retroz atochadas de peças que elle ensaboava para
lhes avivar o ouro. E quando soube que o snr. D. Miguel, com dois
velhos bahus amarrados sobre um macho, tomára o caminho de
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