Os Bravos do Mindello

Faustina da Fonseca
Os Bravos do Mindello, by
Faustino da Fonseca

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Title: Os Bravos do Mindello Romance Histórico
Author: Faustino da Fonseca
Release Date: May 4, 2007 [EBook #21290]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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BRAVOS DO MINDELLO ***

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[Nota do transcritor: Esta obra apresenta algumas inconsistências
ortográficas.]

Obras de Faustino da Fonseca
Lyra da Mocidade (primeiros versos) 1892. Exgotado 1 vol.
Tres mezes no Limoeiro, 1896, 1.{a} edição com illustrações de Leal da
Camara. Exgotado 1 vol.
Segunda edição (popular) 1 vol.
O descobrimento do caminho maritimo para a India 1 vol.
A descoberta da India (Drama historico em 5 actos) 1898 1 vol.
O escandalo dos dramas do concurso do centenario da India, 1898 1
vol.
Regresso ao Lar, romance, 1896, com illustrações de Roque Gameiro
(folhetim em O Seculo.)
A descoberta do Brasil, 1900, com illustrações de Roque Gameiro,
cartas, mappas, fac-similes de documentos. Exgotado 1 vol.
Pedro Alvares Cabral, 1900 1 vol.
Ignez de Castro romance historico, 1900. 1.{a} edição com illustrações
de D. Virginia da Fonseca, Augusto Pina, Bemvindo Ceia. Exgotado 4
vol.
Segunda edição (popular) com illustrações de Alfredo de Moraes 2 vol.
Escravos, romance, 1901 (folhetim em A Folha do Povo.)
Padeira de Aljubarrota, romance historico, 1901, com illustrações de
Bemvindo Ceia 2 vol.
As mulheres portuguêsas na Restauração de Portugal, romance
historico, 1902, com illustrações de Roque Gameiro 3 vol.
El-rei D. Miguel (chronica popular do absolutismo) 1905. Illustrado

com retratos e monumentos 1 vol.
Os filhos de Ignez de Castro, romance historico, em collaboração com
Joaquim Leitão, 1905 1 vol.
Anedoctas de reis, principes e outras personagens portuguêsas e
estrangeiras, extrahidas, traduzidas, compiladas e prefaciadas, 1905 1
vol.
Bons ditos de reis, principes e outras personagens portuguêsas e
estrangeiras, extrahidas, traduzidas, compiladas e prefaciadas, 1906 1
vol.
Beijos por lagrimas, romance historico. 1906 (folhetim em A Lucta).

FAUSTINO DA FONSECA
OS BRAVOS DO MINDELLO
ROMANCE HISTORICO

LISBOA Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso 5--Largo de
Camões--6 1906

I
Ao tiro de peça acordou João de um inquieto somno de namorado e,
apoiando o cotovelo no grande leito de alta cabeceira de tarja, prestou
attenção.
Seria salva do castello, ou vinha navio de Lisboa confirmar as
aprehensões dos sonhos agitados em que Maria se esquivava sempre ao
caloroso enlace dos seus braços, e um subito quebranto o
impossibilitava de perseguil-a, e um sobresalto, como que a queda do

ideal, interrompia o laborioso despertar da sua estuante virilidade?
Não se repetiram detonações que o tranquilisassem e, no brando rumor
cantante e alegre, reconheceu o romper d'alva. Deitou pelos hombros
um capote azul de cabeção, e fechos de prata, apagou a candeia de ferro
cujo espelho areado reluzia e tirou a tranqueta que especava, desde a
cunha ao encaixe da parede, o postigo das pesadas portas de cedro da
janella de peitoril.
Pelo pequeno caixilho de minguados vidros azulados percebeu a
confusa luz da manhan.
Então destrancou vigorosamente as portadas, retirando o grosso
cilindro ao longo da cava da cantaria e, depondo-o contra o poial,
puchou para si os dois pesados batentes e debruçou-se com avidez.
--Muito madrugaste hoje--disse-lhe debaixo a tia Pulcheria, ajoujada á
celha das lavagens, avental de barras amarellas, ainda com a rede de
dormir apanhando os cabellos brancos.
Deu-lhe os bons dias e viu-a, por entre os claros da parreira de Alicante,
dirigir-se ao curral onde grunhia o porco alegremente, o focinho bronco
farejando por cima da cancella.
--Não ouviu uma peça, tia?
--Ha de ser navio de Lisboa.
Em passo miudinho, muito activa, a arregaçada cheia de milho, acudia
ao tumulto da capoeira, onde o gallo repenicava, em desafio com os
visinhos, emquanto da pocilga rompia um grunhido satisfeito,
misturado ao chapinhar na agua de semeas.
Rompeu no castello o toque da alvorada, o echo vibrante do clarim
dando o signal do batalhão, e o terno de cornetas atacou as notas baixas,
até se casarem n'um hymno ao triumphal raiar da aurora.
Passavam chocalhos de machos carregados de trigo para os moinhos do

Pisão.
Apregoavam leite homens do monte, vindos da Ribeirinha, barba ruiva,
pé descalço, vestidos de linho branco alvo de neve, a camisola presa no
pescoço por botões de oiro, carapucinha preta com orelhas vermelhas,
pequena como a palma da mão, posta á banda n'um elegante equilibrio,
batendo o bordão com rendilhados na ponteira; rolhas de pasto no
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