Lendas e Narrativas

Alexandre Herculano
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Lendas e Narrativas

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Title: Lendas e Narrativas (Tomo II)
Author: Alexandre Herculano
Release Date: November 4, 2005 [EBook #17005]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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LENDAS E NARRATIVAS (Tomo II)
A DAMA-P��-DE-CABRA
RIMANCE DE UM JOGRAL
SECULO XI

TROVA PRIMEIRA.
1
V��s os que n?o cr��des em bruxas, nem em almas penadas, nem nas tropelias de Satan��s, assentae-vos aqui ao lar, bem junctos ao p�� de mim, e contar-vos-hei a historia de D. Diogo Lopes, senhor de Biscaia.
E n?o me digam no fim:--"n?o p��de ser."--Pois eu sei c�� inventar cousas destas? Se a conto �� porque a li n'um livro muito velho, quasi t?o velho como o nosso Portugal. E o auctor do livro velho leu-a algures, ou ouviu-a contar, que �� o mesmo, a algum jogral em seus cantares.
�� uma tradi??o veneranda; e quem descr�� das tradi??es l�� ir�� para onde o pague.
Juro-vos que se me negaes esta certissima historia sois dez vezes mais descridos do que S. Thom�� antes de ser grande sancto. E n?o sei se eu estarei de animo de perdoar-vos, como Cbristo lhe perdoou.
Silencio profundissimo; porque vou principiar.
2
D. Diogo Lopes era um infatigavel monteiro: neves da serra no inverno, soes dos estevaes no ver?o, noites e madrugadas, d'isso se ria elle.
Pela manhan cedo de um dia sereno estava D. Diogo em sua armada, em monte selvoso e agreste, esperando um porco montez, que, batido pelos ca?adores, devia sa��r naquella assomada.
Eis sen?o quando come?a a ouvir cantar ao longe: era um lindo, lindo cantar.
Alevantou os olhos para uma penha que lhe ficava fronteira: sobre ella estava assentada uma formosa dama; era a dama quem cantava.
O porco fica desta vez livre e quite; porque D. Diogo Lopes n?o corre, voa para o penhasco.
"Quem sois v��s, senhora t?o gentil; quem sois, que logo me captivastes?"
"Sou de t?o alta linhagem como tu; porque venho do semel de reis, como tu, senhor de Biscaia."
"Se j�� sabeis quem eu seja, offere?o-vos a minha m?o, e com ella as minhas terras e vassallos."
"Guarda as tuas terras, D. Diogo Lopes, que poucas s?o para seguires tuas montarias; para o desporto e folgan?a de bom cavalleiro que ��s. Guarda os teus vassallos, senhor de Biscaia, que poucos s?o elles para te baterem a ca?a."
"Que dote, pois, gentil dama, vos posso eu offerecer digno de v��s e de mim; que se a vossa belleza �� divina, eu sou em toda a Hespanha o rico homem mais abastado?"
"Rico-homem, rico-homem, o que eu te acceit��ra em arrhas cousa �� de pouca valia; mas apesar d'isso n?o creio que m'o concedas; porque �� um legado de tua m?e, a rica-dona de Biscaia."
"E se eu te amasse mais que a minha m?e, porque n?o te cederia qualquer dos seus muitos legados?"
"Ent?o se queres ver-me sempre ao p�� de ti n?o jures que far��s o que dizes, mas d��-me d'isso a tua palavra."
"A la f�� de cavalleiro, n?o darei uma, darei milhentas palavras."
"Pois sabe que para eu ser tua �� preciso esqueceres-te de uma cousa que a boa rica-dona te ensinava em pequenino, e que estando para morrer ainda te recordava."
"De qu��, de qu��, donzella?"--acudiu o cavalleiro com os olhos faiscantes.--"De nunca dar treguas �� mourisma, nem perdoar aos c?es de Mafamede? Sou bom christ?o. Guai de ti e de mim se ��s dessa ra?a damnada!"
"N?o �� isso, dom cavalleiro,"--interrompeu a donzella a rir.--"O de que eu quero que te esque?as �� do signal da cruz: o que eu quero que me promettas �� que nunca mais has-de persignar-te."
"Isso �� outra cousa:"--replicou D. Diogo, que nos folgares e devassid?es perd��ra o caminho do c��u. E poz-se um pouco a scismar.
E scismando dizia comsigo:--"De que servem benzeduras? Matarei mais duzentos mouros e darei uma herdade a Sanctiago. Ella por ella. Um presente ao apostolo e duzentas cabe?as de agarenos valem bem um grosso peccado."
E erguendo os olhos para a dama, que sorria com ternura, exclamou:--"Seja assim: est�� dicto. V��, com seiscentos diabos."
E levando a bella dama nos bra?os, cavalgou na mula em que viera montado.
S�� quando �� noite no seu castello p?de considerar miudamente as f��rmas nuas da airosa dama, notou que tinha os p��s forcados como os de cabra.
3
Dir�� agora alguem:--"Era por certo o demonio que entrou em casa de D. Diogo Lopes. O que l�� n?o iria!"--Pois sabei que
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