O poeta Chiado | Page 2

Alberto Augusto de Almeida Pimentel
do mesmo seculo XVII: ?Outras casas do bairro do Marquez ficavam situadas _ao Chiado_, quando se entra na rua Direita da Porta de Santa Catharina (1610)[3]?
[3] Archivo Nacional. _Chancellaria de D. Filippe II_. livro XIX, fol. 269.
Mas hoje cuido trazer prova convincente de que foi o poeta que, por consenso espontaneo do povo, deu o nome de Chiado �� antiga rua da Porta de Santa Catharina ou a parte d'ella.
O povo baptiza melhor do que a camara municipal, porque baptiza com mais acerto, quasi sempre com inteira raz?o de ser; por isso, nome que elle ponha, p��ga, fica, perdura.
E, n?o obstante a camara municipal mudar em 1880 o nome �� rua, de _Chiado_ para _Garrett_, o povo n?o quiz saber de reviravoltas de letreiros nas esquinas: continua a chamar-lhe _Chiado_; _Chiado_ �� que ��, porque o povo quer que seja assim.
As novas descobertas que hoje tiro a lume sobre a vida azevieira do poeta Chiado, anecdotas passadas entre o povo e com o povo, das quaes resulta que elle foi um bohemio t?o acabado e popular no seculo XVI como Bocage o veiu a ser no seculo XVIII, essas novas descobertas, dizia eu, acodem a refor?ar a prova, que em documentos colhi, de haver sido elle que celebrizou a rua em que morava e que por esse facto, sem que ninguem o decretasse, mas porque todos assentiram, ficou a alcunha do poeta tradicionalmente ligada �� rua como um padr?o de celebridade local[4].
[4] De todas as ruas de Lisboa o Chiado �� a mais cantada e decantada. Na literatura, al��m de infinitas referencias, tem fornecido o titulo de algumas obras: _Do Chiado a Veneza_ por Julio Cesar Machado (1867); _Viagens no Chiado_ por Beldemonio (Ed. de Barros Lobo) 1857; _A campanha do Chiado_, scena comica; _Trez ao Chiado_, can?oneta. No principio do anno de 1868 come?ou a publicar-se em Lisboa um periodico com o titulo _O Chiado_, em formato grande e excellente papel. Teve eph��mera existencia. No n^o 5. correspondente a 6 de fevereiro, inseriu um artigo do sr. Brito Rebello sobre o poeta Chiado. D'esse artigo recortamos os seguintes periodos:
?Mas d'onde lhe veiu a alcunha: Eis os eruditos em duvida. A opini?o correntia at�� alguns annos era de que esta lhe proviera da rua onde habitava, que era a parte da subida desde o Espirito Santo, hoje palacio da casa de Barcellinhos, at�� �� rua de S. Francisco (_Ivens_). Ha por��m um contra: em monumento ou documento algum anterior ao seculo XVI, se encontra tal designa??o. �� pois mais natural a hypothese do sr. Alberto Pimentel, de que do poeta veiu o nome �� rua.?
A hypothese, formulada em 1889, �� hoje uma these documentada.
II
Eu conjecturei em 1889 que--Chiado--era alcunha popular e nao appellido de familia. Hoje possuo provas de ter havido no districto de Evora, d'onde o poeta era natural, uma familia de appellido Chiado, anterior ao poeta.
Bem pode ser que o appellido proviesse de alcunha, no sentido em que a tomei[5], o que muitas vezes acontece. Mas n?o ha duvida que j�� no seculo XV existiam Chiados no baixo Alemtejo.
[5] _Ver Obras do poeta Chiado_, pag. XXVIII a XXX.
Perante D. Jo?o II queixaram-se Jo?o Lopes Chiado e Francisco Lopes Chiado, ambos eborenses e irm?os, contra a persegui??o judicial que lhes moviam Ayres Gamito e Gon?alo d'Elvas, servi?aes d'el-rei.
Por carta regia, datada de Evora, D. Jo?o mandou annullar-lhes a culpa deixando-os illibados[6].
[6] Archivo Nacional. Chancellaria de D. Jo?o II, liv. 17, fl. 89, v.
No seculo XVI havia em Montemor-o-Novo um Antonio Fernandes Chiado, homem muito pobre, a quem D. Jo?o III perdoou o delicto (em 11 de setembro de 1553) de ter ca?ado perdizes com boiz, contra o que dispunham as Ordena??es[7].
[7] Archivo Nacional. D. Jo?o III. Perd?es e legitima??es, liv, 19, fl. 398, v.
Mas nenhuma d'estas noticias vale tanto como a de ter existido ao tempo do poeta, no anno de 1567, em Lisboa, uma Catharina Dias, ?dona viuva?, mulher que foi de Gaspar Dias o Chiado, a qual residia ?na rua Direita da Porta de Santa Catharina.?
Colhi esta noticia n'um documento authentico[8].
[8] Archivo Nacional. _Collegiada de S?o Juli?o de Lisboa_, ma?o unico n^o 14. Instrumento lacerado no fim. Transcrevemos apenas o come?o, por ser a parte que mais nos interessa:
?Em nome de deus amem sajbam qu?tos este estromento de emnouac?o de prazo e nouo emprazamento vyrem que no Anno do nascymento de nosso senhor Jesus Christo de myll e quinhentos e sesemta e sete Aos tres dias do mes de Junho na cydade de llixboa demtro da parochiall Igreya de sam Gj?o est?do ahy de presente o senhores lljonardo nardez de cyxo (sic) prior da dita Igreya e guomcallo diaz e Jorge Rebejro e pedro ortyz e ffrancisquo de lh?nes beneffyciados em ella todos presentes e Imtaresemtes na dita ygreya e todos jumtos e c?gregados por som de
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