Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo II

Alexandre Herculano

Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo II

The Project Gutenberg EBook of Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo II
by Alexandre Herculano This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.net
Title: Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo II
Author: Alexandre Herculano
Release Date: October 23, 2005 [EBook #16922]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OPúSCULOS POR ALEXANDRE ***

Produced by Biblioteca Nacional Digital (http://bnd.bn.pt), Nuno Lopes (Projecto Enclave) and edited by Rita Farinha

*OPUSCULOS*
POR
A. HERCULANO
SOCIO DE MERITO DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE LISBOA
SOCIO ESTRANGEIRO DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE BAVIERA
SOCIO CORRESPONDENTE DA R. ACADEMIA DA HISTORIA DE MADRID DO INSTITUTO DE FRAN?A (ACADEMIA DAS INSCRIP??ES) DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE TURIM DA SOCIEDADE HISTORICA DE NOVA YORK, ETC.
QUEST?ES PUBLICAS
*TOMO II*
LISBOA
EM CASA DA VIUVA BERTRANDA & C.^a--CHIADO, N.^o 73
M DCCC LXXIII

MONUMENTOS PATRIOS
1838

I
Diz-se que uma das mais bellas miss?es da imprensa é defender a boa raz?o, a arte, e a honra e gloria da patria. Imagina-se ampla colheita de renome, de ben??os, de vantagens de toda a especie para o escriptor que alevanta a voz a favor do bom, do justo e do bello, se a voz do que escreve é assás poderosa para se esperar que mova os animos dos seus concidad?os. E com effeito, indicar a estes o recto caminho, quando transviados; tentar affei?oá-los a nobres e puros sentimentos; fazê-los amar o solo natal; despertar-lhes affectos pelo que foi grande e nobre na historia do paiz, parece que deveria produzir fructos de ben??o para o escriptor que o tentasse. N?o é, todavia, assim. Ha para isso um obstaculo quasi insuperavel; a supersti??o pelas idéas e tendencias do presente, mais cega que a supersti??o pelas cren?as do passado. As paix?es s?o mais energicas do que as reminiscencias, as aspira??es que as saudades. Gloria, lucro, respeito, ben??os s?o para aquelle que afaga com palavras mentidas as preoccupa??es populares; para aquelle que, sem discrime, louva, adorna ou repete como echo as opini?es que ao redor delle, talvez por cima delle, esmagando-lhe a consciencia, passam como torrente. Tumultua o genero humano correndo ao longo dos seculos: o louvador, ás vezes o promotor do tumulto, se a natureza lhe concedeu imagina??o e talento, vai adiante como capit?o e guia da gera??o que corre ebria: incita-a, arrasta-a, deslumbra-a. As cor?as voam-lhe do meio do tropel sobre a cabe?a. Verdade é que ao cabo do tanto lidar elle se despenhará com essa gera??o no abysmo do passado; verdade é que o abysmo se fechará para elle com o sêllo da reprova??o de cima, e que, porventura, n?o tardará que o futuro passe por ahi a sorrir, ou se afaste com tedio do sepulchro dealbado do erro ou da villania. Mais isso que importa? O homem que vendeu ao seculo a consciencia e o engenho, que Deus n?o lhe deu para mercadejar com elle, foi bemquisto e glorificado emquanto vivo; foi antesignano do progresso, embora este seja avaliado algum dia como progresso fatal!
Mas que póde esperar aquelle que, nessa longa e ampla estrada do tempo, por onde o genero humano corre desordenado, quizer vir, do lado do futuro e em nome do futuro, dizer á gera??o a que pertence:--parae lá--? Embora a sua voz troveje: embora as suas palavras devam fazer vibrar todas as cordas do cora??o e despertar todas as convic??es da alma: n?o espere ser ouvido. As multid?es continuar?o a passar desattentas. Escarnecido, amaldic?oado talvez, dormirá esquecido na morte, e os sabios e prudentes cultores de uma philosophia corrompida e egoista dir?o, com insultuosa compaix?o, ao passar pelo que jaz no pó:--Pobre louco, recebeste o premio de querer contrastar o seculo!
O que havemos dito é crua verdade; mas é a verdade. Ha nesta epocha dous caminhos a seguir; um, estrada larga, batida, plana, sem precipicios, mas que conduz á prostitui??o da intelligencia; outro, vereda estreita, tortuosa, malgradada, mas que se dirige ao applauso da propria consciencia. Aquelles cujas esperan?as n?o v?o além dos umbraes do cemiterio e que ahi veem, n?o o termo da sua perigrina??o na terra, mas o remate da existencia, que sigam a facil estrada. Nós, porém, que guardamos para além da vida as nossas melhores esperan?as, tomaremos o bord?o do romeiro e iremos rasgar os pés pela vereda d’espinhos. Resignar-nos-hemos nos desprezes e, como os soldados do eremita Pedro, que, pondo a cruz vermelha no hombro para irem morrer na Palestina, clamavam--?Deus assim o quer! Deus assim o quer!?--diremos tambem:--?sofframos o menoscabo e o vilipendio: sofframos que assim o quer Deus.?
é contra a indole destruidora dos homens de hoje que a raz?o e a consciencia nos for?am a erguer a voz e a chamar, como o
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 81
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.