A Invenção do Dia Claro

José de Almada Negreiros
Invenção do Dia Claro, by José
de Almada Negreiros

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Title: A Invenção do Dia Claro
Author: José de Almada Negreiros
Release Date: September 29, 2007 [EBook #22801]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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INVENÇÃO DO DIA CLARO ***

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OLISIPO

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

[Nota do Transcritor: Aqui surge a assinatura do autor.]
+A INVENÇÃO DO DIA CLARO+
Escripta de uma só maneira para todas as espécies de orgulho, seguida
das démarches para a Invenção e acompanhada das confidencias mais
intimas e geraes.
Ensaios para a iniciação de portuguezes na revelação da pintura
Com um retrato do autor por elle-proprio
primeiro milhar
LISBÔA "OLISIPO", APARTADO 145
1921

NOUS SAVONS DONNER NOTRE VIE TOUTE ENTIÉRE TOUS
LES JOURS. BÉNNISSONS LA VIE! SALUONS LA NAISSANCE
DU TRAVAIL NOUVEAU. LE MONDE N'A PAS D'ÂGES,
L'HUMANITÉ SE DÉPLACE TOUT SIMPLEMENT. JE NE SUIS
PAS PRISONNIER DE MA RAISON. DIEU FAIT MA FORCE ET
JE LOUE DIEU. SPLENDEURS DES VILLES. POINT DE
CANTIQUE--TENIR TOUJOURS LE PAS GAGNÉ.
Rimbaud

[Nota do Transcritor: Aqui surge o retrato do autor por ele próprio.]

AO
MEU AMIGO

FERNANDO AMADO

+O LIVRO+
Entrei numa livraria. Puz-me a contar os livros que ha para ler e os anos
que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão
estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito
bem vestidas de quem precisa salvar-se.
* * * * *
Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a sciencia que trata da vida;
era justamente do que eu necessitava--pôr sciencia na minha vida.
Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada.
Disseram-me que era necessario estar já iniciado, ora eu só tenho uma
iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo á imagem e semelhança
de Deus. Não basta?
* * * * *
Imaginava eu que havía tratados da vida das pessoas, como ha tratados
da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecidos com
o tratamento que ha para os animaes domesticos, não é? Como os
cavalos tão bem feitos que ha!
Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como ha hostias para
cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hostia. Um livro
pequenino, com duas paginas, como uma hostia. Um livro que dissesse
tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia.
* * * * *

Não achas, Mãe? Por exemplo. Ha um cão vadio, sujo e com fome,
cuida-se deste cão e ele deixa de ser vadio, deixa de estar sujo e deixa
de ter fome. Até as crianças já lhe fazem festas.
Cuidaram do cão porque o cão não sabe cuidar de si--não saber cuidar
de si é ser cão.
Ora eu não queria que cuidassem de mim, mas gostava que me
ajudassem, para eu não estar assim, para que fosse eu o dono de mim,
para que os que me vissem dissessem: Que bem que aquele soube
cuidar de si!
* * * * *
Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como se
diz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: olha uma arvore!
quando ha uma arvore. Assim, inteiro, sem adjectivos, só de uma peça:
Um homem!
* * * * *
Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma
era para copiar.
Como o livro, as pessoas tinham principio, meio e fim. A principio o
livro chamava-me, no meio o livro deu-me a mão, no fim fiquei com a
mão suada do livro de me ter estendido a mão.
Talvez que nos outros livros... mas os titulos dos livros são como os
nomes das pessoas--não quere dizer nada, é só para não se confundir...
* * * * *
Na montra estava um livro chamado «O lial conselheiro». Escrito
antigamente por um Rei dos Portuguezes! Escrito de uma só maneira
para todas as especies de seus vassalos!
Bemdito homem que foi na verdade Rei! O Mestre que quere que eu
seja Mestre!

Eu acho que todos os livros deviam chamar-se assim: «O lial
conselheiro»! Não achas, Mãe?
O Mestre escreveu o que sabia--por isso ele foi Mestre. As palavras
tornaram presentes como o Mestre fazia atenção. Estas palavras
ficaram escritas por causa dos outros tambem.
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